“…Não digo na família (…). Toda a questão é saber o que é no complexo de Édipo”[1]
A frase sobre a qual me convidaram a pensar, me leva à pergunta feita por alguns pacientes acerca da importância de conhecer a origem, no caso da concepção por meio da fertilização assistida, e se esta modalidade incide, ou não, no modo de fazer família. A busca biológica da paternidade, a doação de gametas e barriga de aluguel incidiram sobre a? Muda, hoje, o que sabemos sobre o que é o pai, como função, no que constitui a família?
Desde a concepção psicanalítica, podemos afirmar que o que faz família no inconsciente é o enodamento do amor, do desejo e do gozo. Para Lacan, o problema central do parlêtre, do ser falante, é que nasce do mal-entendido. Somos filhos de dois que não se entendem nem se escutam, mas, mesmo assim, falam, desejam e gozam.
Lacan[2], ao ver o fracasso das utopias comunitárias, nos lembra a seguinte dimensão: a função que há um tempo sustenta e mantém a família conjugal na evolução das sociedades rssalta o irredutível de uma transmissão na constituição subjetiva que implica a relação com um desejo que não seja anônimo.
Sabemos que a contingência da vida não obedece ao programa genético, mas sim ao que faz família no inconsciente. O pai, sua função, é a encarnação da lei no desejo. O real da reprodução se encontra separado da filiação. Portanto, será preciso ocupar-se de investigar na singularidade de cada caso. O Enapol será uma boa oportunidade para conversar!
NOTAS
- Lacan J., Las formaciones del inconsciente, Libro 5, “La metáfora paterna”, cap. IX, Buenos Aires, 1999, Paidós, p.178.
- Lacan, J., “Dos Notas sobre el niño”, Intervenciones y textos 2, Manantial, Bs.As.1991, p56.