Nesta terceira entrega, nossa proposta de citações segue acompanhando as perguntos que o argumento nos coloca.

Nossa via de acesso à investigação “Começar a se analisar”; nem catálogo, nem análogo, a terceira via… a função de chave!

1- O que leva um sujeito a procurar um analista nestes tempos que correm? Como se iniciam as análises hoje?

“Então chegamos à conclusão de que o estar doente do analisando não pode terminar com o início da sua análise, de que devemos tratar a sua doença não como um assunto histórico, mas como uma potência atual”.

Freud, S., (1914) “Lembrar, repetir e perlaborar”, Fundamentos da clínica psicanalítica, Obras incompletas de Sigmund Freud, Vol. 6 (1913), Belo Horizonte, Autêntica Editora, 2017, p. 156

“Nesse caso, o primeiro passo da análise – são célebres as passagens de Freud a esse respeito – é que o sintoma se constitua em sua forma clássica, sem o que não haverá meio de sair dele, porque não haverá meio de falar dele, porque não há como agarrar o sintoma pelas orelhas. O que é a orelha em questão? É o que podemos chamar de o não-assimilado do sintoma, não assimilado pelo sujeito. Para que o sintoma saia do estado de enigma ainda não formulado, o passo a ser dado não é que ele se formule, mas que se desenhe no sujeito uma coisa tal que lhe seja sugerido que há uma causa disso.”

Lacan, J., (1962-1963), O Seminário, libro 10, A angústia, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p. 306.

“Uma análise não é uma aventura intelectual, a práxis de uma análise é um sofrimento, é uma queixa, é uma declaração de um ser que quer mudar e quando esses elemntos faltam, uma análise é muito difícil”

Miller, J.-A., (1989), “La ética del psicoanálisis”, Conferencias Porteñas, Tomo 1, Buenos Aires, Paidós, 2009, p. 253.

2 – Quando começa uma análise?

“Assim como a primeira resistência, também os primeiros sintomas ou os primeiros atos causais dos pacientes podem demandar um interesse especial, denunciando um complexo que domina sua neurose.”

Freud, S., (1913) “Sobre o início do tratamento”. Fundamentos da clínica psicanalítica, Obras incompletas de Sigmund Freud, Vol. 6, , Belo Horizonte, Autêntica Editora, 2017, p. 141

“Trata-se de fazê-los entrar pela porta, que a análise seja um umbral, que haja para eles uma verdadeira demanda. Esta demanda: de quê querem desfazer-se? De um sintoma”

Lacan, J., (1975) “Conferencias en las universidades norteamericanas (2da.parte)”, Revista Lacaniana de Psicoanálisis, N°21, octubre 2016, p.9

“O síntoma, no sentido estrito, é uma emergência, uma irrupção, uma formação sempre localizada, identificável, não só pelo terapeuta, mas também pelo sujeito que a isola como tal. Quando se trata do síntoma analítico, ao menos depois do começo de sua elaboração em análise, é uma formação que se sente como estrangeira, como um enclave”

Miller, J.-A., (1998-1999) , La experiencia de lo real en la cura psicoanalítica, Buenos Aires, Paidós, 2004, p. 164.

3 – Como a clínica do começo de uma análise mudou nos últimos anos?

“A terapia psicanalítica foi criada a partir de e para doentes com incapacidade duradoura de viver, e o seu triunfo é que torna um número satisfatório deles capazes de viver a sua existência de forma duradoura. Então, todo o empenho contra esse sucesso parecerá irrisório.”

Freud S.,, (1905 (1904)) “Sobre psicoterapia”, Fundamentos da clínica psicanalítica, Obras incompletas de Sigmund Freud, Vol. 6, Belo Horizonte, Autêntica Editora, 2017, p.70-71.

“(…) sei o que eu digo é o que não posso dizer. E essa a data marcada pelo fato de Freud haver existido, e de haver introduzido o inconsciente. O inconsciente não quer dizer nada, se não quiser dizer que, diga eu o que disser e onde quer que me posicione, mesmo que me posicione bem, eu não sei o que digo (…)”

Lacan, J., (1971) O Seminário, livro XVIII. De um discurso que não fosse semblante, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009, p. 42.

“O desaparecimento da vergonha quer dizer que o sujeito cessa de ser representado por um significante que valha […] Talvez não haja melhor definição daquele que se propõe a ser analisante. O mínimo que se pode pedir é que se interesse por sua singularidade que não deve a nada senão a esse S1, ao significante que lhe é próprio.”

Miller, J.-A., (2002) “Nota sobre a vergonha”, Opção Lacaniana – Revista Brasileira Internacional de Psicanálise, n. 38, dez. 2003, São Paulo, Escola Brasileira de Psicanálise, Eólia, pp. 13; 14.

4 – Um chamado aos praticantes: Começar a se analisar!

“Contudo, o mérito de nossos trabalhos deve partir do fato de não conter nada que seja aceito com base na autoridade, mas que possa fundamentar-se no resultado de um trabalho laborioso próprio”.

Freud S. - Pfister O.,, (1909-1939) Correspondencia, México, Fondo de Cultura Económica, 1966, p. 20.

“A dificuldade de ser do psicanalista decorre daquilo que ele encontra como ser do sujeito: a saber, o sintoma. Que o sintoma seja ser-da-verdade, e nisso que todos consentem, por sabermos o que quer dizer psicanalise, não importa o que se faça para embaralhá-la.

(…)

Que esse ser-do-saber tenha que se reduzir a ser apenas o complemento do sintoma, eis o que os horroriza e aquilo que, ao elidi-lo, ele faz funcionar no sentido de um adiamento indefinido do estatuto da psicanalise como científica, entenda-se.

Lacan, J., (1966) “Problemas cruciais para a psicanálise”, Outros Escritos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003, p. 208-209.

“Portanto, ao analista se coloca a questão de autorizar que o processo analítico tenha lugar para esse paciente. Embora o analista só se autorize de si mesmo, não ocorre o mesmo com o analisante, e aquí, para o analista, está em jogo um ato. Não se alcança com fechar osolhos e deixar fazer. Ele deve admitir, deve sustentar ou recusar a demanda. Há nisso um ato que consiste em formular como Consuma-se o ato analítico. É algo tão grandioso como Faça-se a luz. Isto não significa que a análise seja deixada para o bem de Deus, mas este Consuma-se o ato analítico é um ato fundador.

Miller, J.-A., (1987-1988) Causa y Consentimiento, Buenos Aires, Paidós, 2019, p. 46.