Skip to content

RUBRICA EIXO 4: COMO FALAR COM O FEMININO?

Margarida Elia Assad – EBP/AMP

São muitas as manifestações do que se extravia na constituição do falasser. Ao assistirmos a série Adolescência, muito comentada nas redes sociais, ficamos pensando sobre o quê  falar com esses sujeitos que acabaram de sair do que chamamos Infância, tradicionalmente chamados de púberes ou adolescentes, e se mostram desorientados em relação às parcerias sexuais.

Penso mais em escutar do que falar; o que escutamos quando vemos uma geração desorientada, angustiada e sem rumo? O que está acontecendo?

Como psicanalistas, somos advertidos pela revelação freudiana de que enquanto ser-para-o-sexo, somos também ser-para-a morte. Quando atravessamos uma época em que a diferença sexual, que nomeamos de feminino, não encontra semblantes na forma de referências para um saber que venha a provocar um endereçamento ao Outro, o que vemos são sujeitos “suspensos num futuro líquido” no sentido de Zigmunt Bauman. Diante da liquidez desse futuro, e causados por um não saber do feminino, surgem gangs e grupos massacrados pelo desvario do sexo sem Outro, sem transferência no sentido do amor. Machosfera, Cultura Incel (celibatários involuntários!!), O Estuprador es tu, Masculinismo, Feminismo, são algumas das manifestações dessa liquidez que atravessa a sexualidade. O ser-para-morte, na sua forma mais radical:  suicídio ou assassinato, se apresenta como uma ordem de ferro, manipuladas por outros falasseres, marcados pela mesma segregação do feminino, que se utilizam da ferramenta tecnológica para exercerem sua própria pulsão de morte frente ao que está segregado em si mesmo: o gozo feminino.

Resta investigarmos como interferir sobre a pulsão de morte que vem se dirigindo à mulher,  e até para as meninas, como corpos que, mesclados pelo feminino, são suportes do indizível, com o qual os sintomas da nova ordem social, entre meninos e meninas, atribuem  como causa da solidão e da angústia. O frenesi de danças eróticas pelo Tik Tok, os memes agressivos e insultantes, que são veiculados livremente pelos aparelhos celulares atestam essa fluidez do sexo. Como falar com o feminino segregado encarcerado pelo Um-dividualismo Moderno? Como falar e escutar essa galera jovem e suas experiências complexas com a inevitável diferença sexual?