Nesse número, temos três textos que avançam nosso debate sobre o que faz enredo familiar e o que cai como resto, resíduo que escapa à trama das demandas de seus personagens. Raquel Cors Ulloa nos fala de como esse resto de gozo é envolvido por uma narrativa que o faz passar do contingente ao necessário. Irene Greiser destaca um ponto importante que é o aumento de abusos e de feminicídios, que mostram que, para além do objeto elevado à dignidade de filho e mãe, está o objeto como kakon à ser eliminado. Margarida Assad, chama atenção em seu texto para o fato de que os efeitos da não-relação sexual não mais necessariamente produzem metáfora, como na família edipiana. A seleção de vídeos de nosso boletim mostra o elemento heterogêno à estrutura familiar clássica, a mulher. A família clássica era composta pelo Pai, o filho e a mãe, a mulher era apenas o elemento de interdição e transgressão que organiza o regime de gozo familiar. Nas dois histórias dos filmes, percebemos como o desejo feminino perturba e subverte, eis porque tende a ser eliminado por aqueles que são nostálgicos da época do pai de ferro.
Marcelo Veras (EBP)