Uma manhã deparei-me com estas pegadas. Ressoaram imediatamente como um assunto de família, caminhos sobrepostos, contrários, próximos, distantes que como pegadas indeléveis inscrevem bordas incertas e efêmeras.

Lhes envio estas imagens e uma pequena colocação.

O que faz da psicanálise o lugar onde as pessoas vem nos falar das marcas do parentesco, de suas lembranças de infância, daquilo que foi dito em algum lugar e do sentido que receberam?

Vem depois de anos sustentando na memória eventos, situações, enfim, palavras que marcaram um destino. Uma memória que tem fixado nela encontros e desencontros familiares que como pegadas impressas escrevem uma biografia antecipada: as coisas se deram como se deram, com idas e voltas, mas assim, sem equívocos, nem tropeços, não despertando dessa crença.

Mas Lacan nos adverte que existem umas palavras, que não se compreendem, mas que fizeram corpo. Essas que sustentam a prática da psicanálise na via de “se aproximar de como operam” para tentar alcançar o real.
Felizmente, há um furo!

Ler esses efeitos de sentido, que encobrem imediatamente que há um furo… quando se patina, permitem diferenciar a invenção da memória.
E é a neutralidade do analista ao orientar as coisas de outro modo, subversão de sentido, que troca o sentido pelo real.

Há pegadas e também o vento… que faz com que cometamos gafes.
Enfim são só “assuntos de família” escritos na areia.