Rubrica Eixo 4 – ALERTA AMÉRICA! CRIANÇAS EM PERIGO DIANTE DO AVANÇO A PASSO FIRME DO DISCURSO DA UNIVERSALIZAÇÃO
Viviana Berger – NEL/AMP
Que outra resposta a psicanálise pode dar senão empunhar sua interpretação diretamente ao centro do coração da “criança generalizada” como os discursos da modernidade nos propõe? “PSICANALISTAS, SAIAM A DIZER!” Estão atropelando o mais precioso do sujeito! – urge a FAPOL.
É importante levar em conta vários aspectos da condição sobre a criança generalizada, cujos efeitos lemos no retorno deste real nas consultas de hoje. Quais são as consequências sintomáticas, fantasmáticas e estruturais de edificar a criança como um objeto idealizado, levada a responder de maneira homogênea às normas universalizantes, em um contexto que exclui da cena tudo aquilo que não se ajusta ao modelo esperado?
Por outro lado, não podemos nos desimplicar do fato de que há na atualidade a proliferação de discursos antissegregação, embandeirados nas comunidades concernidas por reivindicar a urgência de políticas de inclusão. Em especial, nos chamam a atenção esses extremismos que, paradoxalmente, acabam realizando aquilo contra o qual eles se rebelam. Então, cabe a pergunta: a segregação é um efeito social contingente da civilização contemporânea ou é uma consequência inerente à estrutura simbólica e ao discurso do Mestre de todos os tempos, com a particularidade de que atualmente o marco simbólico do Pai se encontra em evaporação? Lacan nos ensinou que toda universalização implica necessariamente uma forma de exclusão. Entretanto, acrescentou uma característica em relação ao século XX: “uma segregação ramificada, reforçada, que se sobrepõe em todos os graus, e não faz senão multiplicar as barreiras”[1].
Teremos que ver, em tal caso, qual é a resposta particular e singular, do Outro e do sujeito, diante daquilo que não encaixa, seu tratamento, os recursos para sua elaboração e assunção. Será interessante explorar seu funcionamento e a condição dos efeitos segregativos no seio dos distintos modos de laço social: o capitalismo, a ciência, globalização e as famílias! Se a criança é uma ficção determinada pelo ideal – neste caso, dos pais – certamente esse ideal dará lugar a todos os sintomas que, precisamente, comportam o desejo da criança.
Assim, será compromisso do analista falar com a criança, uma por uma, para poder situar e ler o lugar real que ela ocupa nas ficções que lhe são oferecidas. “É por ali que entendemos como se inscreveu a criança no mal-estar na civilização, como fez furo e como ela mantêm com vida esta civilização”[2].
Certamente, o analista saberá articular tantas respostas possíveis quantas maneiras existirem de entender a criança e seu gozo.
Tradução: Ana Beatriz Zimmermann
Revisão: Tatiane Grova Prado
[1] Lacan, J. Nota sobre o pai. Em: Opção Lacaniana, Revista Brasileira Internacional de Psicanálise, São Paulo, n. 71, p. 7, nov. 2015.
[2] Laurent, É. Responder al niño del mañana. En: Los objetos de la pasión. Buenos Aires: Tres Haches, 2019, p. 158.