ÓDIO/ODIO
FREUD, S. Capítulo IV: O Mecanismo do prazer e a psicogênese dos chistes. In: VOL. VIII – Os chistes e sua relação com o inconsciente (1905). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Um chiste é agora enfocado como um fator psíquico munido de poder: seu peso, avaliado em uma ou outra escala, pode ser decisivo. Os principais propósitos e instintos da vida mental empregam-no para seus próprios fins.(…) Para propósitos agressivos, empregar o mesmo método para tornar o ouvinte, inicialmente indiferente, em correligionário de seu ódio ou desprezo, criando para o inimigo um pugilo de oponentes quando, de início, só existia um único.”
FREUD, S. Capítulo VIII: Moral sexual civilizada e doença nervosa moderna(1908). In: VOL. IX – “Gradiva” de Jensen e outros trabalhos (1906 – 1908). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Uma esposa neurótica, insatisfeita, torna-se uma mãe excessivamente terna e ansiosa, transferindo para o filho sua necessidade de amor. Dessa forma ela o desperta para a precocidade sexual. Além disso, o mau relacionamento dos pais excita a vida emocional da criança, fazendo-a sentir amor e ódio em graus muito elevados ainda em tenra idade. Sua educação rígida, que não tolera qualquer atividade dessa vida sexual precocemente despertada, vai em auxílio da força supressora e esse conflito, em idade tão tenra, fornece todos os elementos necessários ao aparecimento de uma doença nervosa que durará toda a vida.”
FREUD, S. Capítulo II: Notas sobre um caso de neurose obsessiva (1909). In: VOL. X – Duas histórias clínicas: O “Pequeno Hans” e o “Homem dos ratos” (1909). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Para confirmar, o ódio precisa ter uma fonte, e descobrir essa fonte era certamente um problema; suas próprias afirmações indicavam a época em que ele temia que seus pais adivinhassem seus pensamentos. Por outro lado, também se poderia perguntar por que esse seu amor intenso não lograra extinguir seu ódio, como de praxe acontecia quando não havia dois impulsos antagônicos. Apenas poderíamos presumir que o ódio deve fluir de alguma fonte, que deve estar relacionado com alguma causa particular que o tornasse indestrutível. Por um lado, então, alguma conexão dessa espécie deve estar mantendo vivo seu ódio pelo pai, ao passo que, por outro lado, o seu intenso amor o impedia de tornar-se consciente. Por conseguinte, nada restou para ele, a não ser existir no inconsciente, embora fosse, vez ou outra, capaz de irradiar-se, por instantes, para dentro da consciência.”
“A dúvida contida em sua obsessão por compreensão era uma dúvida de seu (dela) amor. No peito do amante enfurecia-se a batalha entre amor e ódio, e o objeto desses dois sentimentos era a única e mesma pessoa.”
“Atos compulsivos como este, em dois estádios sucessivos, quando o segundo neutraliza o primeiro, constituem uma típica ocorrência nas neuroses obsessivas. Naturalmente a consciência do paciente interpreta-os mal e formula um conjunto de motivações secundárias que os explica – em suma, que os racionaliza. (Cf. Jones, 1908.) Sua real significação, contudo, reside no fato de serem eles representação de um conflito entre dois impulsos opostos de força aproximadamente igual; e, até agora, tenho achado, invariavelmente, que esta se trata de uma oposição entre o amor e o ódio.”
“Podemos considerar a repressão de seu ódio infantil contra o pai como o evento que colocou todo o seu modo de vida subsequente sob o domínio da neurose.”
“Os conflitos de sentimentos em nosso paciente, os quais aqui enumeramos separadamente, não eram independentes um do outro, mas coligados em pares. Seu ódio pela dama estava inevitavelmente ligado a seu afeiçoamento ao pai, e, de modo inverso, seu ódio pelo pai com seu afeiçoamento à dama. Contudo, ambos os conflitos de sentimento resultantes dessa simplificação – ou seja, a oposição entre sua relação com seu pai e com sua dama, e a contradição entre seu amor e seu ódio dentro de cada uma dessas relações – não possuíam a mínima conexão entre si, quer em seu conteúdo quer em sua origem.”
“O outro conflito, entre o amor e o ódio, atinge-nos com uma estranheza maior. Sabemos que o amor incipiente com frequência é percebido como o próprio ódio, e que o amor, se se lhe nega satisfação, pode, com facilidade, ser parcialmente convertido em ódio; os poetas nos dizem que nos mais tempestuosos estádios do amor os dois sentimentos opostos podem subsistir lado a lado, por algum tempo, ainda que em rivalidade recíproca. Mas a coexistência crônica de amor e ódio, ambos dirigidos para a mesma pessoa e ambos com o mesmo elevadíssimo grau de intensidade, não pode deixar de assombrar-nos. Seria de esperar que o amor apaixonado tivesse, há muito tempo atrás, conquistado o ódio ou por ele sido absorvido. E, com efeito, uma tal sobrevivência protelada dos dois opostos só é possível sob condições psicológicas bastante peculiares e com a cooperação do estado de coisas presentes no inconsciente. O amor não conseguiu extinguir o ódio, mas apenas reprimi-lo no inconsciente; e no inconsciente o ódio, protegido do perigo de ser destruído pelas operações do consciente, é capaz de persistir e, até mesmo, de crescer. Em tais circunstâncias, o amor consciente alcança, via de regra, mediante uma reação, um sobremodo elevado grau de intensidade, de maneira a ficar suficientemente forte para a eterna tarefa de manter sob repressão o seu oponente. A condição necessária para a ocorrência de um estado de coisas tão estranho na vida erótica de uma pessoa parece ser que, numa idade realmente precoce, em algum lugar no período pré-histórico de sua infância, ambos os opostos ter-se-iam separado e um deles, habitualmente o ódio, teria sido reprimido.”
“O ódio, sobretudo, conservando-se suprimido no inconsciente por ação do amor, desempenha um grande papel na patogênese da histeria e da paranoia. Conhecemos muito pouco a natureza do amor para sermos capazes de chegar, aqui, a alguma conclusão definitiva; ademais, particularmente, a relação entre o fator negativo no amor e os componentes sádicos da libido permanece inteiramente obscura. O que vem a seguir deve, por conseguinte, ser visto como nada mais além de uma explicação de caráter provisório. Podemos supor, então, que nos casos de ódio inconsciente com os quais nos preocupamos agora os componentes sádicos do amor têm sido, partindo das causas constitucionais, desenvolvidos de modo excepcionalmente intenso, e, em consequência disso, sofrido uma supressão prematura e profundamente radical, e que os fenômenos neuróticos que observamos se originam, de um lado, dos sentimentos conscientes de afeição que ficaram exacerbados como se fossem uma reação, e, por outro lado, do sadismo que persiste no inconsciente sob a forma de ódio.”
“Não obstante, sem ligar para o modo como essa notável relação entre o amor e o ódio deva ser explicada, seu aparecimento é estabelecido, sem sombra de dúvida, pelas observações feitas no atual caso; ademais, é gratificante descobrir com que facilidade podemos, agora, acompanhar os enigmáticos processos de uma neurose obsessiva fazendo-os relacionarem-se com esse fator. Se a um amor intenso se opõe um ódio de força quase equivalente e que, ao mesmo tempo, esteja inseparavelmente vinculado a ele, as consequências imediatas serão certamente uma paralisia parcial da vontade e uma incapacidade de se chegar a uma decisão a respeito de qualquer uma das ações para as quais o amor deve suprir a força motivadora.”
“A dúvida corresponde à percepção interna que tem o paciente de sua própria indecisão, a qual, em consequência da inibição de seu amor através de seu ódio, dele se apossa diante de qualquer ação intencionada. A dúvida é, na realidade, uma dúvida de seu próprio amor – que devia ser a coisa mais exata em sua mente como um todo; e ela se difunde por tudo o mais, sendo formente capaz de ser deslocada para aquilo que é mais insignificante e sem valor. Um homem que duvida de seu próprio amor permite-se, ou, antes, tem de duvidar de alguma coisa de menor valor.”
FREUD, S. Capítulo IV: Leonardo da Vinci e uma lembrança da sua infância. In: VOL. XI – Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos (1910[1909]). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Parecia, assim, forçosamente, indiferente ao bem e ao mal, ao belo e ao horrível. Durante esse trabalho de pesquisa, o amor e o ódio se despiam de suas formas positivas ou negativas e ambos se transformavam apenas em objeto de interesse intelectual. Na verdade, Leonardo não era insensível à paixão; não carecia da centelha sagrada que é direta ou indiretamente a força motora – il primo motore – de qualquer atividade humana.”
“A transformação da força psíquica instintiva em várias formas de atividade, da mesma maneira que a transformação das forças físicas, não poderia ser realizada sem prejuízo. O exemplo de Leonardo mostra-nos quantas outras coisas precisam ser consideradas com relação a estes processos. O adiamento do amor até o seu pleno conhecimento constitui um processo artificial que se transforma em uma substituição. De um homem que consegue chegar até o conhecimento não se poderá dizer que ama ou odeia; situa-se além do amor e do ódio. Terá pesquisado em vez de amar.”
FREUD, S. Capítulo V: As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica. In: VOL. XI – Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos (1910[1909]). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“O sucesso que o tratamento pode ter com o indivíduo, deve ocorrer, igualmente, com a comunidade. As pessoas doentes não serão capazes de deixar que as suas diversas neuroses se tornem conhecidas – a sua ansiosa superternura que tem em mira ocultar-lhe o ódio, a sua agorafobia que se relaciona com a ambição frustrada, as suas atitudes obsessivas que representam auto-censuras por más intenções e precauções contra as mesmas – se todos os seus parentes e cada estranho, dos quais desejam ocultar os seus processos mentais, conheceram o significado geral de tais sintomas, e se eles próprios souberem que, nas manifestações de sua doença, nada estão produzindo que outra pessoa, imediatamente, não possa interpretar.”
FREUD, S. Capítulo VII: Um tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens (contribuições à psicologia do amor). In: VOL. XI – Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos (1910[1909]). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Ele começa a desejar a mãe para si mesmo, no sentido com o qual, há pouco, acabou de se inteirar, e a odiar, de nova forma, o pai como um rival que impede esse desejo; passa, como dizemos, ao controle do complexo de Édipo. Não perdoa a mãe por ter concedido o privilégio da relação sexual, não a ele, mas a seu pai, e considera o fato como um ato de infidelidade.”
FREUD, S. Capítulo XIX: A disposição à neurose obsessiva uma contribuição ao problema da escolha da neurose (1913). In: VOL. XII – O caso Schereber, artigos sobre técnica e outros trabalhos (1911-1913). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Se considerarmos que os neuróticos obsessivos têm de desenvolver uma supermoralidade a fim de proteger seu amor objetal da hostilidade que espreita por trás dele, ficaremos inclinados a considerar um certo grau desta precocidade de desenvolvimento do ego como típico da natureza humana e derivar a condição para a origem da moralidade do fato de desenvolvimento, o ódio é o precursor do amor.”
FREUD, S. Capítulo III: Tabu e ambivalência emocional. In: VOL. XIII – Totem e tabu e outros trabalhos (1913-1914). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Dessa maneira, um elemento de desconfiança pode ser encontrado entre as razões para a observância dos tabus que cercam o rei. ‘A idéia’, escreve Frazer (1911b, 7 e segs.), ‘de que os reinos primitivos são despotismos em que o povo existe apenas para o soberano, é inteiramente inaplicável às monarquias que estamos considerando. Pelo contrário, o soberano nelas existe apenas para os seus súditos, sua vida só é valiosa enquanto se desempenha dos deveres de sua posição ordenando o curso da natureza em benefício de seu povo. Assim que fracassa em consegui-lo, o cuidado, a devoção e as homenagens religiosas que até então lhe haviam prodigalizado cessam e se transformam em ódio e desprezo; ele é ignominiosamente posto de lado e pode considerar-se feliz se escapar com vida. Adorado como um deus num dia, é morto como um criminoso no seguinte. Mas nesse comportamento modificado do povo não existe nada de caprichoso ou inconstante. Pelo contrário, sua conduta é inteiramente íntegra. Se o seu rei é seu deus, ele é ou deveria ser também o seu protetor; se não os protege, deve ceder lugar a outro que o faça.”
FREUD, S. Capítulo IV: O retorno do totemismo na infância. In: VOL. XIII – Totem e tabu e outros trabalhos (1913-1914). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“A análise também nos permite descobrir os motivos do deslocamento. O ódio pelo pai que surge num menino por causa da rivalidade em relação à mãe não é capaz de adquirir uma soberania absoluta sobre a mente da criança; tem de lutar contra a afeição e admiração de longa data pela mesma pessoa. A criança se alivia do conflito que surge dessa atitude emocional de duplo aspecto, ambivalente, para com o pai deslocando seus sentimentos hostis e temerosos para um substituto daquele. O deslocamento, no entanto, não pode dar cabo do conflito, não pode efetuar uma nítida separação entre os sentimentos afetuosos e os hostis. Pelo contrário, o conflito é retomado em relação ao objeto para o qual foi feito o deslocamento: a ambivalência é estendida a ele.”
“Muitas vezes tive ocasião de assinalar que a ambivalência emocional, no sentido próprio da expressão – ou seja, a existência simultânea de amor e ódio para os mesmos objetos – jaz na raiz de muitas instituições culturais importantes. Não sabemos nada da origem dessa ambivalência. Uma das pressuposições possíveis é que ela seja um fenômeno fundamental de nossa vida emocional. Mas parece-me bastante válido considerar outra possibilidade, ou seja, que originalmente ela não fazia parte de nossa vida emocional, mas foi adquirida pela raça humana em conexão com o complexo-pai, precisamente onde o exame psicanalítico de indivíduos modernos ainda a encontra revelada em toda a sua força.”
FREUD, S. Capítulo IV: Os instintos e suas vicissitudes (1915). In: VOL. XIV – A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Encontram-se exemplos do primeiro processo nos dois pares de opostos: sadismo-masoquismo e escopofilia-exibicionismo. A reversão afeta apenas as finalidades dos instintos. A finalidade ativa (torturar, olhar), é substituída pela finalidade passiva (ser torturado, ser olhado). A reversão do conteúdo encontra-se no exemplo isolado da transformação do amor em ódio.”
“A mudança do conteúdo de um instinto em seu oposto só é observada num exemplo isolado – a transformação do amor em ódio. Visto ser particularmente comum encontrar ambos dirigidos simultaneamente para o mesmo objeto, sua coexistência oferece o exemplo mais importante de ambivalência de sentimento.”
“O caso de amor e ódio adquire especial interesse pela circunstância de que se recusa a ajustar-se a nosso esquema dos instintos. É impossível duvidar de que exista a mais íntima das relações entre esses dois sentimentos opostos e a vida sexual, mas naturalmente relutamos em pensar no amor como sendo uma espécie de instinto componente específico da sexualidade, da mesma forma que os outros que vimos examinando. Preferiríamos considerar o amor como sendo a expressão de toda a corrente sexual de sentimento, mas essa ideia não elucida nossas dificuldades e não podemos ver que significado poderia ser atribuído a um conteúdo oposto dessa corrente.”
“Como já vimos, o objeto é levado do mundo externo para o ego, a princípio, pelos instintos de autopreservação; não se pode negar que também o odiar, originalmente, caracterizou a relação entre o ego e o mundo externo alheio com os estímulos que introduz. A indiferença se enquadra como um caso especial de ódio ou desagrado, após ter aparecido inicialmente como sendo seu precursor. Logo no começo, ao que parece, o mundo externo, objetos e o que é odiado são idênticos. Se depois um objeto b\vem a ser uma fonte de prazer, ele é amado, mas é também incorporado ao ego, de modo que para o ego do prazer purificado mais uma vez os objetos coincidem com o que é estranho e odiado.”
“Agora, contudo, podemos notar que da mesma forma que o par de opostos amor-indiferença reflete a polaridade ego-mundo externo, assim também a segunda antítese amor-ódio reproduz a polaridade prazer-desprazer, que está ligada à primeira polaridade… se o objeto for uma fonte de sensações desagradáveis, há uma ânsia (urge) que se esforça por aumentar a distância entre o objeto e o ego, e a repetir em relação ao objeto a tentativa original de fuga do mundo externo com sua emissão de estímulos. Sentimos a ‘repulsão’ do objeto, e o odiamos; esse ódio pode depois intensificar-se ao ponto de uma inclinação agressiva contra o objeto – uma intenção de destruí-lo.”
“Poderíamos, num caso de emergência, dizer que um instinto ‘ama’ o objeto no sentido do qual ele luta por propósitos de satisfação, mas dizer que um instinto ‘odeia’ um objeto, nos parece estranho. Assim, tornamo-nos cônscios de que as atitudes de amor e ódio não podem ser utilizadas para as relações entre os instintos e seus objetos, mas estão reservadas para as relações entre o ego total e os objetos. Mas, se considerarmos o uso lingüístico, que por certo não é destituído de significação, veremos que há outra limitação ao significado do amor e do ódio.”
“É digno de nota que no uso da palavra ‘ódio’ não aparece essa conexão íntima com o prazer sexual e a função sexual. A relação de desprazer parece ser a única decisiva. O ego odeia, abomina e persegue, com intenção de destruir, todos os objetos que constituem uma fonte de sensação desagradável para ele, sem levar em conta que significam uma frustração quer da satisfação sexual, quer da satisfação das necessidades autopreservativas. Realmente, pode-se asseverar que os verdadeiros protótipos da relação de ódio se originam não da vida sexual, mas da luta do ego para preservar-se e manter-se.”
“Vemos, assim, que o amor e o ódio, que se nos apresentam como opostos completos em seu conteúdo, afinal de contas não mantêm entre si uma relação simples. Não surgiram da cisão de uma entidade originalmente comum, mas brotaram de fontes diferentes, tendo cada um deles se desenvolvido antes que a influência da relação prazer-desprazer os transformasse em opostos.”
“O ódio, enquanto relação com objetos, é mais antigo que o amor. Provém do repúdio primordial do ego narcisista ao mundo externo com seu extravasamento de estímulos. Enquanto expressão da reação do desprazer evocado por objetos, sempre permanece numa relação íntima com os instintos autopreservativos, de modo que os instintos sexuais e os do ego possam prontamente desenvolver uma antítese que repete a do amor e do ódio. Quando os instintos do ego dominam a função sexual, como é o caso na fase da organização anal-sádica, eles transmitem as qualidades de ódio também à finalidade instintual.”
“A história das origens e relações do amor nos permite compreender como é que o amor com tanta freqüência se manifesta como ‘ambivalente’ – isto é, acompanhado de impulsos de ódio contra o mesmo objeto. O ódio que se mescla ao amor provém em parte das fases preliminares do amar não inteiramente superadas; baseia-se também em parte nas reações de repúdio aos instintos do ego, os quais, em vista dos freqüentes conflitos entre os interesses do ego e os do amor, podem encontrar fundamentos em motivos reais e contemporâneos. Em ambos os casos, portanto, o ódio mesclado tem como sua fonte os instintos auto-preservativos. Se uma relação de amor com um dado objeto for rompida, freqüentemente o ódio surgirá em seu lugar, de modo que temos a impressão de uma transformação do amor em ódio. Esse relato do que acontece leva ao conceito de que o ódio, que tem seus motivos reais, é aqui reforçado por uma regressão do amor à fase preliminar sádica, de modo que o ódio adquire um caráter erótico, ficando assegurada a continuidade de uma relação de amor.”
FREUD, S. Capítulo VI: O inconsciente (1915). In: VOL. XIV – A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Na prática psicanalítica, porém, estamos habituados a falar de amor, ódio, ira etc. inconscientes, e achamos impossível evitar até mesmo a estranha conjunção ‘consciência inconsciente de culpa’, ou uma ‘ansiedade inconsciente’ paradoxal. Haverá mais sentido em empregar esses termos do que em falar de ‘instintos inconscientes’?”
FREUD, S. Capítulo VIII: Luto e melancolia (1917[1915]). In: VOL. XIV – A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“A autotortura na melancolia, sem dúvida agradável, significa, do mesmo modo que o fenômeno correspondente na neurose obsessiva, uma satisfação das tendências do sadismo e do ódio relacionadas a um objeto, que retornaram ao próprio eu do indivíduo nas formas que vimos examinando. Via de regra, em ambas as desordens, os pacientes ainda conseguem, pelo caminho indireto da autopunição, vingar-se do objeto original e torturar o ente amado através de sua doença, à qual recorrem a fim de evitar a necessidade de expressar abertamente sua hostilidade para com ele.”
“Na melancolia, em conseqüência, travam-se inúmeras lutas isoladas em torno do objeto, nas quais o ódio e o amor se digladiam; um procura separar a libido do objeto, o outro, defender essa posição da libido contra o assédio. A localização dessas lutas isoladas só pode ser atribuída ao sistema Ics., a região dos traços de memória de coisas (em contraste com as catexias da palavra).”
FREUD, S. Capítulo XI: Reflexões para os tempos de guerra e morte. In: VOL. XIV – A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“…as nações civilizadas se conhecem e se compreendem tão pouco, que uma pode voltar-se contra a outra com ódio e asco.”
“Estes lhes servem, na melhor das hipóteses, como racionalizações de suas paixões; elas exprimem seus interesses a fim de poderem apresentar razões para satisfazerem suas paixões. Sem dúvida, constituem mistério os motivos pelos quais, na coletividade de indivíduos, estes devem de fato desprezar-se, odiar-se e detestar-se mutuamente – cada nação contra outra nação -, inclusive em épocas de paz.”“O exemplo mais facilmente observado e compreensível disso reside no fato de que o amor intenso e o ódio intenso são, com tanta frequência, encontrados juntos na mesma pessoa. A psicanálise acrescenta que esses dois sentimentos opostos, não raramente, têm como objeto a mesma pessoa.”“Realmente, é estranho tanto à nossa inteligência quanto a nossos sentimentos aliar assim o amor ao ódio; mas a Natureza, fazendo uso desse par de opostos, consegue manter o amor sempre vigilante e renovado, a fim de protegê-lo contra o ódio que jaz, à espreita, por detrás dele. Poder-se-ia dizer que devemos as mais belas florações de nosso amor à reação contra o impulso hostil que sentimos dentro de nós.”
FREUD, S. Capítulo I: Teoria geral das neuroses (1917 [1916-17]). In: VOL. XVI – Conferências introdutórias sobre psicanálise (Parte III) (1916-1917). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Este, com novo apoio obtido a partir do sentimento egoístico de haver sido prejudicado, dá fundamento a que os novos irmãos e irmãs sejam recebidos com aversão, e faz com que, sem hesitações, sejam, em desejos, eliminados. Também é verdade que, via de regra, as crianças são muito mais capazes de expressar verbalmente esses sentimentos de ódio, do que aqueles decorrentes do complexo parental. Se um desejo desse tipo se realiza, e se o irmão que se acrescentou à família desaparece novamente, logo depois, devido à sua morte, podemos descobrir, numa análise subsequente, quão importante foi para a criança essa experiência referente à morte, embora ela não tenha necessariamente permanecido fixada em sua memória.”
“No caso de um neurótico, até mesmo surge a questão de saber se esse recuar para o passado é totalmente não-intencional; de ora em diante, teremos de descobrir as razões disso, e teremos de, no geral, considerar atentamente o fato do ‘fantasiar retrospectivo’. Facilmente podemos verificar também que o ódio ao pai é reforçado por diversos fatores que surgem de épocas e circunstâncias posteriores, e que os desejos sexuais dirigidos à mãe assumem formas tais, que devem ter sido estranhos até mesmo para uma criança.”“… a paranoia persecutória é a forma da doença na qual uma pessoa se defende contra um impulso homossexual que se tornou por demais intenso. A mudança de afeição em ódio, a qual, conforme já se sabe, pode tornar-se séria ameaça à vida do objeto amado e odiado, corresponde, nesses casos, à transformação dos impulsos libidinais em ansiedade, que é o resultado constante do processo de repressão.”“Daí podemos concluir que o melancólico, na realidade, retirou do objeto sua libido, mas que, por um processo que devemos chamar de ‘identificação narcísica’, o objeto se estabeleceu no ego, digamos, projetou-se sobre o ego. (Aqui posso apenas fazer-lhes uma descrição figurada e não uma exposição ordenada em linhas topográficas e dinâmicas.) o ego da pessoa então é tratado à semelhança do objeto que foi abandonado e é submetido a todos os atos de agressão e expressões de ódio vingativo, anteriormente dirigidos ao objeto. A tendência do melancólico para o suicídio torna-se mais compreensível se considerarmos que o ressentimento do paciente atinge de um só golpe seu próprio ego e o objeto amado e odiado. Na melancolia, bem como em outros distúrbios narcísicos, emerge, com acento especial, um traço particular na vida emocional do paciente – aquilo que, de acordo com Bleuler, nos acostumamos a descrever como ‘ambivalência’. Com isso queremos significar que estão sendo dirigidos à mesma pessoa sentimentos contrários – amorosos e hostis.”
FREUD, S. Capítulo II: Psicologia de grupo e a análise do ego (1921). In: VOL. XVIII – Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos (1925-1926). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“O líder ou a ideia dominante poderiam também, por assim dizer, ser negativos; o ódio contra uma determinada pessoa ou instituição poderia funcionar exatamente da mesma maneira unificadora e evocar o mesmo tipo de laços emocionais que a ligação positiva. Surgiria então a questão de saber se o líder é realmente indispensável à essência de um grupo, e outras ainda, além dessa.”
FREUD, S. Capítulo II: Alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranóia e no homossexualismo (1922). In: VOL. XVIII – Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos (1925-1926). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Além do mais, é digno de nota que, em certas pessoas, ele é experimentado bissexualmente, isto é, um homem não apenas sofrerá pela mulher que ama e odiará o homem seu rival, mas também sentirá pesar pelo homem, a quem ama inconscientemente, e ódio pela mulher, como sua rival; esse último conjunto de sentimentos adicionar-se-á à intensidade de seu ciúme.”
“A não ser quando nos sentimos inteiramente indiferentes ao passante, quando se pode tratá-lo como se fosse ar e, considerando também o parentesco fundamental dos conceitos de ‘estranho’ e ‘inimigo’, o paranóico não se acha tão errado em considerar essa indiferença como ódio, em contraste com sua reivindicação de amor.”
FREUD, S. Capítulo II: Uma neurose demoníaca do século XVII (1923 [1922]). In: VOL. XIX – O ego e o ID e outros trabalhos (1923-1925). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Se pudéssemos conhecer tanto sobre Christoph Haizmann quanto conhecemos sobre um paciente que faz análise conosco, seria assunto fácil trazer à tona essa ambivalência, fazê-lo recordar quando e em face de quais provocações ele encontrou motivos para temer e odiar o pai, e acima de tudo, descobrir quais foram os fatores acidentais que se acrescentaram aos motivos típicos para o ódio ao pai, inerentes ao relacionamento natural de filho e pai. Talvez pudéssemos então encontrar uma explicação especial para a inibição do pintor no trabalho. É possível que seu pai se tivesse oposto ao seu desejo de se tornar pintor. Se assim foi, sua incapacidade de exercer sua arte após a morte do pai seria, por um lado, expressão do conhecido fenômeno de ‘obediência adiada’ e, por outro, tornando-o incapaz de ganhar a vida, seria compelida a aumentar seu anseio pelo pai como protetor contra os cuidadosda vida. Em seu aspecto de obediência adiada, seria também expressão de remorso e uma autopunição bem-sucedida.”
FREUD, S. Capítulo II: Inibições, sintomas e ansiedade (1926 [1925]). In: VOL. XX – Um estudo autobiográfico, Inibições, sintomas e ansiedade, A questão da análise leiga e outros trabalhos (1925-1926). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Ele se encontrava, à época, na atitude edipiana ciumenta e hostil em relação ao pai, a quem, não obstante – salvo até onde a mãe dele era a causa de desavença -, amava ternamente. Aqui, então, temos um conflito devido à ambivalência: um amor bem fundamentado e um ódio não menos justificável dirigidos para a mesmíssima pessoa. A fobia de ‘Little Hans’ deve ter sido uma tentativa de solucionar esse conflito. Conflitos dessa natureza devidos à ambivalência são muito freqüentes epodem ter outro resultado típico, no qual um dos dois sentimentos conflitantes (em geral o da afeição) se torna imensamente intensificado e o outro desaparece.”
FREUD, S. Capítulo II: O mal-estar na civilização (1930 [1929]) . In: VOL. XXI – O Futuro de uma Ilusão, O mal-estar na civilização e outros trabalhos (1927-1931). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Não meramente esse estranho é, em geral, indigno de meu amor; honestamente, tenho de confessar que ele possui mais direito a minha hostilidade e, até mesmo, meu ódio. Não parece apresentar o mais leve traço de amor por mim e não demonstra a mínima consideração para comigo.”
“Não há dúvida de que esse caso nos explicaria o segredo do sentimento de culpa e poria fim às nossas dificuldades. E acredito que o faz. Esse remorso constituiu o resultado da ambivalência primordial de sentimentos para com o pai. Seus filhos o odiavam, mas também o amavam. Depois que o ódio foi satisfeito pelo ato de agressão, o amor veio para o primeiro plano, no remorso dos filhos pelo ato. Criou o superego pela identificação com o pai; deu a esse agente o poder paterno, como uma punição pelo ato de agressão que haviam cometido contra aquele, e criou as restrições destinadas a impedir uma repetição do ato.”
FREUD, S. Capítulo VI: Dostoievski e o parricídio (1928 [1927]) . In: VOL. XXI – O Futuro de uma Ilusão, O mal-estar na civilização e outros trabalhos (1927-1931). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“O relacionamento de um menino com o pai é, como dizemos, ‘ambivalente’. Além do ódio que procura livrar-se do pai como rival, certa medida de ternura por ele também está habitualmente presente.”
“O menino entende que também deve submeter-se à castração, se deseja ser amado pelo pai como se fosse uma mulher. Dessa maneira, ambos dos impulsos, o ódio pelo pai e o amor pelo pai, experimentam repressão. Há certa distinção psicológica do fato de o ódio pelo pai ser abandonado por causa do temor a um perigo externo (castração), ao passo que o amor pelo pai é tratado como um perigo interno, embora, fundamentalmente, remonte ao mesmo perigo externo.”
“O que torna inaceitável o ódio pelo pai é o temor a este; a castração é terrível, seja como punição ou como preço do amor. Dos dois fatores que reprimem o ódio pelo pai, o primeiro, ou seja, o medo direto da punição e da castração pode ser chamado de anormal; sua intensificação patogênica só parece surgir com o acréscimo do segundo fator, o temor à atitude feminina. Dessa maneira, uma forte disposição bissexual inata se torna uma das precondições ou reforços da neurose.”
“Mas o que foi dito até agora não esgota as consequências da repressão do ódio pelo pai no complexo de Édipo. Há algo de novo a ser acrescentado, a saber: que, apesar de tudo, a identificação com o pai finalmente constrói um lugar permanente para si mesma no ego. É recebida dentro deste, mas lá se estabelece como um agente separado, em contraste com o restante do conteúdo do ego. Damos-lhe então o nome de superego e atribuímos-lhe, como herdeiro da influência parental, as funções mais importantes.”
FREUD, S. Capítulo X: Sexualidade feminina (1931) . In: VOL. XXI – O Futuro de uma Ilusão, O mal-estar na civilização e outros trabalhos (1927-1931). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“É apenas na criança do sexo masculino que encontramos a fatídica combinação de amor por um dos pais e, simultaneamente, ódio pelo outro, como rival. No caso dela, é a descoberta da possibilidade de castração, tal como provada pela visão dos órgãos genitais femininos, que impõe ao menino a transformação de seu complexo de Édipo e conduz à criação de seu superego, iniciando assim todos os processos que se destinam a fazer o indivíduo encontrar lugar na comunidade cultural.”
“É característico dos neuróticos obsessivos que, em seus relacionamentos objetais, o amor e o ódio se contrabalancem mutuamente.”
“Não podemos chegar ao ponto de afirmar que a ambivalência de catexias emocionais seja uma lei universalmente válida, e que seja absolutamente impossível sentir grande amor por uma pessoa sem que esse amor seja acompanhado por um ódio talvez igualmente grande, ou vice-versa. Sem dúvida, os adultos normais conseguem separar essas duas atitudes uma da outra, e não estão obrigados a odiar seus objetos amorosos ou a amar seus inimigos tanto quanto a odiá-los.”
FREUD, S. Capítulo III: Por que a guerra? (Einstein e Freud) (1933 [1932]). In: VOL. XXII – Novas conferências introdutórias sobre psicanálise e outros trabalhos (1932-1936). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“De acordo com nossa hipótese, os instintos humanos são de apenas dois tipos: aqueles que tendem a preservar e a unir – que denominamos ‘eróticos’, exatamente no mesmo sentido em que Platão usa a palavra ‘Eros’ em seu Symposium, ou ‘sexuais’, com uma deliberada ampliação da concepção popular de ‘sexualidade’ -; e aqueles que tendem a destruir e matar, os quais agrupamos como instinto agressivo ou destrutivo. Como o senhor vê, isto não é senão uma formulação teórica da universalmente conhecida oposição entre amor e ódio, que talvez possa ter alguma relação básica com a polaridade entre atração e repulsão, que desempenha um papel na sua área de conhecimentos. Entretanto, não devemos ser demasiado apressados em introduzir juízos éticos de bem e de mal. Nenhum desses dois instintos é menos essencial do que o outro; os fenômenos da vida surgem da ação confluente ou mutuamente contrária de ambos.”
INDIGNAÇÃO/INDIGNACIÓN
FREUD, S. Capítulo XI: Atos falhos combinados. In: VOL. VI – Sobre a psicopatologia da vida cotidiana (1901). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“(…) o esquecimento dizia mais ou menos o seguinte: ‘Sacrificar dinheiro eternamente por esse inútil vai acabar me arruinando, a ponto de eu ter que abrir mão de tudo. ’ Embora, no dizer dele, sua indignação diante da notícia tivesse sido apenas momentânea, a repetição do mesmo ato sintomático mostra que ela continuou a atuar intensamente no inconsciente (…)”
FREUD, S. B. Parte sintética, V- Os motivos dos chistes: os chistes como processo social. In: Vol. VIII – Os chistes e sua relação com o inconsciente (1905). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“(…) uma audiência composta de devotados amigos de um meu adversário receberiam meus felizes excertos de invectiva chistosa contra ele, não como chistes, mas como invectivas e eu me defrontaria com sua indignação antes que com seu prazer. Algum grau de benevolência ou uma espécie de neutralidade, uma ausência de qualquer fator que pudesse provocar sentimentos opostos ao propósito do chiste, constitue a condição indispensável para que uma terceira pessoa colabore na completação do processo de realização do chiste”.
FREUD, S. C. Parte teórica, VII – Os chistes e as espécies do cômico. In: Vol. VIII – Os chistes e sua relação com o inconsciente (1905). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“(…) se tomamos o exemplo de um chiste ingênuo como modelo para a outra alternativa (de algo ingênuo que seja objetável) veremos que aí também a economia na inibição pode proceder diretamente da comparação, que não há necessidade de que admitamos uma indignação que se inicia e é então reprimida e que a indignação de fato apenas corresponde à utilização da despesa liberada de outra forma – contra esse fato, no caso dos chistes, há a necessidade de complicadas medidas protetivas”.
FREUD, S. Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen (1907 [1906]). In: Vol. IX – “Gradiva” de Jensen e outros trabalhos (1906-1908). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“A jovem descansava sua mão esquerda, de delicados dedos, sobre os joelhos e uma das moscas, cuja inutilidade e impertinência tanta indignação haviam provocado nele, pousou sobre ela. Num movimento súbito, a mão de Hanold elevou-se no ar para se abater com vigor sobre o inseto e sobre a mão de Gradiva. Essa experiência atrevida teve dois resultados: primeiro, a eufórica convicção de ter, sem dúvida alguma, tocado uma mão humana, real, viva e quente, mas logo em seguida uma reprimenda que o fez levantar-se … ”.
FREUD, S. Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia (dementia paranoides) (1911). In: Vol. XII – O caso Schereber, artigos sobre técnica e outros trabalhos (1911-1913). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“[…] certa vez, nas primeiras horas de manhã, enquanto se achava entre o sono e a vigília, ocorreu-lhe a ideia de que, ‘afinal de contas, deve ser realmente muito bom ser mulher e submeter-se ao ato da cópula’. Tratava-se de ideia que teria rejeitado com a maior indignação, se estivesse plenamente consciente”.
“O comportamento de Deus na questão da premência de evacuar (ou ‘c…r’) leva-o a um grau especialmente alto de indignação. A passagem é tão característica que a citarei na íntegra; mas, para esclarecê-la, devo primeiro explicar que tanto os milagres quanto as vozes procedem de Deus, isto é, dos raios divinos”.
“Se recordamos agora o sonho que o paciente teve durante o período de incubação de sua enfermidade, antes de mudar-se para Dresden, tornar-se-á claro, acima de qualquer dúvida, que seu delírio de ser transformado em mulher nada mais era que a realização do conteúdo desse sonho. Naquela época, rebelou-se contra o sonho com máscula indignação, e, da mesma maneira, começou a lutar contra a sua realização na enfermidade e encarou sua transformação em mulher como uma catástrofe porque era ameaçado com intenções hostis”.
FREUD, S. Contribuições a um debate sobre a masturbação (1912). In: Vol. XII O caso Schereber, artigos sobre técnica e outros trabalhos (1911-1913). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“(…) penso que podemos distinguir com vantagem o que podemos descrever como prejuízos diretos causados pela masturbação daqueles que resultam indiretamente da resistência e indignação do ego contra essa atividade sexual. Não me interessei por estas últimas consequências. E agora sou obrigado a acrescentar algumas palavras sobre a segunda das duas penosas questões que foram formuladas. Supondo que a masturbação possa ser prejudicial, sob que condições e em que pessoas ela prova sê-lo?”
FREUD, S. SOBRE O NARCISISMO: UMA INTRODUÇÃO (1914). In: Vol. XIV – A HISTÓRIA DO MOVIMENTO PSICANÁLITICO, ARTIGOS SOBRE A METAPSICOLOGIA E OUTROS TRABALHOS (1914-1916). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“A repressão, como dissemos, provém do ego; poderíamos dizer com maior exatidão que provém do amor-próprio do ego. As mesmas impressões, experiências, impulsos e desejos aos quais um homem se entrega, ou que pelo menos elabora conscientemente, serão rejeitados com a maior indignação por outro, ou mesmo abafados antes que entrem na consciência. A diferença entre os dois, que encerra o fator condicionante da repressão, pode ser facilmente expressa em termos que permitem seja ela explicada pela teoria da libido”.
FREUD, S. Um estudo autobiográfico (1925 [1924]). In: Vol. XX – Um estudo autobiográfico, inibições, sintomas e ansiedade, a questão da análise leiga e outros trabalhos (1925-1926). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997.
“(…) verifica-se que o pensamento isolado é um impulso de desejo, muitas vezes de natureza repelente, que é estranho à vida de vigília daquele que sonha, sendo, em consequência, repudiado por ele com surpresa ou indignação. Esse impulso é o construtor real do sonho: proporciona a energia para sua produção e faz uso dos resíduos diurnos como material”.
FREUD, S. A questão da análise leiga: conversações com uma pessoa imparcial (1926). In: Vol. XX – Um estudo autobiográfico, inibições, sintomas e ansiedade, a questão da análise leiga e outros trabalhos (1925-1926). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“O senhor estará cometendo grave erro se, num esforço talvez de encurtar a análise, lançar suas interpretações na cabeça do paciente logo que as houver encontrado. Dessa maneira o senhor obterá dele expressões de resistência, rejeição e indignação, mas não permitirá que seu ego domine seu material reprimido”.
FREUD, S. Uma experiência religiosa (1928 [1927]). In: Vol. XXI – O futuro de uma ilusão, o mal-estar na civilização e outros trabalhos (1927-1931). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“A visão de um cadáver de mulher, nu ou a ponto de ser despido, recordou ao jovem sua mãe. Despertou nele um anseio pela mãe que se originava de seu complexo de Édipo, e isso foi imediatamente completado por um sentimento de indignação contra o pai. Suas idéias de ‘pai’ e ‘Deus’ ainda não se tinham separado inteiramente, de modo que seu desejo de destruir o pai podia tornar-se consciente como dúvida a respeito da existência de Deus e procurar justificar-se aos olhos da razão como indignação com o mau trato dado a um objeto materno. Naturalmente, é típico do filho considerar como mau trato o que o pai faz à mãe nas relações sexuais”.