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III Conversação CIEN-CEREDA

CIEN
Centro Interdisciplinar de estudos sobre a criança
CEREDA
Centro de estudos e pesquisa da criança no discurso analítico

Redes do Campo Freudiano da Infância – América

IMAGENS QUE DÃO MEDO

INSCRIÇÕES

ARGUMENTO

Partir das “imagens que dão medo” significa abordar uma área candente da experiência com crianças em nossa prática – seja nos atendimentos privados, nas instituições ou nas conversações inter-disciplinares.

Este tema proposto por Jacques-Alain Miller interpreta o percurso de pesquisa realizado nas redes americanas sobre a infância acerca dos “Sonhos e fantasma na criança”. O que nos corresponde é discernir o que há do imaginário e do simbólico nos relatos cheios de imagens que uma criança nos dirige e também um tratamento do real.

“Do que temos medo?” Lacan coloca essa pergunta em “A terceira”, e responde “de nosso corpos […] o medo é o sentimento que surge da suspeita de que estamos reduzidos a nossos corpos”. Isto é o que guia nosso trabalho, a nossa aposta de abrir a dimensão da palavra para aquilo que cada criança, no seu ritmo, à sua maneira, pode dizer a partir dessas imagens que lhe dão medo, em seus jogos, seus sonhos, seus devaneios, suas fantasias, suas fobias ou alucinações…

Como encontramos essas imagens no dizer das crianças?

Às vezes, quando uma criança está brincando, uma imagem entremeada na brincadeira assume um valor singular: uma boca devoradora, um animal ameaçador, uma figura aterrorizante ou, por que não, uma imagem angelical, podem assustar a criança. Então a criança emite um “que medo” ou uma onomatopeia que anima a cena com um impacto sonoro perturbador, que toma conta do seu corpo: Aaaah! Grrrr! Ai! Assim se esboçam as primeiras fixações pulsionais.

Outras vezes, a repetição de uma imagem de um sonho que se tornou um pesadelo, desencadeia a angústia e deixa a criança sem palavras. Ou um vídeo-game, que a criança não consegue parar de jogar, levando-a, repetidamente, a uma cena que permaneceu congelada para ela. E essa estranha iteração, na qual o sujeito fica preso, pode permanecer lá por muito tempo — não apenas nas crianças, mas também nos adultos. As ficções significantes e fixações de gozo aparecem então enodadas.

Não são, portanto, as imagens em si que assustam ou aterrorizam, mas a maneira como criança é invadida por algo que não pode ser significado ou representado, como isso toma conta de uma imagem e congela o medo nela. A angústia, a inibição e a repetição são signos da defesa contra esse gozo fora do sentido. E o que chamamos de “realidade” é tingido com essa cor.

Como podemos acompanhar uma criança até que ela encontre uma interpretação, uma construção para lidar com “isso” que a assusta, a afeta e a perturba? É isso que abre a aposta da transferência, ancorada no discurso analítico, e a possibilidade de que aquilo que a perturba possa se tornar um sintoma. Trata-se de escutar, de ler e de cernir como “isso” é apresentado em suas palavras, com seu ponto impossível de representar ou de eliminar.

Esta III Conversação das Rede sobre a Infância do Campo Freudiano na América oferece para a discussão o que foi encontrado, animado, aprendido por aqueles que conduziram os tratamentos analíticos com crianças nos núcleos da Nova Rede Cereda, assim como aqueles implicados no trabalho dos laboratórios interdisciplinares do CIEN, profissionais sensíveis à orientação do discurso analítico e suas consequências nas práticas que sustentam.

Mas, sobretudo, queremos transmitir o modo como cada um desses sujeitos pôde inventar sua própria maneira de enfrentar o encontro com o irrepresentável das imagens, de se sustentar na realidade e de dar lugar a sua dimensão desejante.

Esperamos vocês neste novo encontro!