Flory Kruger
Toda família é um aparato de gozo e é nesse campo no qual se jogam os assuntos de família. Trata-se, então, de retomar esses assuntos buscando iluminar e recortar a forma singular do gozo de cada um. Quando falamos de novas configurações familiares, nos referimos às mudanças que se produziram na estrutura clássica da família tradicional de matrimônio: pai e mãe com seus filhos.
Ernesto Sinatra
“[…] abrindo a via do sinthoma – poderíamos dizê-lo assim -, família se torna as marcas do Outro em Uno. Contudo, ao enunciá-lo assim, quase faríamos coincidir “família” com “fantasia”; mas agora, trata-se da fantasia privada e de seu ser passional, das investiduras do sentido com que cada Uno extraía o gozo a partir do Outro, com sua pata no Outro familiar. Esse desprendimento é a operação de torção que aguarda cada um em uma análise, para reduzir o gozo da família como Outro ao gozo singular do Uno, indiciado por um desejo visível”.
Cartas – Fragmentos: Sigmund Freud/ Salvador Dalí/ James Joyce
1- Viena, 26 de julho de 1914
– Minha querida Anna
Li todas as notícias sobre tua pequena viagem pelo mundo com grande interesse. Acabo de receber teu telegrama sobre tua chegada em Londres e o comentario “recebida pelo Dr. Jones” me leva a sugerir-te algo que havia reservado para mais tarde.
Fui informado, pelas melhores fontes, de que o Dr. Jones tem sérias intenções de te cortejar. É a primeira vez que isso acontence em tua vida e não quero privá-la da liberdade da qual desfrutaram tuas irmãs mais velhas. Ocorre, porém, que sempre viveste mais perto de nós do que elas, e tenho a esperança de que se torne mais difícil para ti do que para elas tomar uma decisão sobre tua vida sem estar antes segura de nossa (neste caso: minha) aprovação.
Teu pai
Freud, S., (2014), Correspondencia 1904-1938, Vol. 1., Buenos Aires: Paidós.
2 – A morte de minha mãe me desesperou. Ela era a única que podia transformar minha alma. Senti sua perda como um desafio e resolvi me vingar do destino me esforçando para ser imortal.
Dalí o imortal
Dalí, S., (1975), Confesiones inconfesables, Barcelona: Bruguera.
3 – O menino ainda não tem nome, apesar de que na próxima quinta-feira completará dois meses. […] Espero, em Deus, que não tenha que ser indulgente comigo, quando comece a pensar. Acredito que deveria permitir-se a um filho adotar o sobrenome de seu pai ou da sua mãe, segundo seu desejo. A paternidade é uma ficção legal.
Tu hermano,
James Joyce
Joyce, J., (1982), Cartas escogidas, Vol. 1, Barcelona: Lumen.