Nova Rede Cereda

V Jornada NRC-América – Crianças violentas

  • Eixos:

    • Diante da criança em situação de violência, como abrir a possibilidade de falar?
    • Qual manejo possível da transferência na clínica com as crianças violentas?
    • Que soluções analíticas para a violência?
  • Data: dia 12 de setembro, quinta-feira.

  • Horário: de 14 às 20h

  • Local: Centro de Convenções Rebouças

Os destinos da violência da criança na experiência analítica.

Crianças Violentas é um tema que tem sido trabalhado no interior dos núcleos do NRC há aproximadamente dois anos. Se, num primeiro momento, foi necessário situar o que se chamava violência, esclarecendo sua relação com a pulsão – em um certo instante de ver– já estamos em outro tempo. Tempo de extrair os efeitos que o trabalho da análise com crianças nos ensina e que podemos tomar como orientação. Desta maneira, a V Jornada da NRC-América se decanta como um momento de precisar sobre os destinos[1] da violência em uma análise: onde o acontecimento “violência” encontrará um modo de inscrição, no inconsciente e sobre o corpo? Como fazer passar à contabilidade o gozo que ele comporta?

Queremos também aproveitar a oportunidade de articular o tema de nossa investigação com o tema do ENAPOL, “Ódio, cólera, indignação”, já que a violência toma, em alguns casos, a vertente da cólera, da indignação, da revolta, de acesso de fúria ou, inclusive, de agressão. Miller foi preciso em situar que o ódio não é da mesma ordem que a violência, pois esta última não faz laço[2]. A violência implica uma satisfação direta da pulsão de morte, isto é, resulta da falência da trama simbólica como modo de tratamento da pulsão. Neste sentido, na cólera, por exemplo, e seguindo um esclarecimento de Jean-Daniel Mattet, tratar-se-ia de um signo do qual não se tem certeza do que ele é índice[3]. Se a angústia se coloca como um afeto que não engana, a cólera, a revolta, a indignação ou o acesso de fúria não são da mesma ordem, não se tem certeza do que eles são signo.

Nos modos de irrupção de um corpo afetado pelo encontro com um real e, especialmente, quando a trama simbólica não é suficiente para responder a esse não sabido, o que o encontro com um analista pode diante disto? De alguma maneira, na experiência da palavra, que é a experiência analítica, abre-se uma possibilidade de leitura dessa irrupção. O analista, na sua posição e com suas intervenções, impele o sujeito a ler, a circunscrever, a fazer borda ao gozo. Por vezes se trata de um signo decifrável, mas no mais das vezes, trata-se de uma operação que busca cernir, circunscrever através deum artificio, de uma ficção ou de um sintoma. Tratar-se-ia de deslocar os afetos para o sintoma. Ou como colocou Jésus Santiago: “Por mais que a morte seja a adversária do amor, apenas o sintoma é capaz de deter a insistência repetitiva própria da pulsão de morte”[4]

Este argumento é também um convite para que cada um possa apresentar, nas mesas do ENAPOL, o produto dos trabalhos de pesquisa realizados nos diferentes núcleos das Escolas da AMP na América Latina, a saber, EOL, EBP e NEL.

 

 


 

[1] FREUD, S.  “As pulsões e seus destinos” (1915)  In: Col. Obras Incompletas de Sigmund Freud – Edição Bilingue. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.  Publicado como “As pulsões e suas vicissitudes” na Edição Standard  brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. XIV.

[2] Miller. J. A. “Crianças Violentas”. In: Opção Lacaniana, 77. Abril de 2017. São Paulo, Edições Eolia.

[3] Mattet, J. D. “As cores da cólera”. In: Almanaque on-line 22. Disponível em: http://almanaquepsicanalise.com.br/as-cores-da-colera/

[4] Santiago, J. “Pulsão de morte, móterialité do laço social”. Conferencia na NRC-Brasil, novembro de 2018.

CIEN – Centro Interdisciplinar de Estudos sobre a Criança

A Criança violenta e a dignidade do sujeito

  • Eixos:

    • O que fazer quando a dignidade do sujeito criança ou adolescente é colocada a serviço de protocolos ou de imperativos universalizantes, ficando subjugada pelos diferentes discursos?
    • Como a criança responde frente a violência que experimenta e como inventa um lugar frente ao autoritarismo?
    • Como os profissionais podem, sem que se sintam pisoteados pelas exigências institucionais de bem estar e erradicação da violência – demanda impossível de atender – fazer um trabalho que mantenha aberta a palavra às crianças e aos adolescentes? fazer um trabalho que mantenha um lugar aberto à palavra das crianças e adolescentes e às suas invenções singulares?
  • Data: dia 13 de setembro, sexta-feira.

  • Horário: das 8:00 às 13:30h

  • Local: Centro de Convenções Rebouças

A Criança violenta e a dignidade do sujeito

As crianças e os jovens, suscetíveis às modificações no laço social, orientam o campo de pesquisa do CIEN. O que se faz ouvir na contemporaneidade?

Os Laboratórios, em sua investigação, recolhem as respostas que as crianças e os jovens têm dado à violência contemporânea, social ou institucional, às paixões levadas ao extremo e ao esgarçamento do tecido social onde estão inseridos.

Com frequência essas respostas são tomadas como “inadequadas”, “desajustadas”, “violentas”, sujeitas à intervenções protocolares e autoritárias.

Servimo-nos da orientação de Miller em seu texto “Crianças Violentas”[1], para evitar cair rapidamente em categorias segregativas que fixam a criança frente ao Outro social. Em outras palavras, uma nomeação categorizante de violento, pode impedir o surgimento da pergunta do que fazer quando “há razões para se revoltar”[2].

Tomando essa indicação, como ser receptivo às diferentes formas de respostas sintomáticas dos jovens e das crianças? Essa é a pergunta que orienta a política do CIEN.

Apostar em uma política do sintoma como invenção, como indica Juan Carlos Indart, implica um ineditismo, algo novo que pode vir a surgir quando uma brecha se abre e não se responde mais de modo protocolar, mas se pensa em uma inserção no laço não sem o singular[3].

A especificidade da prática do CIEN, a conversação inter-disciplinar, ao subverter a lógica da complementariedade entre os diferentes discursos, propicia a instauração de um vazio que protege o lugar do sujeito e suas invenções. Este contexto cria condições para que algo surja na contingência do encontro, a partir do que constitui a própria conversação como prática do CIEN, a saber, acolher as diferenças. O hífen do inter-disciplnar escreve a particularidade dessa experiência que aposta em uma identificação que não seja segregativa e comporte justamente um não apagamento na massa.

Numa conversação, a aposta é que cada um possa se responsabilizar por um dizer que lhe escapa, por um ato que lhe surpreende, e reconquistar como sujeito a dignidade do seu sintoma e outra possibilidade de laço com o Outro.

Entendemos por sintoma nesse âmbito, a inscrição da singularidade da criança e do adolescente sem desconsiderar o Outro e o contexto social. Em outras palavras, o CIEN visa a retomada do laço, mas não um laço qualquer.

Assim, frente às irrupções de ódio e violência contemporâneas nos perguntamos o que podemos recolher como um saber fazer? Como acolher os pontos de impasse de cada profissional que se faz parceiro de crianças e adolescentes para que uma invenção seja possivel?

Convidamos vocês a testemunharem momentos de trabalho em que podemos verificar a particularidade da abertura do CIEN, e os efeitos tanto nas equipes inter-disciplinares quanto nas crianças e nos jovens.

 

 


 

[1] Miller. J. A. Crianças Violentas. Opção Lacaniana, 77. Abril de 2017. São Paulo, Edições Eolia.

[2] Miller. J. A. Crianças Violentas. Id. Ibid.

[3] Indart, J. C. I. Udenio, B.  Conversação Internacional do CIEN 2017 – Os laços sociais e suas transformações. In: Cien Digital, n 22. Revista do CIEN Brasil. Disponível em: www.ciendigital.com.br /Indart, J C. Udenio, B. Cierre – puntuaciones y perspecitvas. In: CUADERNOS DEL CIEN 8. Los lazos sociales y sus transformaciones. Buenos Aires, octubre de 2018, pg. 56.