Por Iordan Gurgel (EBP)

A noticia “Terá um bebê com sua irmã para conservar os gens“, implica uma abordagem que ultrapassa o tema da reprodução. Não se trata do que pode a ciência, nem das ficções que envolve a família e sim sobre o ponto de real do que é a origem do sujeito. É da falha no encontro entre os sexos e do desejo que deu origem a cada um, que devemos pensar a familia.[1]

A psicanálise, que distingue o real do organismo e o corpo falante, rompe com a lógica científica de causa-efeito (o real é sem lei natural) e com a tentação de fundar a família sobre a reprodução – o significante domina a natureza e também a família. O reconhecimento de novas formas de convivencia confirmam a concepção da familia como uma estrutura simbólica que, mesmo tomando como referencia os vínculos biológicos, se distingue destes para impor suas proprias leis.[2]

A questão que advém do caso Samuel é seu desejo de ser pai. O estatuto lacaniano de ser pai é dado por situar a mãe de seu filho no papel de uma mulher causa de seu desejo, isto é, fazer de uma mulher objeto a (e aqui se configura a questão). Por outro lado, a criança, mais além do semblante paterno, se revela um objeto como tal. É nesta condição (não apenas como objeto da mãe), que se pode reconfigurar a posição paternal, não a partir do significante e sim a partir do laço com o objeto.[3]

NOTAS

  1. Laurent, E. (2016), El niño como real del delirio familiar, Fapol. Extraído 4 de dezembro 2016 http://wapol.org/pt/articulos/TemplateArticulo.asp.
  2. Bassols, M. (2005), Familia e Nome-do-Pai, Scilicet dos Nomes do Pai, Rio de Janeiro: EBP, pp. 54-55.
  3. Ibid.