“Lacan na Academia – Conversando com a Literatura”

No último dia 03 de julho fechamos as atividades deste semestre do Lacan na Academia com o comentário de nosso colega Sérgio Laia, intitulado “Praga do pai, indignação do filho – o que nos ensina Philip Roth”, uma fina e instigante leitura do livro Indignação, uma das últimas obras deste romancista americano. Sérgio nos lembra que, ainda que se trate de uma narrativa baseada nos Estados Unidos dos anos 1950, durante a guerra contra a Coréia, a ficção aborda impasses bastante atuais: “A indignação tem sido, inclusive no Brasil mais recente, uma resposta diante de uma ordem patriarcal que, mesmo não se sustentando mais, parece, ainda assim, insistir e retornar”.

Tal como o personagem de Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas, o narrador é um morto que fala de sua vida. No caso de Marcus Messner, o personagem de Roth, esta narrativa diz respeito às delicadas e complexas relações entre um pai, judeu e açougueiro kosher, “marcado pelo horror à qualquer exceção ou falha”, o que não foi sem consequências sobre o destino do filho. Messner, o filho indignado, busca encontrar saídas para este ordenamento paterno que culminam, paradoxalmente, por conduzi-lo ao pior. Como assinalou Sérgio, certas “decisões banais podem acarretar consequências incontornáveis”. Nesta perspectiva, ele nos indaga se “é possível se safar do que ordena um pai?

Sérgio também nos faz perceber a presença de uma certa ironia implicada neste significante kosher, tão caro à tradição judia e, em especial à trama da vida do protagonista. Kosher em iídiche, designa aquilo que é apropriado ou adequado, assinalando, como este ideal esta em total desacordo com a vida, ou melhor, com a inadequação que é própria ao gozo que rege a vida dos seres falantes.

Por fim, Sérgio indaga se a indignação pode ser uma saída ou se será sempre, como entoa a canção da banda Skank, “uma mosca sem asas” que “não ultrapassa as janelas de nossas casas?”.

Patrícia Ribeiro