• Quinta-feira, 28 de setembro de 2023

  • 14:30 a 18:30 (Hora Argentina)

Conversação NRC-CIEN

A emergência da exasperação entre a criança e o adulto

Efeitos do encontro com o discurso analítico

A exasperação para tratar do que acontece na relação entre os adultos e as crianças, correlaciona-se bem com a emergência. Remete a isso que surge de repente e se faz notar por sua diferença.

O que desencadeia este estado de coisas entre a criança e seu Outro? Consideramos que é um efeito da ruptura das redes simbólicas, afetando a relação do sujeito com a palavra, inclusive sua renúncia.

Isso, indizível, se faz ouvir sob distintas roupagens e, de maneira contingente, confronta os pais, outros adultos e crianças com aquilo que os habita como estrangeiro no interior de cada um, sempre opaco, fazendo com que o familiar se torne estranho. O choque entre o pulsional da criança e o pulsional dos adultos se capta, muitas vezes, como urgência – de ambos os lados – quando o excluído retorna no Outro e exaspera.

Os trabalhos que propomos nesta Conversação visam compartilhar com vocês os produtos da nossa pesquisa deste lugar – que é entre e êxtimo – que assume formas diferentes quando se trata dos pais em questão, das crianças ou dos profissionais que trabalham em instituições, diante do desespero que experimentam. Qual forma isto toma em cada experiência?

Há casos em que esta irrupção leva à consulta com um psicanalista. Abre-se assim a pergunta de como localizar o que provoca o desatino da pulsão, e como se intervém sobre ela para que pais e crianças fiquem advertidos sobre o que inquieta não ser outra coisa senão o próprio gozo localizado no Outro.

Como manejar para que esta exclusão interna do impossível de representar possa alojar-se nos laços de uma maneira suportável? A resposta só pode se dar um por um, acompanhando o dizer que a criança traz com seu sintoma. Acolhendo as palavras, captando a singularidade de seu sofrimento e mal-estar – da criança e de seus pais.

É nisso que um tratamento analítico se distingue daqueles discursos atuais que se atribuem o saber, lançando aos pais um ideal de parentalidade que se apresenta como um imperativo. Como resultado disso, aflora a angústia, a desorientação e a irritação que vão de mãos dadas com uma posição de impotência e desautorização de sua função. Ali, o encontro com o discurso analítico possibilita uma leitura singular e uma implicação que restitui a dimensão do desejo dos pais e o valor de enunciação de sua palavra – e da palavra de cada criança.

Outra forma de eclosão da exasperação que exploraremos nesta Conversação acontece nos laços sociais que se tecem entre e com os profissionais que transitam em diferentes instituições que também se encarregam das crianças. Não podemos desconhecer que, diante de certos impasses, vemos aparecer nos profissionais envolvidos um empuxo à intervenção, que assume, em geral, a forma ideal da busca de regulação e/ou de educação.

Capturados pelos mesmos discursos que regem intervenções ideais que interferem no modo como funcionam, os profissionais que se ocupam da criança, experimentam um empuxo à intervir. E é neste ponto onde nossa responsabilidade (e nosso desejo) são convocados, diante do desafio que implica um analista que possa compartilhar os fundamentos que o discurso analítico oferece para resguardar a dignidade de cada sujeito, de maneira singular, como artífice de um tratamento d’isso que é estranho, premente.

Constatamos os alcances da prática da Conversação em diferentes instituições, ali onde alguma intervenção consegue introduzir um respiro nessas respostas prêt a porter. Ou seja, ali onde com frequência se promove a domesticação da exasperação a partir de práticas educacionais eficazes, e se persegue um êxito sem resto, abrimos a via de tornar possível a invenção de cada sujeito, ou seja, seu sintoma.

Em suma, nos perguntamos como alcançar os significantes que alojam o que está em jogo na exasperação. Aqueles que tocam o pulsional e permitem interpretar o gozo, sempre singular, permitindo ler ou alojar o que acontece entre a criança e o adulto.

Deste modo, tanto nas análises de crianças como na inter-disciplinaridade, trata-se de introduzir uma ética no lugar da aplicação de um protocolo, o que abre a uma via sempre inédita para cada um. O que também nos conduz a uma reflexão acerca de como cada analista tratou o inadmissível na sua própria existência para poder operar ali.

Esperamos vocês no dia 28 de setembro para que coloquem sua voz na Conversação!