Nesta segunda edição, a nossa proposta de citações acompanha as questões colocadas pelo argumento, acrescentando nesta busca, o interesse pelo destino do sintagma “entrevistas preliminares”.
Nossa via de acesso à investigação “Começar a se analisar”: nem catálogo, nem análogo, a terceira via… a função de chave!
Tradução: Flávia Machado Seidinger Leibovitz
1- O que leva um sujeito a procurar um analista nestes tempos que correm? Como se iniciam as análises hoje?
“Antes de tudo, o início do tratamento leva o paciente a mudar a sua opinião consciente em relação à doença. Usualmente, ele se contentava em se queixar dela, desprezá-la como bobagem, subestimá-la em sua importância, mas de resto continuava com o comportamento recalcante em relação às suas manifestações, adotando a política de avestruz contra as origens da doença”.
“Ora, o enunciado da regra fundamental consiste em dizer, em fazer notar, a uma pessoa que vem demandar algo – uma ajuda, se for o caso -, que é necessário se sujar um pouco para fazer algo juntos, a saber, que a coisa não andará se, de algum modo, não se chega ao que desagrada – não ao que desagrada o analista, mas que desagrada profundamente a quem quer que seja -: fazer um esforço”.
“As entrevistas preliminares não são somente uma investigação para descobrir onde está o sujeito, trata-se de efetuar uma mudança na posição do sujeito e, eventualmente, transformar a pessoa que veio em um sujeito, em alguém que se refere ao que diz guardando certa distância com relação ao dito. É por isso que as entrevistas preliminares constituem uma retificação subjetiva”.
2 – Quando começa uma análise?
“E como percebemos qual é o momento certo em cada caso?
É uma questão de fato, que pode ser bastante refinado através da experiência. O senhor incorrerá em erro grave se despejar no paciente a sua interpretação assim que a tiver encontrado, com o objetivo de encurtar a análise. Fazendo isso, o senhor receberá manifestações de resistência, rejeição e indignação do paciente, mas não conseguirá que o seu Eu domine o recalcado. A prescrição é esperar até que ele tenha se aproximado disso de tal maneira que precise apenas dar mais alguns passos, guiado pela interpretação sugerida”.
“Assim isolado desse momento de instalação, o ato fica ao alcance de cada entrada numa psicanálise”.
“Quando avaliamos uma entrada em análise, no limiar da análise, julgamos se o sujeito é capaz ou não de descolar-se de sua posição inicial, se deixa entrever que será capaz de separar-se de seus ideais, por exemplo”.
3 – Como a clínica do começo de uma análise mudou nos últimos anos?
“Não se deve deixar influenciar por informações desfavoráveis, pois estas são recebidas de todas as partes, é preciso provar e provocar a demanda com a presença de alguém.”
“Ora, o que meu discurso desenha, ou, pelo menos, fornece, é uma parte das condições que constituem o consultório analítico. Medir o que se faz quando se entra numa psicanálise tem lá sua importância e, em todo caso, […], indica-se no fato de que sempre realizo numerosas entrevistas preliminares”.
“As entrevistas preliminares são isso. Na entrada do inferno da análise, trata-se de verificar que é possível suportá-lo. É verdade que se a análise é praticada como psicoterapia não são necessárias entrevistas preliminares, mas se se pratica da maneira que se deve, autenticamente, as entrevistas preliminares são necessárias”.
4 – Um chamado aos praticantes: Começar a se analisar!
“Quando o analista, por exemplo, de dentro da imensidão de seu coração solícito, concede ao paciente tudo que uma pessoa pode esperar do outro, ele estará cometendo o mesmo erro econômico em que incorrem as nossas instituições de cura não analíticas”.
Aquele que vem ao nosso encontro, partindo dessa suposição de que não sabe o que tem – já está aí toda a implicação do inconsciente, do ele não sabe fundamental.
“Embora pareça que definir o psicanalista como praticante da psicanálise seja algo que fica aquém de seu peso, muitas consequências se depreende dessa aparente simplicidade e, em particular, que o psicanalista só poderia ser reconhecido a posteriori, uma vez que fica comprovado que ele analisa e, sobretudo, que graças às suas análises, ele se torna um analista”.