Nossa via de acesso à investigação “Começar a se analisar”: nem catálogo, nem análogo, a terceira via… a função de chave!

1- 1- O que leva um sujeito a procurar um analista nestes tempos que correm? Como se iniciam as análises hoje?

“A diversidade extraordinária das constelações psíquicas em questão, a plasticidade de todos os processos anímicos e a riqueza de fatores determinantes também se opõem a uma mecanização da técnica”

Freud, S., Sobre o início do tratamento (1913). Obras incompletas de Sigmund Freud. Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte, Autêntica, 2017, p. 121-22

​​“Primeiramente, será que é o final da análise o que nos demandam? O que nos demandam, é preciso chamá-lo por uma palavra simples, é a felicidade […] É nesse contexto que a análise aparece – sem que possamos saber exatamente o que justifica que seja nesse contexto –, e que o analista se oferece para receber, é um fato, a demanda de felicidade”.

Lacan, J., (1959-1960), O seminário, livro 7, a ética da psicanálise, Rio de Janeiro, Zahar, 1997, pp. 350-351

“Quem vai à análise hoje? Somente os decepcionados do ‘dever ser’, os que têm um ideal. Conservemos o valor de referência do termo ideal, o que seria muito fácil degradar sob o nome de narcisismo – por mais que haja um laço entre o ideal e o narcisismo, ainda que seja só pelo fato de que aqueles que quiserem ser diferentes do que são, creem ou se imaginam, poderão sê-lo. A crença no sintoma é, neste aspecto, estritamente correlativa, ou seja, está enlaçada à crença no ideal”

Miller, J.-A., (2000-2001) El lugar y el lazo, Paidós, Buenos Aires, 2013, p. 34

2- Quando começa uma análise?

“De fato, em um grande número de casos, a análise se decompõe em duas fases (…) A primeira compreende todos os preparativos necessários e hoje tão complicados e difíceis de cumprir, até que finalmente se compra a passagem, chega-se à plataforma e se garante um lugar no vagão. Agora se tem o direito e a possibilidade de viajar para um país distante, mas após todos esses preparativos ainda não se está lá (…) Ainda é preciso que se cumpra a própria viagem, de uma estação à outra”

Freud, S., Sobre a psicogênese de um caso de homossexualidade feminina (1920). Obras incompletas de Sigmund Freud. Neurose, psicose, perversão. Belo Horizonte, Autêntica, 2017, p. 163-64

“A dimensão da surpresa é consubstancial ao que acontece com o desejo, desde que ele tenha passado ao nível do inconsciente”

Lacan, J., O seminário, livro 5, as formações do inconsciente, Rio de Janeiro, Zahar, 1999, p. 97

“Como começam as análises? … a propósito, as análises – coloquei no plural – começam de diferentes maneiras e podemos nos divertir descrevendo-as. Às vezes começam com lágrimas e às vezes com risos. Às vezes podem começar com desconfiança: preciso verdadeiramente? é você o analista que pode me entender? Quero de verdade uma análise?, mas também pode começar com desembaraço, com facilidade: penso nisso faz tempo, demorei até este momento em que, finalmente, cumpri meu desígnio. Às vezes começam com urgências: imediatamente! (…) captar a estrutura do começo… sempre começam pela transferência”

Miller, J.-A., (1993-1994.) Donc, Paidós, Buenos Aires, 2011, p. 285

3- Como a clínica do começo de uma análise mudou nos últimos anos?

“Nas atuais condições, para o psicanalista existe uma aspiração por afeto mais perigosa, que é a ambição terapêutica de realizar, através de seu meio novo e muito criticado, algo que possa ser convincente para outros.”

Freud, S., Recomendações ao médico para o tratamento psicanalítico (1912). Obras incompletas de Sigmund Freud. Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte, Autêntica, 2017, p. 98

“Ora, elidir o impossível não é o que no caso estaria em questão, mas sim ser seu agente”

Lacan, J., (1969-1970), O seminário, livro 17, o avesso da psicanálise, Rio de Janeiro, Zahar, 1992, p. 192

“Digo tudo isso em um tom vagamente irônico, mas meu problema é que será preciso ver como situar a psicanálise em um mundo que está se reconfigurando de um modo muito sério entre as TCC e a religião, se me permitem.”

Miller, J.-A., (2004-2005) Piezas sueltas, Paidós, Buenos Aires, 2013, p. 316

4- Um chamado aos praticantes: Começar a se analisar!

“Freud me parou aqui e disse: ‘você preparou este relato?’ ‘Não’, respondi, ‘mas porque você me pergunta?’ ‘Porque foi uma apresentação perfeita. Quero dizer que foi, como dizemos em alemão, druckfertig*. Verei-o amanhã'”

*pronto para imprimir

A. Kardiner, “Mi análisis con Freud” Ed. Joaquín Mortiz, México, 1979.

“Assim, desde a origem, Freud sabe que só fará progressos na análise das neuroses se se analisar”.

Lacan, J., (1953-1954), O seminário, livro 1, os escritos técnicos de Freud, Rio de Janeiro, Zahar, 1996, p. 10.

“O analista – seja ele o nomeado, o auto-instituído, o experimentado ou o iniciante – não está, em nenhum caso, eximido de tentar, como exemplifica Freud, esclarecer sua relação com o inconsciente. Não digo amá-lo…”

Miller, J.-A., (2008-2009) Sutilezas analíticas, Buenos Aires, Paidós, 2011, p. 63.