Uma nova apresentação de entrevistas e textos rumo ao próximo VIII Enapol, que giram em torno de algumas das interrogações que a clínica e a época nos apresentam vez por outra.

  • O discurso capitalista e seu feitos sobre família, os laços, os sujeitos e os corpos.
  • O império dos gadgets.
  • As funções e ficções que já não são como eram antes…

… , contudo…, ainda assim, ainda sobre temas que transitamos mais de uma vez buscando respostas …, essas apresentações nos oferecem algumas orientações para a reflexão, algum divino detalhe que vale a pena. Eu, pelo menos ,os tenho encontrado….

Vocês encontrarão, na entrevista a Juan Carlos Indart, sua análise sobre as mudanças na família e na clínica, como efeito do capitalismo. A crise da família, pelo menos em sua forma tradicional, faz com que os sujeitos se apresentem falando de seus sintomas e de diversas coisas, mas não dos assuntos de família. Propõe então pensar em versões do pai e da mãe, menos exigentes e mais concretas, que permitam aos sujeitos montar algo, com o que há, inclusive os vínculos sociais, sem a nostalgia do pai ou da família tradicional.

Vendo o discurso jurídico correr atrás de definições e regulamentações para a família, as quais sempre escoam, Marcus André Vieira se pergunta o que é que constitui família mais além das mutações, e encontra a orientação para a resposta em Caetano Veloso, pois, como diz Lacan, “o artista sempre (nos) precede … (nos) abre o caminho”[1]. Para Caetano, trata-se dos que comem juntos, uma vez que em torno da mesa se dá uma relação com o objeto, é em torno do segredo de gozo que se deve buscar o que faz família.

Jorge Assef também situa a família à mesa, no telefone celular, “novo inimigo dos almoços familiares”. Todavia, o sintoma social de nosso tempo é a dissolução dos laços e o desmoronamento das formas clássicas dos vínculos, produto do discurso capitalista e não dos gadgets, cabendo então verificar se para cada sujeito estes podem jogar a favor ou contra os laços.

Paula Kalfus orienta sua reflexão para os gadgets, propondo que a inteligência artificial que estes nos fornecem já faz parte de nossa vida, transformando-nos em usuários vigiados, e situando também o ponto singular do gozo do sujeito posto em jogo em torno desses objetos.

Com a brevíssima, mas eloquente, observação da extração de sangue em uma menina, Marcia Mezêncio mostra o poder dos gadgets, que permitem a tranquilidade sem angústia e a docilidade dos corpos desconectados da palavra.

Alejandra Loray
Responsável da Comissão de Traduções do VIII Enapol

NOTAS

  1. Lacan, J. (2003), Homenagem a Marguerite Duras, Outros Escritos, Rio de Janeiro: JZE.

Qual é o lugar para o gadget?