Skip to content

O que nos f(a)la a criança?[1]

Alvaro Rendón Chasi[2]  … dele se despediu um religioso: “Acabei acreditando, veja só, neste declínio de minha vida […] que não existe gente grande”[3] Vou me arriscar um pouco em agradecimento a esse convite recebido do Conselho da NELcf e da sua presidenta Ana Viganó: Começo sinalizando que o objeto-criança se transforma em ser humano em algum momento da Idade Média. Assim sustenta o historiador francês Philippe Ariès indicando que a criança era “uma coisinha engraçadinha”; “um animalzinho” com o qual a gente se divertia; “um macaquinho impudico”: “A criança não chegava a sair de uma espécie de anonimato”[4] até…

Rubrica Eixo 3: INFÂNCIA INEXTINGUÍVEL, DOCILIDADE TRANSFERENCIAL

2 de maio de 2025

Marcela Antelo – EBP/AMP Costuma-se dizer que a infância se perde, que a inocência se perde, que os ideais se espatifam e as ilusões se corroem, que o amor se erode, e que não o refletimos como ayer. O tempo e o lugar do ócio, do brincar, do dolce far niente fica cada vez mais custoso. Sem falar do tônus muscular, a pele de pêssego e os cabelos sedosos. Uma dimensão do que perdura a perda pura, como dizia Lacan, na patologia da vida cotidiana, da vida que dura. Falar com a criança, falar com a coisa, falar com isso,…

CITAÇÕES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

2 de maio de 2025

Freud[1] “Em certos casos, tive a impressão de que a conhecida amnésia infantil, que teoricamente nos é tão importante, é completamente contrabalançada pelas lembranças encobridoras. Não apenas algo, mas a totalidade do que é essencial na infância foi retido nessas lembranças. Trata-se simplesmente de saber como extraí-lo delas pela análise. Elas representam os anos esquecidos da infância tão adequadamente quanto o conteúdo manifesto de um sonho representa os pensamentos oníricos”.  Freud, S. (1914) “Recordar, repetir, elaborar” In Obras Completas, Vol. XII,  Rio de Janeiro: Imago. p. 194. 1968 Lacan “O temível desconhecido para além da linha é o que, no…

Rubrica Eixo 1: ISSO RESSOA NO CORPO COMO UM TAMBOR

2 de maio de 2025

Luisa Aragón – NEL/AMP  Falar com a criança revela o lugar da palavra em uma análise e seus alcances, transcendendo a distinção de idade. Tem que falar, porque faz bem! é o lema que hoje se promove por meio da proliferação de propostas terapêuticas. Em que se distingue nossa prática como experiência de palavra? A psicanálise lacaniana opera com o descobrimento de Freud e introduz “que no menor ato de palavra está implicado um gozo”[1] pulsional que excede o corpo e, paradoxalmente, produz sofrimento e satisfação. Não é o caso de encorajar aquele que nos procura que fale por falar…

A SUBSTÂNCIA SONORA E IMAGÉTICA DE MINERAL

11 de abril de 2025

Daniela Viola Fernanda Costa Michelle Sena[1] Mineral, Teaser. Ciro Thielmann.Paisagem Lava Pouco antes de percutirem os tambores do animado carnaval de Belo Horizonte, cidade de Minas Gerais que acolherá o XII ENAPOL, Máximo Soalheiro[2] nos recebe em sua casa. Conversamos à mesa posta, com café e pão de queijo, lanche típico de um mineiro, servidos nas inconfundíveis cerâmicas assinadas por seu ateliê. Ceramista e artista plástico, ele é reconhecido mundialmente pelo trabalho em ambos os campos. Entre suas incontáveis obras, uma instalação sonora da qual é idealizador e diretor artístico materializa de forma exemplar pontos fundamentais do que este Boletim…

CITAÇÕES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1

11 de abril de 2025

FREUD “O excesso de sexualidade, por si só, não é suficiente para causar o recalcamento; é necessária a cooperação da defesa; contudo, sem um excesso de sexualidade, a defesa não produz neurose.” FREUD, S. “Isolamento da comunidade cientítica” In: A correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhem Fliess.  Rio de Janeiro, Ed. Imago, 1986, p. 189. LACAN “O horizonte da relação com o objeto não é, antes de tudo, uma relação conservadora. Trata-se, se posso dizer, de interrogar o objeto sobre o que ele tem no ventre. Isso prossegue na linha onde tentamos isolar a função do pequeno a […]…

A EXTRAÇÃO DO OBJETO a*

11 de abril de 2025

Éric Laurent   O que é, para nós, a extração do objeto a? É uma pergunta que me faço depois de ler os textos preparatórios do próximo Congresso da AMP, em Buenos Aires, em abril de 2008. Alguns desses textos começam sua investigação a partir do Seminário 2, quando Lacan fala do luto e diz que “estamos em luto por alguém quando podemos dizer: “eu era sua falta” – “J’étais son manque”. Dessa maneira, neste momento de seu ensino – um momento pré-topológico – Lacan nos faz ler o avesso do que habitualmente estava dentro. No Seminário 5, Lacan nos…

Falar com a criança sob transferência[1]

24 de março de 2025

Ana Viganó[2]   Das múltiplas arestas que o argumento e os eixos do ENAPOL nos propõem, tomarei nesta ocasião aquelas que dão mais ênfase ao eixo 3: Falar com a criança sob transferência. Em um texto que já tem alguns anos, Miller nos apresenta uma sigla um pouco enigmática – ao menos ele quer conservá-la desse modo, como intraduzível ao espanhol de forma literal –, ele diz assim: “dou estas três letras como colofão a ser colocado embaixo de todo ensaio de clínica psicanalítica, por resumir o que a distingue, sendo Clínica-Sob-Transferência”[3]. C.S.T.[4], tais letras indicam que a clínica psicanalítica…

O que fala a psicanálise da criança generalizada[1]

24 de março de 2025

Ludmilla Féres Faria[2]   Em 1967, Lacan é convidado por Maud Mannoni para fazer o fechamento da Jornada da Criança, organizada por ela em torno do tema das psicoses em crianças. Em sua argumentação, ele destaca a segregação como o problema mais crucial da época: “não somente em nosso próprio domínio, o dos psiquiatras, mas até onde se estende o nosso universo, teremos que lidar, e sempre de maneira premente, com a segregação”[3]. Lacan aponta para a segregação não apenas como efeito político e social do discurso, mas para o seu viés estrutural fundamental e seu princípio mesmo, já que…