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CONCEBER UMA CRIANÇA[1]

12 de junho de 2025

 Christiane Alberti[2]  Conceber  O título que vocês deram a esta Jornada[3] chama a atenção de imediato por seu caráter moderno, afinado com a vanguarda da atualidade. De fato, a escolha do termo “conceber” já implica algumas consequências que merecem ser assinaladas. A própria palavra conceber nos interpela, sobretudo quando consideramos sua origem latina – concipere, que significa ‘conter completamente’ –, de onde veio, “formar em si mesmo uma criança”. Assim, a palavra foi primeiramente introduzida para expressar a ideia de “formar uma criança em si” e, simultaneamente, adquiriu um sentido intelectual: “representá-la para si no pensamento”. Desde sua origem, o…

No berço do acorde[1]

6 de junho de 2025

Maria Josefina Sota Fuentes[2] Desde já agradecendo ao Bureau da FAPOL e às organizadoras responsáveis do XII ENAPOL por este convite, começarei pelo ponto de partida do inspirado argumento de Fernanda Otoni[3]: “Partimos daí, do desejo de fazer falar isso que fala a cada um. […]. Mas como fazer falar no ENAPOL essa língua imperfeita?” A via encontrada foi “falar com a criança, porque não fazemos outra coisa numa análise do que fazer falar a criança”. De entrada, pareceu-me importante sublinhar que em uma análise falamos e fazemos falar à criança que nos habita partindo de uma concepção da linguagem…

Crianças inquietantes[1]

6 de junho de 2025

Jorge Chamorro[2]  O que é uma criança? Lembro que Sigmund Freud fala de “o visto e o ouvido”, como as primeiras marcas da pulsão no sujeito. Em relação a essa formulação é necessário acrescentar: o que é falado pela criança. Isso me permite sublinhar dois pontos sobre a criança: O visto, o ouvido e o falado. A neurose infantil. Acrescento ao primeiro ponto que o falado tem efeitos importantes na própria criança e nos outros. No segundo ponto, substituímos neurose infantil por estrutura. Essa substituição modifica a temporalidade, já não se trata da duração do tempo – criança, adolescente, adulto,…

Nada. Ninguém.[1]

28 de maio de 2025

Eugenia Serrano[2] Gosto dessas frases de Freud tão prudentes, judiciosas, antigas, envelhecíeis: As inumeráveis particularidades da vida amorosa humana são restos da infância. A ternura materna é sexual. É a latência que entrega todas as crianças à perversidade. O amor não tem objeto. A pulsão sexual é anormal (não normatizada) (…) Uma espécie sexuada, pode dizer nós? Não. Nunca.” [3] Agradeço ao Charly por ter me aproximado dessa referência tão bonita. A festa freudiana Para mim, sempre é uma festa voltar a Freud. Os anos passam e esse banquete nunca me decepciona. Às vezes penso que se trata do que…

Ser grande não é questão de idade[1]

15 de maio de 2025

Carolina Puchet Dutrénit[2]  Há alguns dias, enquanto dirigia pela minha cidade, vi a propaganda de uma loja de departamento muito conhecida, que me chamou a atenção. Era a fotografia de uma mulher de certa idade e dizia o seguinte: SER GRANDE NÃO É QUESTÃO DE IDADE. Assim que vi a imagem, pensei que o slogan seria o título dessa intervenção. Sem dúvida, os publicitários – talvez sem saber – colocam uma questão muito psicanalítica. De fato, para nós, analistas, o inconsciente não tem idade, trabalhamos com sujeitos, mas o que isso significa? Quando podemos dizer que há aí um sujeito?…

Há e não há gente grande…[1]

Luisa Aragón[2] A cada dois anos, o ENAPOL nos convida ao trabalho com um título provocador que interpreta a vigência da psicanálise frente aos discursos atuais que regem a civilização, produzindo efeitos na subjetividade e no laço social. O argumento do XII ENAPOL e um dos seus eixos retomam a Alocução sobre as psicoses da criança para ressaltar a precisão com a qual Lacan se antecipou e interrogou as consequências que extrairíamos do termo “criança generalizada”.[3] Numa época planetária caracterizada pelo aumento vertiginoso e pelo impacto do discurso capitalista, ligado ao progresso da ciência e da técnica e distanciado da…

O que nos f(a)la a criança?[1]

Alvaro Rendón Chasi[2]  … dele se despediu um religioso: “Acabei acreditando, veja só, neste declínio de minha vida […] que não existe gente grande”[3] Vou me arriscar um pouco em agradecimento a esse convite recebido do Conselho da NELcf e da sua presidenta Ana Viganó: Começo sinalizando que o objeto-criança se transforma em ser humano em algum momento da Idade Média. Assim sustenta o historiador francês Philippe Ariès indicando que a criança era “uma coisinha engraçadinha”; “um animalzinho” com o qual a gente se divertia; “um macaquinho impudico”: “A criança não chegava a sair de uma espécie de anonimato”[4] até…

A EXTRAÇÃO DO OBJETO a*

11 de abril de 2025

Éric Laurent   O que é, para nós, a extração do objeto a? É uma pergunta que me faço depois de ler os textos preparatórios do próximo Congresso da AMP, em Buenos Aires, em abril de 2008. Alguns desses textos começam sua investigação a partir do Seminário 2, quando Lacan fala do luto e diz que “estamos em luto por alguém quando podemos dizer: “eu era sua falta” – “J’étais son manque”. Dessa maneira, neste momento de seu ensino – um momento pré-topológico – Lacan nos faz ler o avesso do que habitualmente estava dentro. No Seminário 5, Lacan nos…

Falar com a criança sob transferência[1]

24 de março de 2025

Ana Viganó[2]   Das múltiplas arestas que o argumento e os eixos do ENAPOL nos propõem, tomarei nesta ocasião aquelas que dão mais ênfase ao eixo 3: Falar com a criança sob transferência. Em um texto que já tem alguns anos, Miller nos apresenta uma sigla um pouco enigmática – ao menos ele quer conservá-la desse modo, como intraduzível ao espanhol de forma literal –, ele diz assim: “dou estas três letras como colofão a ser colocado embaixo de todo ensaio de clínica psicanalítica, por resumir o que a distingue, sendo Clínica-Sob-Transferência”[3]. C.S.T.[4], tais letras indicam que a clínica psicanalítica…

O que fala a psicanálise da criança generalizada[1]

24 de março de 2025

Ludmilla Féres Faria[2]   Em 1967, Lacan é convidado por Maud Mannoni para fazer o fechamento da Jornada da Criança, organizada por ela em torno do tema das psicoses em crianças. Em sua argumentação, ele destaca a segregação como o problema mais crucial da época: “não somente em nosso próprio domínio, o dos psiquiatras, mas até onde se estende o nosso universo, teremos que lidar, e sempre de maneira premente, com a segregação”[3]. Lacan aponta para a segregação não apenas como efeito político e social do discurso, mas para o seu viés estrutural fundamental e seu princípio mesmo, já que…