Débora Nitzcaner (EOL)

Esta frase é uma referência de Piaget, da qual Lacan se serve em seu ensino, para dar conta da indeterminação do sujeito no Outro. Um paradoxo no qual o sujeito, em vez de se contar no Outro, cumpre a função de falta. Por que um sujeito sacrificaria sua diferença ( tudo menos isso) ao gozo do Outro […]?[2] É uma questão de Subversão do sujeito, a propósito da negativa do neurótico de sacrificar sua castração ao gozo do Outro, sendo que, para o sujeito, ele lhe pede sua castração.

Contar por algo, contar para alguém é uma diferença que J.-A. Miller estabelece en sua metáfora do “patinho feio”, quando diz que o sujeito chega ao mundo como um patinho feio e que o segredo desses patinhos é que todos são cisnes. Assim, chega a dizer, por homofonia significante que cygne[3] é homofônico de insigne, o que faz insígnia.[4] Ser Um entre outros é uma operação que situa o paradoxo com o qual tropeça o significante em seu laço com o Outro. Por acaso, liberdade… não se sabe. Igualdade… sem dúvida. Fraternidade… certamente.[5]

Para a psicanálise, o conceito de irmandade interessa por seu reverso, quando adverte que é o edípico e seus enredos identificatórios que estão em fila e, então, o que busca é o que não está.

Ir ao encontro do que ficou vedado da redução deste Outro ao Um. Mesmo que o sujeito seja inepto, deficiente ou descapacitado tem direito a ser um irmão, um dizer de Miller que dimensiona a necessidade de contar-se no Outro e também o incompleto. Esta frase do título ilustra que se trata de achar o desigual, o que faz insígnia, o Um.

NOTAS

  1. Lacan, J. El Seminario 11. Los cuatro Conceptos fundamentales del Psicoanálisis. Buenos Aires: Paidós. 1987, p. 28.
  2. Lacan. J. “Subversión del Sujeto y dialéctica del deseo”. Escritos 2. Buenos Aires: Siglo XXI. 1986: p. 786.
  3. Cygne, em francês, significa cisne.
  4. Miller, J-A. Los Signos del goce. Buenos Aires: Paidós. 1998, p. 30.
  5. Ibid., p. 33.