OS ALGORITMOS DO SABER: PSICANÁLISE E UNIVERSIDADE
As primeiras máquinas cibernéticas, batizadas em homenagem ao matemático Norbert Wiener[1], surpreenderam na década de 1950 e continuam surpreendendo até hoje. Com sua lógica binária, baseada em combinações algorítmicas e ciclos repetitivos, ilustram a natureza de uma linguagem purificada de significado, uma sintaxe pura, com autonomia própria. Lacan[2], em sua conferência sobre Psicanálise e Cibernética, proferida no início de seu ensino, ressalta essa dimensão da natureza da linguagem, sublinhando que, nas máquinas, o simbólico trabalha sozinho, com total independência da subjetividade, em um modo sequencial de funcionar que, em si mesmo, não significa nada.
A máquina “(…)não reivindica nada”. O mesmo não acontece no homem, pois neste “a escansão está viva”[3]. O computador pode até pensar, afirma Lacan mais adiante, no Seminário 20, mas “que ele saiba, quem é que vai dizer isto? Pois a fundação de um saber é que o gozo de seu exercício é o mesmo do da sua aquisição”[4]. Assim, para a psicanálise, o saber se articula ao gozo. Esse saber autêntico se distingue dos saberes artificiais, aqueles cuja matriz está no discurso universitário. O saber assume distintos estatutos, de acordo com o lugar que ocupa nos discursos, sendo que o discurso analítico põe à prova um saber sem valor de ensino. E, como propõe Miller[5], em “A criança e o saber”, o saber da criança é autêntico.
A partir dessas indicações, propomo-nos a conversar sobre os algoritmos do saber e sua relação com os artifícios, sob a perspectiva da psicanálise de orientação lacaniana e sua inserção na universidade. Como a inteligência artificial impacta a relação com o saber e convoca o desejo de transmissão da psicanálise na universidade? Como falar com às novas gerações, marcadas pela presença maciça do “saber artificial” na era do Um e da civilização digital?
A investigação rumo ao XII ENAPOL, realizada previamente por meio de grupos de trabalho com colegas das três Escolas da FAPOL que atuam na universiade, pretende fazer da RUA um território vivo de intercâmbio de experiências, cujos frutos serão objeto de uma Conversação com Carolina Koretzky.
Orientaremos nosso trabalho com base em três eixos norteadores:
- Artifícios do saber e saber autêntico
- Os algoritmos do discurso na universidade e os algoritmos da psicanálise
- Universidade: desejo de ensinar e futuro da psicanálise
Data: 4 de setembro de 2025
Horário: 16h às 18h
Responsáveis:
- Ines Sotelo e Roxana Vogler (EOL)
- Alejandro Reinoso e Fernando España (NEL)
- Cleide Monteiro e Virgínia Carvalho (EBP)
[1] NORBERT WIENER (Columbia, Missouri, 26/11/1894 – Estocolmo, 18/03/1964) foi um matemático e filósofo estadunidense, conhecido como o fundador da cibernética. Ele cunhou o termo em seu livro Cibernética ou o Controle e Comunicação em Animais e Máquinas, publicado em 1948.
[2] LACAN, J. O Seminário, livro 2: O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise. (1954-1955).Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1985. p. 384.
[3] Ibidem
[4] LACAN, J. O Seminário, livro 20: Mais, ainda (1972-1973). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1985. p. 131.
[5] MILLER, A criança e o saber. CIEN-Digital, n. 11, jn. 2012. Disponível em: https://www.ciendigital.com.br/wp-content/uploads/2018/11/CIEN-Digital11.pdf
