A EXTRAÇÃO DO OBJETO a
Éric Laurent
O que é, para nós, a extração do objeto a? É uma pergunta que me faço depois de ler os textos preparatórios do próximo Congresso da AMP, em Buenos Aires, em abril de 2008.
Alguns desses textos começam sua investigação a partir do Seminário 2, quando Lacan fala do luto e diz que “estamos em luto por alguém quando podemos dizer: “eu era sua falta” – “J’étais son manque”. Dessa maneira, neste momento de seu ensino – um momento pré-topológico – Lacan nos faz ler o avesso do que habitualmente estava dentro. No Seminário 5, Lacan nos propõe outra leitura do que era banal, dessa sombra do objeto que cai sobre o Eu, dessa realização de algo no Eu. Faz valer a dimensão de extração, de automutilação, que é a via pela qual o sujeito extrai esse objeto que recai sobre o Eu. No Seminário 10, a banda de Moebius destaca o enodamento entre interior e exterior de uma maneira nova: o objeto aparece de maneira radical não somente como extração do interior do corpo, mas também como produção desse corpo e essa produção pode não ser natural, como uma obra, como um ato que se separa do corpo.
Falar com a criança sob transferência
Ana Viganó
Das múltiplas arestas que o argumento e os eixos do ENAPOL nos propõem, tomarei nesta ocasião aquelas que dão mais ênfase ao eixo 3: Falar com a criança sob transferência.
Em um texto que já tem alguns anos, Miller nos apresenta uma sigla um pouco enigmática – ao menos ele quer conservá-la desse modo, como intraduzível ao espanhol de forma literal –, ele diz assim: “dou estas três letras como colofão a ser colocado embaixo de todo ensaio de clínica psicanalítica, por resumir o que a distingue, sendo Clínica-Sob-Transferência”. C.S.T., tais letras indicam que a clínica psicanalítica “propriamente falando, não pode ser senão o saber da transferência, quer dizer, o saber suposto […]
Aprender a falar com isso
Irene Kuperwajs
Falar com o Trauma
A partir do belo argumento apresentado por Fernanda Otoni, tomo uma primeira perspectiva: falar com a criança é falar com o trauma.
Em 1899, Freud escreve a Fliess: “À pergunta: o ‘que aconteceu nos primórdios da infância?’ a resposta é: ‘nada’. Mas o embrião de um impulso sexual estava lá”. O “nada” estabelecido por Freud evoca o furo na existência proposto por Lacan junto com o germe do “gozo que há”, que será lido na análise como um “acontecimento de corpo”.
O que fala a psicanálise da criança generalizada
Ludmilla Féres Faria
Em 1967, Lacan é convidado por Maud Mannoni para fazer o fechamento da Jornada da Criança, organizada por ela em torno do tema das psicoses em crianças. Em sua argumentação, ele destaca a segregação como o problema mais crucial da época: “não somente em nosso próprio domínio, o dos psiquiatras, mas até onde se estende o nosso universo, teremos que lidar, e sempre de maneira premente, com a segregação”. Lacan aponta para a segregação não apenas como efeito político e social do discurso, mas para o seu viés estrutural fundamental e seu princípio mesmo, já que todo discurso produz segregação. Sua tese assenta-se na afirmativa de que a segregação é efeito da universalização, ou seja, resulta da destruição da antiga ordem social em favor do progresso da ciência. Argumenta que os progressos da civilização irão se traduzir não apenas num certo mal-estar, como percebeu Freud, mas numa prática segregatória cada vez mais extensa.