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EIXO 2 – Falar … “testemunhar da melhor maneira possível sobre a verdade mentirosa”[2

EIXO 2

Falar … “testemunhar da melhor maneira possível sobre a verdade mentirosa”[2]

O falar com a criança na experiência analítica remete ao que no falasser está escrito como resposta do real e como desde aí as respostas aparecem na clínica: as teorias sexuais infantis, as lembranças encobridoras, as mentiras e seus equívocos da língua, os sonhos, os delírios, as fobias, a raiz aditiva do sintoma e tudo mais que o falasser inventa para lidar com o acontecimento de sua existência.

Aliás, as estruturas clínicas são como defesas, defesas contra o real que, ao não poder senão mentir, inscreve-se como neurose, perversão e psicose. Ou seja, disso se fala através da culpa, do fetiche e do rechaço, sendo as formações do inconsciente respostas ao que reverbera do mal-entendido nascente no corpo do banho de lalíngua onde todo falasser se vê submerso.

Portanto, nesse eixo, buscaremos desdobrar como, em uma análise, falar com a criança testemunha a melhor maneira possível de falar sobre a verdade mentirosa. Na neurose é fazer falar o objeto da satisfação que surge na virtualidade da hiância entre o objeto reencontrado e o esperado. Como a neurose responde hoje a esse desencontro? Em Bate-se numa criança, Freud demonstra que a lógica do fantasma constrói uma tela que enlaça três elementos: o golpeado, o que golpeia e o que olha a cena, fixando a dimensão perversa do gozo. Qual destino do gozo quando a tela falha, disso se fala? Se na psicose o real fala, como convencer o falasser que o real mente? O que o encontro com o autismo ensina quando o fazemos falar? E por fim, os casos contemporâneos confirmariam, como disse Miller, que a psicanálise segue sendo, em seus momentos cruciais, a psicanálise do filho?


[2] LACAN, J. Prefácio à edição inglesa do Seminário 11. (1976) In: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003, p. 569.