zão de seu alijamento do mundo – embora, em um plano imaginário, mutualismo seja um termo útil que recolhe a ausência do Outro na estruturação do sujeito e seu corpo. O enigma do desejo não se inscreve nele, e por ele, ele cai petrificado como uma coisa. Entretanto, são notáveis os esforços desse sujeito para construir um corpo e estabelecer funções. Do objeto que é para o mundo consegue extrair, por meio da máquina a que se “conecta” uma dinâmica entre máquinas, com pares de significantes que organizam diferenças e estabelecem uma ordem. Assim, com o apoio de Bettelheim, Joey vai fazendo surgir significantes que conecta, dando algum sentido. Pouco a pouco vai produzindo um objeto condensador de gozo com o qual põe certa distância ao gozo invasivo do Outro.
Então, seguindo Dominique e Gerard Miller em sua revisão do caso em 1984[8], podemos dizer que a máquina é um objeto que Joey converte em seu sintoma, ou talvez seria mais apropriado dizer que o converte em sintoma. Com funções de suplência, estabelece uma borda que opera como superfície corporal, embora de forma diferente da borda que efetua a extração de objeto, e com funções de representação ante o Outro: desconectado não existia como humano, conectado existia como máquina. É um sintoma que condensa gozo, identifica o sujeito e, ao mesmo tempo, enlaça algo de sua realidade psíquica.
Embora sem o extremo de Joey, será que o discurso dominante não está já dando empuxo a uma versão inédita do homem máquina?
Notas
- A expressão é de Daniel Millas. Ver nota 6.
- Lacan Jacques, Libro 10, La angustia, Paidós, Buenos Aires, 2006, p. 339
- ídem, p. 342
- Lacan, J. Libro 23, Joyce el síntoma, Paidós, Buenos Aires, 2006, p.147
- ídem
- Millas, Daniel, Cuerpos poseídos. En Virtualia número 23. (2013) http://virtualia.eol.org.ar/026/Hacia-el-VI-Enapol/pdf/Cuerpos-poseidos.pdf
- Bettelheim, Bruno,The Empty Fortress: Infantile Autism and the Birth of the Self, The Free Press, New York, 1967
- Dominique y Gerard Miller, “El niño máquina”, Analítica 5, ECFC, Caracas 1984