9.1. Obra de Nelson Rodrigues

  • A mulher sem pecado (1941)
    Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família
  • Vestido de noiva (1943)
    Palavras-chave: irmãos; traição na família
  • Álbum de familia (1945)
    Palavras-chave: ficções familiares; pai + família, mãe + família; segredos familiares; traição
    na família
  • Anjo negro (1946)
    Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família
  • Senhora dos afogados (1947)
    Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família; mãe + família
  • Dorotéia (1949)
    Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família
  • Valsa N° 06 (1951)
    Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família
  • A falecida (1953)
    Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família
  • Perdoa-me por me traíres (1957)
    Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família
  • Viúva, porém honesta (1957)
    Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família
  • Os sete gatinhos (1958)
    Palavras-chave: pai + família
  • O beijo no asfalto (1961)
    Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família
  • Toda nudez será castigada (1957)
    Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família
    A vida como ela é…
  • Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família; pai + família;
    mãe + família

• A mulher sem pecado (1941)

Rodrigues, N. (1993). A mulher sem pecado. En S. Magaldi (Comp.). Nelson Rodrigues – Teatro Completo. (pp. 298 – 344). Rio de Janeiro: Nova Aguilar.
Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família

PRIMEIRO ATO
(…)
LÍDIA [esposa de Olegário – inserção nossa] – Bem, meu filho. Vou mudar de roupa.
OLEGÁRIO – Acho graça dessa mania que você tem de me chamar “meu filho”!
LÍDIA (com um suspiro) – Há algum mal nisso?!
OLEGÁRIO – Mal, mal, não há. (outro tom) Mas eu não gosto. p. 305

(…)
OLEGÁRIO – Você olha para mim com um olhar de mártir! Pois bem. Agora mesmo, neste minuto, você pode estar-se lembrando de um amigo, de um conhecido ou desconhecido. Até de um transeunte. Pode estar desejando uma aventura na vida. A vida da mulher honesta é tão vazia! E eu sei disso! Sei!
LÍDIA (nervosa e revoltada) – Você está louco, Olegário, doido! Então, até isso! OLEGÁRIO (repetindo) – “Minha vida não tem mistérios”! Que é então o seu passado, senão um mistério?
LÍDIA (dolorosa) – Mas que é que tem meu passado, meu Deus?
OLEGÁRIO (sombrio) – Eu sei lá o que você andou fazendo antes de mim?
LÍDIA – Antes não importa! Só vale o que eu fiz depois de você!
OLEGÁRIO (veemente) – Está enganada! Afinal de contas, eu me casei também com o passado de minha mulher. p. 307

(…)
OLEGÁRIO – Quero dizer o seguinte: seus atos podem ser puríssimos. Mas seu pensamento nem sempre – seu pensamento, seu sonho. Quem é que vai moralizar o pensamento? O sonho? Você, talvez!
LÍDIA (irônica) – Bonito, bonito. Continue.
OLEGÁRIO – Está bem, vou continuar. Quando um homem vê uma mulher no meio da rua, beija essa mulher em pensamento, põe nua, viola. Isso tudo num segundo, numa fração de segundo – sei lá! Mas seja como for – a imaginação do homem faz o diabo!
LÍDIA (revoltada) – Que é que tem!…
OLEGÁRIO – Se um homem é assim – qualquer homem – por que será diferente a mulher? Se eu posso vibrar com uma bela mulher, por que não vibrará você com um belo homem? Mesmo que esse homem seja um transeunte? P. 307-308

(…)
OLEGÁRIO (cínico) – Você quer saber de uma coisa? Eu acho que a fidelidade devia ser uma virtude facultativa.
LÍDIA (com desprezo) – Desistiu de me chamar de V-8?
OLEGÁRIO (continuando, cínico) – Você não acha que seria negócio para você e para todas as mulheres? Que a fidelidade fosse uma virtude facultativa? A mulher seria fiel ou não, segundo as suas disposições de cada dia. (sardônico) Você com o direito – de ser infiel. Que beleza! P. 314-315

SEGUNDO ATO
(…)
LÍDIA (excitada) – Feliz, eu! (afirmativa) Nunca fui, meu filho! (com ironia e noutro tomComo eu poderia ser feliz abandonada? Abandonada, sim, por um marido que chegava em casa às 2, 3 horas da manhã!
OLEGÁRIO (sem olhar para a mulher) – Diga só uma coisa. Você não teve sempre “tudo” de mim, tudo?
LÍDIA (amarga) – O que é que você chama “tudo”? (noutro tom) Já sei. “Tudo” para você são móveis, casa, automóvel, uma vitrola de 25 contos, cinema, dinheiro!
OLEGÁRIO (sombrio) – Muitas mulheres com muito menos seriam felicíssimas!
LÍDIA (amargurada, repetindo) – “Tudo”! Você se esquece que eu tive “tudo” – como você diz – tudo, menos marido. É o que muitas não têm – muitas – marido! p. 317
(…)
LÍDIA (nervosa) – Quero saber de mim! Você não soube ser marido! Ainda hoje, eu quase não sei nada de amor. O que é que eu sei de amor? p. 318
(…)

OLEGÁRIO – Você era esposa, e não amante! E eu não podia, compreendeu? Para a esposa, existe um limite!
LÍDIA – Ah, eu não compreendi, nunca, esse escrúpulo, esse limite! Eu pensando que o casamento era outra coisa – tão diferente – e quando acaba você foi sempre tão escrupuloso! Até me proibia de ler livros imorais. Tinha um cuidado comigo, meu Deus do céu! (agressiva) Tinha alguma coisa, eu – uma mulher casada – ler certos livros? p. 318
(…)
OLEGÁRIO – Mas eu quero te dizer, ainda, uma coisa. E vou dizer. (num transporteSabes que eu acharia bonito, lindo, num casamento? Sabes? Que o marido e a mulher, ambos, se conservassem castos – castos um para o outro – sempre, de dia e de noite. Já imaginaste? Sob o mesmo teto, no mesmo leito, lado a lado, sem uma carícia? Conhecer o amor, mesmo do próprio marido, é uma maldição. E aquela que tem a experiência do amor devia ser arrastada pelos cabelos… p. 318
(…)
OLEGÁRIO – Bem. Em primeiro lugar, eu queria saber por que os maridos irritam as esposas e vice-versa. Você falou num tom de evidente irritação.
p. 319

(…)
OLEGÁRIO – É por minha causa que você vai à massagista? Ao cabeleireiro? À modista? É? Alguma mulher se enfeita para ser casta? E se não é para mim, para quem é? (berra) Vamos, responda! P. 319

(…)
OLEGÁRIO (sardônico) – Indignidade! (com sombria exasperaçãoVocê está mais bonita do que nunca. Você não podia ser tão bonita. Chega a ser… indecente. Agora é que você é, de fato, mulher. p. 319
(…)

MAURÍCIO [irmão adotivo de Lídia] – Diz que há mulheres que não têm o direito de se conservarem fiéis.
OLEGÁRIO – Ah, sim?… Quer dizer que existem essas mulheres? Mulheres que têm obrigação de trair, o dever da infidelidade? Vê se não é isso. Figuremos uma mulher que deixou de gostar do marido. O simples fato de não gostar implica um direito ou, mesmo, o dever – veja bem! – dever do adultério. Estou certo? P. 320

(…)
OLEGÁRIO – (…) Ninguém é fiel a ninguém. Cada mulher esconde uma infidelidade passada, presente ou futura. P. 322

(…)
OLEGÁRIO (sôfrego) – Preciso que me convenças. Há essa mulher? Que não seja fria. A mulher fria é mil vezes pior que as outras. Pois bem. A mulher incapaz de trair, seja em sonho, pensamento, atos ou palavras. Quem é ela? P. 323

(…)
OLEGÁRIO (numa espécie de monólogo) – O banho de Lídia é agora demorado como nunca… No banheiro, eu sei, tenho certeza de que o próprio corpo a impressiona. O corpo nu, espantosamente nu. Há de acariciar a própria nudez, e talvez, quem sabe? Gostasse de ser amante de si mesma… (ri, com sofrimento) Por que a mulher bonita, linda, não pode ser uma namorada lésbica de si mesma? Seria uma solução… (noutro tom) (…) p. 324

(…)
MULHER – Os dois [Lídia e Maurício – inserção nossa] brincaram juntos em criança! Acontecem coisas terríveis entre meninos e meninas. Você pode imaginar o quê! As crianças têm curiosidade, instintos incríveis! P. 330

(…)
OLEGÁRIO: (…) Por mim, você nunca tiraria a roupa. Nua no banheiro – nunca. (suplicante) O fato de você mesma olhar o próprio corpo é imoral. Só as cegas deviam ficar nuas. (ri) (…) p. 331
(…)

TERCEIRO ATO
(…)
OLEGÁRIO – Deu, deu. Mas eu queria um beijo – você sabe como. (amargurado) Mas beijar um homem como eu deve ser, quase, uma infâmia. (começa a rir, abjetamente) E, ainda por cima, eu sou marido, compreende? E o casamento é assim: nos primeiros dez dias, marido e mulher são dois cações esfomeados… E depois! (começa a rir, outra vez) Depois, evapora-se a volúpia… São tranquilos como dois irmãos… De forma que o desejo da esposa pelo marido parece incestuoso… (grave, num desafio) Por que você não diz, de uma vez, o que sente? p. 337-338

(…)
LÍDIA – Eu acho que você não quer é que eu seja fiel!
OLEGÁRIO – Ah, não?
LÍDIA – Pelo menos, está fazendo tudo para que eu seja – infiel. Não está? Quem meteu na minha cabeça a ideia do pecado? É a sua ideia fixa! (…) p. 338

(…)
OLEGÁRIO – Tenho coragem, sim! (muda de tom e com tristeza mortal) Não acredito em você. Por que você será sempre fiel? Fiel por seis meses, um ano, dois, pode ser. Mas sempre! (aperta entre as mãos o rosto e interroga-a, quase boca com boca) Não é um inferno esta fidelidade sem fim? (baixa a voz) A mulher de um paralítico tem todos os direitos, inclusive o direito, quase a obrigação de ser – infiel. P. 339

(…)
OLEGÁRIO – Pela primeira vez você falou com impudor! (rápido, agarrando-a, olhando o rosto da mulherComo é obsceno um rosto! (um riso soluçante) Por que permitem o rosto nu? P. 339

(…)
Lídia – (…) Mas não passa um dia que eu não deseje a morte de teu filho! (sonhando) Olegário morto… Sem sapatos e com meias pretas, morto… De smoking e morto! (em desespero, como que justificando-seNão sou eu a única mulher que já desejou a morte do marido. (ri, com sofrimento) Tantas desejam, mesmo as que são felizes… (baixa a voz, com espanto) Há momentos em que qualquer uma sonha com a morte do marido… (baixo, outra vezEscuta aqui, sua cretina! (…) p. 341

(…)
OLEGÁRIO (melífluo) – Nada. Não fiz nada com sua mãe. Não a chamei de lavadeira, nem disse que ela vendeu a filha. Aliás, sou a favor das mães mercenárias que até tratam muito bem as filhas, engordam, põem num colégio etc. e tal. Um alto negócio, certas mães! P. 342-343
(…)


• Vestido de noiva (1943)

Rodrigues, N. (1993). Vestido de noiva. En S. Magaldi (Comp.). Nelson Rodrigues – Teatro Completo. (pp. 345-394). Rio de Janeiro: Nova Aguilar.
Palavras-chave: irmãos; traição na família

SEGUNDO ATO
(…)
CLESSI (sem Ihe dar atenção) – Tão branco – dezessete anos! As mulheres só deviam amar meninos de dezessete anos! P. 370

(…)
CLESSl (doce) – Irmãs e se odiando tanto! Engraçado – eu acho bonito duas irmãs amando o mesmo homem! Não sei – mas acho!… p. 378


• Álbum de familia (1945)

Rodrigues, N. (2012). Álbum de família: tragédia em três atos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Palavras-chave: ficções familiares; pai + família, mãe + família; segredos familiares; traição na família

PRIMEIRO ATO
(…)
SPEAKER (extasiado) – Tão bonito pudor em mulher! P. 10
(…)
JONAS (gritando) – Mas ELES estão enganados comigo. Eu sou o PAI! O pai sagrado, o pai é o SENHOR! (fora de si) Agora eu vou ler a Bíblia, todos os dias, antes de jantar, principalmente os versículos que falam da família! P. 22

(…)
JONAS – Vou avisar a todo mundo que se um dia eu a parecer morto, já sabe: não foi acidente, não foi doença – FOI MEU FILHO QUE ME MATOU. (sem transição quaseMas você tem medo de mim. Medo e ódio. Porém o medo é maior. (com perigosa doçuraNão é, Edmundo, o medo não é maior? P. 33

(…)
EDMUNDO – Porque fazem meninos tomar a benção do pai?… Meninos só deviam tomar a benção materna… A mão da mulher é outra coisa… Sua menos, não tem cabelo, nem veias tão grossas. (COMO QUE INTEIRAMENTE DOMINADO, EDMUNDO CURVA-SE RAPIDAMENTE E BEIJA A MÃO PATERNA).
EDMUNDO – Beijei a mão de meu pai em cima de suor. P. 34

SEGUNDO ATO
(…)
EDMUNDO – Seria tudo melhor se em cada família alguém matasse o pai! P. 36

(…)
TIA RUTE (possessa) – Quer dizer, toda mulher tem um homem que a deseja, nem que seja um crioulo, um crioulo suado, MENOS EU! P. 43

(…)
JONAS – Não desejo você! (mude de tomNunca suportei as mulheres que não desejo… POR ISSO DETESTEI SEMPRE MINHA MÃE E MINHAS IRMÃS… (com sofrimento e a maior dignidade possível) Não sei, não compreendo que um homem possa tolerar a própria mãe, a não ser que… (…) p. 45

(…)
(JONAS LEVANTA-SE E APANHA NUM MÓVEL UM PEQUENO CHICOTE, GROSSO E TRANÇADO. BATE COM O CHICOTE NOS MÓVEIS)
JONAS (como um pai à antiga) – Quando um filho se revoltava contra meu pai, ele usava ISTO! Uma vez eu gritei com ele – ele, então, me deu com esse negócio. Me pegou aqui – deixou na cara um vasto lanho, ROXO! P. 46

(…)
GUILHERME (sem ouvi-lo) – Fazes bem em humilhar mamãe. Ela precisa EXPIAR, por que desejou o amor, casou-se. E a mulher que amou uma vez – marido ou não – não deveria sair nunca mais do quarto. Deveria ficar lá, como num túmulo. Fosse ou não casada. Adeus! P. 49 (…)
(…)
GLÓRIA – Eu nunca disse a ninguém, sempre escondi, mas agora vou dizer: não gosto de mamãe. Não está em mim – ela é má, sinto que ela é capaz de matar uma pessoa. Sempre tive medo de ficar sozinha com ela! Medo que ela me matasse! P. 57

(…)
GLÓRIA (contorcendo-se de dor) – Quando eu era menina… pensava que mamãe podia morrer… Ou, então, que papai podia fugir comigo… (revira-se) QUE DOR AQUI! (Glória morre) p. 60

TERCEIRO ATO
(…)
EDMUNDO (mudando de tom, apaixonadamente) – Mãe, às vezes eu sinto como se o mundo estivesse vazio e ninguém mais existisse, a não ser nós, quer dizer, você, papai, eu e meus irmãos. Como se a nossa família fosse a única e primeira (numa espécie de histeria). Então, o amor e o ódio teriam de nascer entre nós. (Caindo em si) Mas não, não! (Mudando de tom) – Eu acho que o homem não devia sair nunca do útero materno. Devia ficar lá, toda a vida, encolhidinho, de cabeça para baixo, ou para cima, de nádega, não sei. P. 70

(…)
EDMUNDO – O céu, não depois da morte; o céu, antes do nascimento – foi teu útero… p. 70
(…)
JONAS – Mas nem isso – nem FÊMEA você era… ou foi… comigo. Nem você, nem nenhuma mulher que eu conheci. (para si mesmo, numa insatisfação louca) Todas me deixam mais nervosos do que antes – doente, doente, querendo mais não sei o quê. (numa afirmação histérica) Nem FÊMEAS as mulheres são!
(JONAS DIRIGE-SE AO EDMUNDO)
JONAS – O que mais me admira é que ela sempre foi FRIA! Nunca teve uma reação, nada. Parecia morta!
D. SENHORINHA (numa espécie de histeria, para o filho) – Está ouvindo – o que ele disse? Que eu era FRIA!
(EDMUNDO ESTÁ IMPASSÍVEL)
D. SENHORINHA (triunfante) – Era essa a confidência – a COISA ÍNTIMA que eu ia lhe contar, meu filho, fui sempre FRIA! P. 84

(…)
D. SENHORINHA – Edmundo me escrevia bilhetes, mas tão bonitos! Esse aqui tem esse pedaço que diz assim – deixa eu ver, ah! – essa parte… “só você existe no mundo. Eu queria tanto voltar a ser o que já fui: um feto no teu útero”. P. 87

(…)
JONAS – Quando acabei de matar Teotônio – olhei para você; e vi que você não era mais nada para mim, coisa nenhuma. Até a nossa cama parecia outra, não a mesma – como se fosse uma cama estranha, desconhecida – INIMIGA! Foi dali que comecei a te odiar, por que não te desejava mais… (Depois de uma pausa, apaixonadamente) – Mas eu devia ter adivinhado, desde que Glória nasceu, que você não era meu amor!
D. SENHORINHA (com a mesma paixão) – Pois eu ADIVINHEI o meu amor, quando nasceram Guilherme, Edmundo, Nonô! P. 90

(…)
JONAS – Eu podia mandar buscar Glória no colégio, mas ia adiando, tinha medo. Quando se ama deve-se possuir e matar a mulher.(com sofrimento) Guilherme tinha razão: a mulher não deve sair viva do quarto; nem a mulher – nem o homem. P. 90

(…)
D. SENHORINHA – Eu não quis esquecer; eu ao quis fugir; eu não tive medo, nem vergonha de nada. (possessa) Não botei meu filhos no mundo para dar a outra mulher! P. 91

(…)
D. SENHORINHA (insultante) – Se você soubesse o nojo que eu sempre tive de você, de todos os homens!
(MUDANDO DE TOM, NUMA ATITUDE DE ADORAÇÃO)
D. SENHORINHA (acariciando o próprio ventre) – Só tenho amor para meus filhos! P. 92


• Anjo negro (1946)

Rodrigues, N. (1993). Anjo negro – tragédia em três atos. En S. Magaldi (Comp.). Nelson Rodrigues – Teatro Completo. (pp. 571 – 624). Rio de Janeiro: Nova Aguilar.
Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família

PRIMEIRO ATO
(…)
Senhora – Nunca a mulher devia deixar de ser virgem!
Senhora – Mesmo casando, mesmo tendo filho. Oh Deus, malditas as brancas que desprezam preto! P. 582
(…)

SEGUNDO ATO
(…)
Elias – (pleno sonho) – Você nunca se imaginou morta? (segura Virgínia pelos dois braços) Eu mesmo – e não ele; ele não – eu seria capaz de matar você. Sem ódio, sem maldade – por amor; para que ninguém acariciasse você e para que você não desejasse ninguém – ficasse para sempre com a boca em repouso, os seios em repouso, os quadris quietos, inocentes…
p. 591
(…)
Virgínia – É tão fácil simular! Qualquer mulher finge (absolutamente cruel) Vai, não te quero ver nunca mais. Se apareceres aqui, se voltares aqui – eu direi a ele, contarei tudo! P. 592

(…)
Elias – Ama meu filho… como a mim mesmo!…
Virgínia – (agarrando-se a Elias) – Como a ti mesmo! Tu podes morrer, não podes? (olha para o marido) É tão fácil morrer! Mas guarda em ti estas palavras: sinto que amarei teu filho não com amor de mãe mas de mulher. (muda de tom, olhando, apavorada, para o marido que permanece impassível) Não, Elias, não! Estou doida! Isso é um delírio (sempre olhando para o marido, em voz baixa), um calmo delírio que me faz dizer loucuras… p. 605
(…)

TERCEIRO ATO
(…)
Virgínia – Por que você não acudiu, Ismael?
(Pausa.)
Ismael – Porque é uma estranha e desconhecida, como são todas as mulheres para mim. Menos uma. P. 607

(…)
Virgínia – (num desafio) – E cego, por que não? Seria melhor cego, até melhor, Ismael. Se ele [o filho] não enxergasse, seria mais meu, eu o tomaria para mim, só para mim, não deixaria que ninguém – nenhuma mulher – surgisse entre nós. Eu e ele criaríamos um mundo tão pequeno, tão fechado, tão nosso, como uma sala… como uma sala, não! Como um quarto… (eufórica) Nada mais que este espaço, nada mais que este horizonte – o quarto. P. 609

(…)
Ismael (num grande riso, apontando para a mulher) – Quando viste que era menina – teus olhos escureceram de ódio. Tu odiaste tua filha, Virgínia. Confessa!
Virgínia (com sofrimento) – Naquele momento, sim. (com vergonha do próprio sentimento) Naquele momento eu odiei. P. 610


• Senhora dos afogados (1947)

Rodrigues, N. (1993). Senhora dos afogados – tragédia em três atos. En S. Magaldi (Comp.). Nelson Rodrigues – Teatro Completo. (pp. 671-728). Rio de Janeiro: Nova Aguilar.
Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família; mãe + família

PRIMEIRO ATO
(…)
AVÓ – Precisam, sim!… (para os vizinhos) Na nossa família, as mulheres se envergonham do próprio parto, acham o parto uma coisa imoral – imoralíssima… P. 674

(…)
AVÓ – Não! Não é da família, Moema. Nem noivo, nem marido, nem amante são da família. Teu noivo é um estranho, um desconhecido. E, depois, quando te casares, ele continuará sendo um estranho, um desconhecido. Não é, nunca será um Drummond… E terás filho de um estranho… Que sabes tu deste desconhecido? P 678

(…)
D. EDUARDA (Apontando para o rosto do vizinho) – Mas este não é o teu rosto – é tua máscara. Põe teu verdadeiro rosto.
VIZINHO – Com licença.
(O vizinho põe uma máscara hedionda que, na verdade, é a sua face autêntica) p. 679

(…)
PAULO – Jura… Na nossa família todas as esposas são fiéis… A fidelidade já deixou de ser um dever – é um hábito. Te será fácil cumprir um hábito de trezentos anos… Por que me olhas assim? P. 684

(…)
(Abre o pano e Misael vai entrando, em companhia de Moema. Toda a família se reúne num grupo estático. O único sentado é o próprio Misael, o chefe de família, que acaba de chegar do banquete. Há, nele, qualquer coisa de profético, nos olhos duros, na barba imensa e negra, nas faces fundas. Faz pensar também numa intensa sensualidade contida. A seu lado, à direita, nobre e altiva, D. Eduarda; à esquerda, fria e inescrutável, Moema. Ao lado da irmã, Paulo, com uma expressão de doçura feminina. Aos pés de Moema, a avó. Todos imóveis e convencionais, como se o grupo fosse uma pose de fotografia. Vem os vizinhos e atiram insultos contra a família; têm esgares; gestos de ira, de maldição. Os Drummond nada sentem nada vêemp. 684

SEGUNDO ATO
(…)
MOEMA – Afoguei minhas irmãs, como de ferisse no meu próprio ser… Afoguei as filhas que preferias e acariciavas, enquanto eu sofria na minha solidão… P. 707
(…)


• Dorotéia (1949)

Rodrigues, Nelson. Dorotéia – drama em três atos. Roteiro de Leitura e notas de Flávio Aguiar – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006
Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família

PRIMEIRO ATO
“Casa das três viúvas — d. Flávia, Carmelita e Maura. Todas de luto, num vestido longo e castíssimo, que esconde qualquer curva feminina. De rosto erguido, hieráticas, conservam-se em obstinada vigília, através dos anos. Cada uma das três jamais dormiu, para jamais sonhar. Sabem que, no sonho, rompem volúpias secretas e abomináveis.(…)” P. 09

(…)
D. Flávia — Não me lembro, nem precisa… Sabemos de tudo que acontece com parente… Quando alguém na família morre ou dá um mau passo, recebemos a notícia imediatamente… Na mesma hora, no mesmo instante… Ninguém precisa dizer… É como se uma voz fosse, de porta em porta, anunciando… e um dia nós estávamos na mesa… P. 11

(…)
DOROTEIA — Desculpe — noite… Na noite do casamento, nossa bisavó teve a náusea… (desesperada) do amor, do homem! P. 12

(…)
DOROTEIA – (baixo) — Desde então há uma fatalidade na família: a náusea de uma mulher passa para a outra mulher, assim como o som passa de um grito a outro grito… Todas nós — eu também! — a recebemos na noite do casamento… P. 13

(…)
D. Flávia – (frenética) — A outra Doroteia se afogou de ódio, de dor… Ela não podia viver sabendo que por dentro do vestido estava seu corpo nu… P. 21

(…)
D. Flávia — É também esta a nossa vergonha eterna!… (baixo) Saber que temos um corpo nu debaixo da roupa… Mas seco, felizmente, magro… E o corpo tão seco e tão magro que não sei como há nele sangue, como há nele vida… (gritando) Que vens fazer nesta casa sem homens, nesta casa sem quartos, só de salas, nesta casa de viúvas? (exultante) Procura por toda parte, procura debaixo das coisas, procura, anda, e não encontrarás uma fronha com iniciais, um lençol, um jarro! P. 21

(…)
Dorotéia – Sei, claro… (veemente) Eu mesma acho que a família tem o direito de exigir! (mais positiva) E de humilhar… (humilde) Não pensem que eu estou contra a minha humilhação… Nunca! Até quero ser humilhada… Me desfeiteiem, se quiserem. (misteriosa) Estou desconfiada que a morte do meu filho já foi um aviso… P. 28 – 29
SEGUNDO ATO
(…)
Carmelita — Eu não desejaria nada mais… As botinas, só… E bastariam… Não haveria testemunha… (veemente) Tudo que não tem testemunha deixa de ser pecado… P. 49

TERCEIRO ATO
(…)
D. Flávia (feroz) — Foi bom que tivesses nascido morta!… (lenta) Porque serias uma perdida… E não como nós… Não aceitaste em ti a náusea… em vez de enjoo, a volúpia… a adoração… Jamais serias como eu, que jamais amei ninguém, nem a mim mesma! (gritando) Por que continuas nesta casa, se és morta? P. 63


• Valsa N° 06 (1951)

Rodrigues, N. (2012). Valsa n°06: peça em dois atos. [notas e roteiro de leitura de Flávio Aguiar].Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família

SEGUNDO ATO
(…)
Eu preferia morrer!
(solene)
Jamais homem casado roçou meu corpo com a fímbria de um desejo! P. 34-35

(…)
Mas Sônia anda triste.
Chora sem motivo…
Ou ri demais!
(baixa a voz)
Deu para ter vergonha de tudo.
De tudo, doutor!
Uma coisa por demais!
(pigarro)
A idade, minha senhora, a idade. A transição.
Idade?
(informativa)
Sônia tinha de 14 para 15 anos.
Quinze.
Ou 15.
Começou a ter vergonha de tudo. Dos próprios pés.
Seu coração palpitava, se ela via os próprios pés,
(doce)
frios e nus, sem meias e sem sapatos.
(pudor)
Pés despidos, meu Deus! P. 36-37

(…)
Vítima, não! O nome! Quero o nome!
(chega à boca de cena, apela para a plateia)
Alguém sabe o nome? Quem sabe diga, pelo amor de Deus! Eu não quero nada demais, apenas o nome!
(chorando)
E o que é um nome?
(novo tom)
Pois dizem que a vítima estava tocando uma música..
(senta-se, feroz, ao piano)
Esta?
(“Valsa n°6”)
É, não, é?
(mais cochicho) p. 41
(…)


• A falecida (1953)

Rodrigues, N. (2006). A falecida: tragédia carioca em três atos. [roteiro de leitura e nota Flávio Aguiar]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família

PRIMEIRO ATO
(…)
CUNHADO – Muito curioso!
TUNINHO – Mas como? – perguntei eu a minha mulher – você tem nojo de seu marido? Zulmira rasgou o jogo e disse assim mesmo: “Tuninho, se você me beijar na boca, eu vomito, Tuninho, vomito!”
SOGRA – Ora veja!
CUNHADO – (de óculos e livro debaixo do braço) – Caso de psicanálise!
OUTRO – De quê?
CUNHADO – Psicanálise.
OUTRO (feroz e polêmico) – Freud era um vigarista! P. 24

(…)
MÃE – Mas oh minha filha! oh!
PAI – O marido tem seus direitos!
MÃE – Onde se viu negar amor ao marido?
PAI – Você se casou porque quis!
(Zulmira desespera-se, em cima da cadeira.)
ZULMIRA (clamando) – Tudo menos beijo! Beijo, não! (baixo e grave) Eu admito tudo em amor. Mas esse negócio de misturar saliva, com saliva, não! Não topo! Nunca!
(Zulmira baixa a cabeça.)
ZULMIRA – Nenhuma mulher devia pertencer a homem nenhum!
MÃE – Nem ao marido?
ZULMIRA (incisiva) – Nem ao marido!
MÃE (patética) – Minha filha, nem oito, nem oitenta! P. 25

(…)
ZULMIRA (num crescendo) – Eu te nego amor! Não tens amor na tua casa! E se eu própria te mandasse buscar, esse amor que te falta, com outra mulher?… P. 27
(…)
TUNINHO (atônito) – Quer dizer quer você, minha esposa, está me empurrando pra cima de outra mulher?!…
ZULMIRA (caindo em si) – Eu?
TUNINHO – Pois é. P. 28

SEGUNDO ATO
(…)
1o. FUNCIONÁRIO – Entra de sola, que mulher gosta é disso! P. 49

(…)
TIMBIRA – Mas então explica por quê? A troco de quê, tudo isso?
1o. FUNCIONÁRIO – Tu ainda não desconfiaste que as mulheres são completamente malucas? P. 49

(…)
OROMAR – Estou com uma pena danada do Tuninho… A mulher morre na véspera do Vasco X Fluminense… O enterro é amanhã… Quer dizer que ele não vai poder assistir ao jogo.. Isso é o que eu chamo de peso tenebroso!… P. 56

TERCEIRO ATO
(…)
PIMENTEL – Teu marido te fez alguma coisa?
ZULMIRA (incisiva e rancorosa) – Fez.
PIMENTEL – Alguma maldade?
ZULMIRA (veemente) – Pior que maldade. Uma coisa que eu não perdôo, nunca!
PIMENTEL – Diz.
(Ergue-se Zulmira. Vem até à boca de cena.)
ZULMIRA (dolorosa) – Começou na primeira noite… Ele se levantou, saiu do quarto… Para fazer, sabe o quê?
PIMENTEL – Não.
ZULMIRA (num grito triunfal) – Lavar as mãos!
PIMENTEL – E daí?
ZULMIRA – Achas pouco? Lavava as mãos, como se estivesse nojo de mim! Durante todo a lua-de-mel, não fez outra coisa… Então, eu senti que mais cedo ou mais tarde havia de traí-lo! Não pude mais suportá-lo… Aquele homem lavando as mãos… Ele virava-se para mim e me chamava de fria. P. 67-68 (…)


• Perdoa-me por me traíres (1957)

Rodrigues, N. (2012) Perdoa-me por me traíres: tragédia de costumes em três atos. [roteiro de leitura e notas de Flávio Aguiar]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família

SEGUNDO ATO
(…)
GILBERTO – Gostou?
JUDITE (Num soluço) — Como é bom! Bom demais!
GILBERTO (Arrebatado) — Minha histérica!
JUDITE (Com voluptuoso apelo) — Não me chame disso!
GILBERTO (Com divertido espanto) — Ué, você queria ser fria?
JUDITE – Isola.
GILBERTO (Trincando os dentes) — Gosto que sejas assim: meio histérica! JUDITE (Rindo) — Sou normal, ouviu, seu malcriado?
GILBERTO (Rindo) — Normal mas custa! P. 38

(…)
TIO RAUL (Possesso) — Você resiste à evidência? Você recusa os fatos? Recusa as provas?
GILBERTO – Recuso! Eu não acredito em provas, eu não acredito em fatos e só acredito na criatura nua e só.
TIO RAUL – Mas é uma adúltera.
GILBERTO – A adúltera é mais pura porque está salva do desejo que apodrecia nela. P. 57

(…)
GILBERTO Na casa de saúde eu pensava: nós devemos amar a tudo e a todos. Devemos ser irmãos até dos móveis, irmãos até de um simples armário! Vim de lá gostando mais de tudo! Quantas coisas deixamos de amar, quantas coisas esquecemos de amar. Mas chego aqui e vejo o quê? Que ninguém ama ninguém, que ninguém sabe amar ninguém. Então é preciso trair sempre, na esperança do amor impossível. (agarra o irmão) Tudo é falta de amor: um câncer no seio ou um simples eczema é o amor não possuído! P..57-58

(…)
GILBERTO É que Judite não é culpada de nada! E, se traiu, o culpado sou eu, culpado de ser traído! Eu o canalha! P. 58

(…)
GILBERTO (Num soluço imenso) – Perdoa-me por me traíres!

(…)
GILBERTO – Amar é ser fiel a quem nos trai! p.59


• Viúva, porém honesta (1957)

Rodrigues. N. (2012). Viúva, porém honesta: farsa irresponsável em três atos. [roteiro de leitura e notas de Flávio Aguiar]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família

PRIMEIRO ATO
(…)
MADAME CRI-CRI (para o psicanalista) — Doutor, nós so­mos colegas, doutor!
DR. LUPICÍNIO — Como assim, Madame?
MADAME CRI-CRI — Oh, sim! Nós tratamos do sexo, eu, no meu casa [1] [sic], o doutor, no seu consultório! P. 14

(…)
MADAME CRI-CRI – Mulher também deve ser orientada no adultério! P. 16

(…)
IVONETE – Vive bem com sua mulher? Vai dizer que vive bem. Mentira. Vive mal. Não se pode viver com um marido que não mor­reu. O senhor está vivo. Já imaginou como o senhor deve ser chato em casa? No quarto, no banheiro? E se a sua senho­ra, achando que o senhor é realmente chato, resolve traí-lo? Pôr-lhe uns chifres? P. 24

(…)
IVONETE – Portanto, só a viúva é que deve ser fiel, só. As outras, não. As outras não precisam. P. 24

SEGUNDO ATO
(…)
DR. LAMBRETA – Madame, eu tenho uma teoria acerca da idade feminina. Na minha opinião, a mulher só devia ter quinze anos, nem um minuto a mais, nem um minuto a menos… P. 33-34

(…)
DR. LAMBRETA – Garganta, língua, gengivas vermeIhinhas como romã… Madame, essa menina tem razão em não querer abrir a boca… Uma boca aberta é meio ginecológica, madame… Afinal, o dentista acaba sendo ginecologista… (espantado) Mas vejam só! P. 44

(…)
MADAME CRI-CRI – Oh, mulher sempre escolhe mal o ma­rido… Mulher só escolhe bem o aman­te… Vamos ouvir o opinion do menina! p. 44

(…)
MADAME CRI-CRI – Todas casam errado! Fácil encon­trar um marido — difícil encontrar um homem! p. 49

[1] Madame Cricri é uma imigrante polonesa, em razão disso, suas falas apresentam erros de concordância, sobretudo, de gênero.

TERCEIRO ATO
(…)
OTORRINO – Os senhores estão vendo que, num casamento, o golpe é: quartos separados! P. 53

(…)
OTORRINO – Perdão, madame! Insisto. A intimidade do leito em comum sugere grossas bandalheiras! P. 53

(…)
PSICANALISTA – E acha que o amor é uma bandalheira?
OTORRINO – Entre marido e mulher, sim. Entre marido e mulher, deve haver respeito, sim, senhor. Ou bem o lar é lar ou é gafieira! P. 53

(…)
PSICANALISTA – O papel da família é ser chata ou, en­tão, não é família, é mafuá! P. 58

(…)
DIABO DA FONSECA – Obrigado. (para Ivonete) A senhora já mediu bem as conseqüências do seu ato? Note bem: trair é mais importante que casar. Casar qualquer um casa, mas trair exige classe! Pensou bem? p. 58

(…)
DIABO DA FONSECA – Declaro-vos amantes, até segunda ordem. (Pardal roça os lábios na testa de Ivonete) Meus filhos, na união de um ho­mem e de uma mulher, o que interessa não é a cama, não é o quarto, não é a sala, e sim o banheiro. “O banheiro”, disse eu e repito.
DR. J.B. – Mais discurso, oh!
DIABO DA FONSECA – Pergunto: qual é o único cômodo me­tafísico da casa? O banheiro! Sim, meus caros amantes: o banheiro tem um trono, no uso do qual o homem vira um “Rei Lear”. E digo mais: o banheiro é tão im­portante que é nele que morre o amor. p. 60

(…)
IVONETE (fala com voz e modos de menina melíflua) – Olha, papai: a Luci me disse que ne­nhuma mulher pode gostar do mesmo homem por mais de quarenta minutos. E, agora, silêncio, porque está na hora da novela e eu vou ouvir a novela.
p. 63

(…)
MADAME CRI-CRI – O viuvez é um bilhete premiado!
p. 63

(…)
IVONETE – Deixou de ser. Papai, a Luci me dis­se, espia só: o grande marido é o que morreu. O único que merece fidelidade. Papai, todos os amantes, que eu ia ter, que estavam programados, eu passo adiante. p. 64

(…)
MADAME CRI-CRI – A mulher tem nostalgia do surra. Uns pancadinhas salvam o mulher do neurastenia conjugal.p. 66

(…)
DIABO DA FONSECA – Que família? A tua? A dele? E vou provar o seguinte, querem ver? Que é falsa a família, falsa a psicanálise, falso o jornalismo, falso o patriotismo, falsos os pudores, tudo falso! (põe-se no meio do palco e berra) Olha o rapa! p. 68


• Os sete gatinhos (1958)

Rodrigues, N. (2012). Os setes gatinhos: divina comédia em três atos e quatro quadros. [roteiro de leitura e notas de Flávio Aguiar]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Palavras-chave: pai + família

TERCEIRO ATO
HILDA — O homem goza chorando, chora morrendo! P. 66


• O beijo no asfalto (1961)

Rodrigues, N. (2005) O beijo no asfalto: tragédia carioca em três atos. [roteiro de leitura e notas de Flávio Aguiar]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família

TERCEIRO ATO
(…)
APRÍGIO (na sua euforia) — Pensei que. (abrindo o riso) Mas quem sabe? Talvez você tenha. (muda de tom, com uma seriedade divertida) Realmente, quando uma filha se casa, o pai é um pouco traído. Não deixa de ser traído. O sujeito cria a filha para que um miserável venha e. (muda de tom, novamente, com uma ferocidade jocunda) Em certo sentido, Selminha cometeu um adultério contra mim! (numa gargalhada selvagem e canalha, que ninguém entende) Boa! boa! (termina a cena com as gargalhadas do pai e os soluços da filha) P. 86

(…)
SELMINHA (sem ouvi-la e só escutando a própria voz interior) – Uma coisa que me dá vontade de morrer. Como é que um homem pode desejar outro homem. (veemente e voltando-se para a irmã) Dália, você entende? Entende eu? Sei que, agora, quando um homem olhar para o meu marido. Vou desconfiar de qualquer um, Dália! (com uma brusca irritação) Aliás, Arandir tem certas coisas. Certas delicadezas! E outra que eu nunca disse a ninguém. Não disse por vergonha. (com mais veemência) Mas você sabe que a primeira mulher que Arandir conheceu fui eu. Acho isso tão! Casou-se tão virgem como eu, Dália! P. 94

(…)
ARANDIR (numa alucinação) — Dália, faz o seguinte. Olha, o seguinte: — diz a Selminha. (violento) Diz que, em toda minha vida, a única coisa que se salva é o beijo no asfalto. Pela primeira vez. Dália, escuta! Pela primeira vez, na vida! Por um momento, eu me senti bom! (furioso) Eu me senti quase, nem sei! Escuta, escuta! Quando eu te vi no banheiro, eu não fui bom, entende? Desejei você. Naquele momento, você devia ser a irmã nua. E eu desejei. Saí logo, mas desejei a cunhada. Na Praça da Bandeira, não. Lá, eu fui bom. É lindo! É lindo, eles não entendem. Lindo beijar quem está morrendo! (grita) Eu não me arrependo! Eu não me arrependo! P. 98-99 (…)
(…)
ARANDIR — Dália, eu mato tua irmã. Amo tanto que. (muda de tom) — Eu
ia pedir. Pedir à Selminha para morrer comigo. P. 99

(…)
ARANDIR (atônito e quase sem voz) — O senhor me odeia porque. Deseja a própria filha. É paixão. Carne. Tem ciúmes de Selminha.
APRÍGIO (num berro) — De você! (estrangulando a voz) Não de minha filha. Ciúmes de você. Tenho! Sempre. Desde o teu namoro, que eu não digo o teu nome. Jurei a mim mesmo que só diria teu nome a teu cadáver. Quero que você morra sabendo. O meu ódio é amor. Por que beijaste um homem na boca? Mas eu direi o teu nome. Direi teu nome a teu cadáver. (Aprígio atira, a primeira vez. Arandir cai de joelhos. Na queda, puxa uma folha de jornal, que estava aberta na cama. Torcendo-se, abre o jornal, como uma espécie de escudo ou de bandeira. Aprígio atira, novamente, varando o papel impresso. Num espasmo de dor, Arandir rasga a folha. E tomba, enrolando-se no jornal. Assim morre) P. 104

• Toda nudez será castigada (1957)

Rodrigues, N. (1993). Toda nudez será castigada – obsessão em três atos. En S. Magaldi (Comp.). Nelson Rodrigues – Teatro Completo. (pp. 1049 – 1107). Rio de Janeiro: Nova Aguilar.
Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família

PRIMEIRO ATO
(…)
PATRÍCIO – (exaltando-se) – Eu sou o cínico da família. E os cínicos enxergam o óbvio. A salvação de Herculano é mulher, sexo! (triunfante) Para mim, não há óbvio mais ululante! P. 1055 (…)

TERCEIRO ATO
(…)
MÉDICO – É o homem, sempre o homem, Herculano. Não há, nunca, houve o canalha integral, o pulha absoluto. O sujeito mais degradado tem a salvação em si, lá dentro. P. 1101

• A vida como ela é…

Rodrigues, N. (2012). A vida como ela é… Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Palavras-chave: ficções familiares; segredos familiares; traição na família; pai + família; mãe + família

“Bebeto é da seguinte teoria: entre homem e mulher não há perversão. Vale tudo!” p. 45

“O pai morreu no fim dos três meses. Antes, porém, acusou a mulher: ‘Você é uma criminosa. Você está transformando meu filho num maricas. Escreve o que eu vou te dizer: meu filho vai ser um degenerado.’ Ela ouviu tudo isso, sem protesto, por se tratar de um moribundo; mas trançou os dedos em figa. Quando voltou do cemitério, não pôde evitar um suspiro de alívio. Ia poder, enfim, educar o filho à sua maneira. Alipinho estava na época, com 13 anos e era, realmente, uma flor.” P. 58

“Ela teimou dardejando um olhar para o Alipinho: ‘Só a mulher precisa casar.’ P. 59

“Houve um momento em que, quase, quase, Osvaldina mandou o namorado passear. Mas a verdade é que o amava com um desses amores de fado, uma dessas paixões que escravizam a mulher.(…)” p. 69

“(…) O que havia, no mais íntimo de si mesma, era uma angústia intolerável, a vontade de fugir e, ao mesmo tempo, um ressentimento contra o marido que não se fizera amar. (…)” p.95
“(…) Acordava mais cedo do que o marido, para que ele não lhe visse a cara de sono; e se havia doença que a exasperasse eram os resfriados que dão as corizas. Idealizara para si e para o marido uma vida conjugal muito doce e perfeita. Houve um momento, durante o noivado, em que sugeriu quartos separados para quando se casassem. Alegava que assim preservariam melhor a ilusão amorosa.(…)” p. 97

“Uma vizinha fez o veneno: ‘Mas olha que não há homem fiel. O homem fiel nasceu morto.'” (…) P. 98

“Toda sua doçura de menina se fundia em paixão, ódio. Então, subitamente serena, Regina compreendeu que certas esposas precisam trair para não apodrecer.” P. 101

“(…) Ora, desde que se capacitara da própria honestidade, um simples olhar bastava para a conspurcar. Ela própria sustentava a teoria de que nada é tão imoral no homem quanto o olhar. (…)” p. 115

“(…) Luci tremeu. Pela primeira vez, em sua vida, compreendia toda a patética fragilidade do sexo feminino, todo o imenso desamparo da mulher.(…)” p. 116

” – Se isso é ou não é amor, só Deus sabe. Mas uma coisa te digo: casamento não tem nada a ver com amor. E nem se deve amar a própria esposa. Não é negócio e só dá dor de cabeça. Compreendeste?
Essas ideias, que o desconcertavam pelo cinismo, faziam Armando sofrer. Chagas continuava: ‘A esposa é a companheiro, a sócia.’ Em suma: só faltou dizer que a rua, e não o lar, era compatível com o amor. (…)” p. 121

“(…) Por outro lado, descobrira que há no ódio mais obstinação, mais exclusividade, mais fidelidade do que no amor. Só se pode odiar uma pessoa.(…)” p. 159

” – O home fiel é uma besta! Podia andar de quatro, trotar no meio da rua!” p. 167

“(…) Em matéria de amor, qualquer homem é um canalha!” p. 169

“Detinha o olha, de alto a baixo:
– Se não me deres esse filho, eu vou te odiar até meu último dia de vida.” p. 188

“Mas ele, teimoso, deblaterava, ainda: ‘Eu dou muita importância ao passado de uma mulher.’ E sublinhava: ‘O passado é tudo’. O outro riu: ‘Então, você está num mato sem cachorro. Porque hoje, todas têm passado, todas!’ (…)” p. 207

“(…) Te digo mais: casamento é uma coisa e o amor é outra.” p. 216

“(…) Fez mesmo uma frase: ‘A maior inimiga da mulher é a própria mulher.'” p. 245

“O menino era a adoração daquela família de mulheres. Homens, ali, só mesmo o pai, um médico frustrado, e Bebeto, o filho único, então com cinco anos. Criado nas saias da mãe, das tias, da babá negra, submetido a um carinho extremo e histérico, o guri saíra um fenômeno. Apesar da idade, ainda usava chupeta e, na falta desta, metia os cinco dedos na boquinha glutona e os chupava, ferozmente. (…)” p. 259
“Pois é. Pediu que eu tivesse cuidado com a lua de mel, porque esse negócio de amor mexe muito com a gente e pode provocar uma crise.” p. 266

“Achava que marido e mulher devem ter a mesma classe, a mesma cultura ou incultura.” p. 299

“Foi uma vez e muitas outras. Desde a primeira tarde, foi de um abandono muito lindo. Despiu-se toda, ou por outra: deixou apenas o sutiã. (…)” p. 300

“(…) Dir-se-ia que a infâmia de um único homem implicava todos os demais. (…)” p. 314

“(…) Quase ao amanhecer, quando já sumia a última estrela da noite, Norma escreveu, a lápis, na parede: ‘Os homens não gostam de mulher fiel.'(…)” p. 314

“Certas mulheres são naturalmente predispostas à solidão”. p. 340

“Marília sentiu-se materialmente atravessada por esse olhar de homem.” p. 341

” – Em amor, a seleção é um equívoco ou, pior, uma deficiência. Só os insuficientes é que escolhem muito, escolhem demais. Meu amigo, a natureza não manda o senhor preferir a Ava Gardner, a Lollobrigida. Para a natureza, qualquer mulher é mulher. (…)” p. 390

” – Meu amigo, se todos os maridos fossem como o senhor, a loucura feminina seria mínima. O que põe a mulher no hospício, quase sempre, é a falta de amor. Batata!” p. 390

“D. Branca, que era até bonita, enfeiou depressa, pois o pior inimigo da beleza são os cuidados de mãe.” p. 402

” – Sua mulher anda fazendo os piores papéis. Ou você ignora? – E, já, com os olhos turvos, uma vontade doida de chorar, interpelava-o: – Você é ou não é homem?
Foi sóbrio:
– Sou pai.” p. 428

“(…) Com 16 anos de casada, percebia que, num casal, pior que o ódio é a falta de amor.” p. 431

“(…) Boa, normal, afável com os demais, só era cruel com aquele homem que deixara de amar. (…)” p. 432

” – Esse homem não fala, mamãe. Não diz uma palavra! A senhora sabe o que é passar horas, dias, ao lado de um marido que não abre a boca? Eu acabou maluca, mamãe.” p. 435

“(…) O marido não deve ser o último a saber, compreendeu? O marido não deve saber nunca!” p. 449


9.2. Cinema

• Familia / A família como uma instituição de educação e segregação:

  • Declan, B. (Produtor) & Ross, M. (Escritor/Diretor). (2016). Capitão fantástico [Filme]. Estados Unidos: Universal.

• Mãe, só há uma?

  • Weil, E., Dupont, J.-B. (Produtores) & Gallienne, G. (Diretor/Escritor). (2014). Eu, mamãe e os meninos [Filme]. França: Europa Filmes.

• Eixo – Assuntos de família no inconsciente:

  • Kubrick, S. (Produtor) & Kubrick, S., (Diretor) & Schinitzler, A., Kubrick, S., Raphael, F. (Escritores). (1999). De olhos bem fechados [Filme]. Inglaterra, Estados Unidos: Warner Home Vídeos.
  • Gullane, C., Ivanov, D., Gullane, F., Pires, R. (Produtores) & Bodanzky, L. (Diretora) & Bolognesi, L., Dimenstein, G., Prieto, H. (Escritores). (2010). As melhores coisas do mundo [Fime]. Brasil: WARNER BROS.
  • Dolan, X. (Produtor) & Dolan, X. (Escritor/Diretor). (2010). Eu matei minha mãe [Filme]. Canadá: Festival Filmes.
  • Almodóvar, A. (Produtor) & Almodóvar, P. (Escritor/Diretor). (1999). Todo sobre mi madre [Filme]. Espanha/França: Sony Pictures Classics.
  • Almodóvar, A. (Produtor) & Almodóvar, P. (Escritor/Diretor). (2006). Volver [Filme]. Espanha: Sony Pictures Classics.
  • Almodóvar, A., García, E. (Produtores) & Munro, A., Almodóvar, P. (Escritor/Diretor). (2016). Julieta [Filme]. Espanha: Universal Pictures.
  • Almodóvar, A. (Produtor) & Almodóvar, P. (Escritor/Diretor). (1991). De salto alto [Filme]. Espanha/França: CiBy 2000.

• Mães sozinhas com filhos sem pais / Conflitos familiares / Segregações familiares:

  • Gullane, F., Gullane, C., Ivanov, D., Muylaert, A., Arraes, G. (Produtores) & Muylaert, A. (Diretora/Escritora). (2015). Que horas ela volta? [Filme]. Brasil: PANDORA FILMES.
  • Dolan, X. (Produtor) & Dolan, X. (Diretor/Escritor). (2014). Mommy [Filme]. Canadá: EUROPA FILMES.

• Ser pai / Assuntos de família no inconsciente:

  • Lasseter, J. (Produtor) & Stanton, A., Unkrich, L. (Diretores) & Stanton, A., Peterson, B., Stanton, A. (Escritores). (2003). Procurando Nemo [Filme]. Estados Unidos: Pixar Animation Studios, DISNEY/BUENA VISTA.

• Segregações familiares / Que coisa é um irmaõ:

  • Rudin, S. (Produtor) & Sonnenfeld, B. (Diretor) & Thompson, C. (Escritora). (1991). A família Addams [Filme]. Estados Unidos: SONY PICTURES.
  • Rossellini, R. (Produtor) & Bergman, I. (Diretor/Escritor). (1982). Fanny e Alexander [Filme]. Suécia, França, Alemanha Ocidental: Gaumont, Personafilm, Cinematograph AB.

• Conflitos familiares / Que coisa é um irmaõ / Assuntos de família no inconsciente:

  • Clooney, G., Heslov, G. (Produtor) & Wells, J. (Diretor) & Letts, T. (Escritor). (2013). Álbum de Família [Filme]. Estados Unidos: IMAGEM FILMES.
  • Rossellini, F., Bolognini, M. (Produtores) & Pasolini, P. P. (Diretor/Escritor). (1969/2005). Teorema [Filme]. Itália: Euro International Film.

• A família, ficção necessária:

  • Rivera, J. (Produtor) & Peterson, B., Docter, P. (Diretores/Escritores). (2009). Up – altas aventuras [Filme]. Estados Unidos: Pixar, DISNEY/BUENA VISTA.
  • Fernández, J., Wisznia, P. (Produtores) & Agresti, A. (Escritor/Diretor). (2002). Valintin [Filme]. Argentina, Espanha, França, Itália, Holanda: Miramax.
  • Berger, A., Yerxa, R. (Produtores) & Dayton, J., Faris, V. (Diretores)& Arndt, M. (Escritor). (2006). Miss Shunshine [Filme]. Estados Unidos: Fox.
  • Pialat, S. (Produtora) & Gravas, J. (Diretora/Escritora). (2006). A culpa é do Fidel! [Filme]. França, Itália: Filmes da Estação, Canal +.
  • Socrsese, M., Depp, J. (Produtores) & Logan, J. (Escritor) & Sorsese, M. (Diretor). (2012). A invenção de Hugo Carbret [Filme]. Estados Unidos: Paramount Pictures.

• Segregações familiares:

  • Majidi, M., Sarab, M. (Produtores) & Majidi, M. (Diretor/Escritor). (2000). A cor do paraíso [Filme]. Irã: EUROPA FILMES.
  • Vesth, L., (Produtora) & Trier, L. (Escritor/Diretor). (2011). Melancolia [Filme]. Dinamarca: California Filmes.
  • Winderlov, V. (Produtor) & Trier, L. (Escritor/Diretor). (2004). Dogville [Filme]. Dinamarca, Suécia, Estados Unidos: IMOVISION.

• Angústia em família / A inquietante familiaridade do semelhante:

  • Trapero, P., Ranvaud, D. (Produtores) & Trapero, P. (Diretor). (2004). Família rodante [Fime]. Argentina: Paradis Films, EUROPA FILMES.
  • Delbosc, O., Missonnier, M. (Produtores) & Pouzadoux, P. (Diretor/Escritor). (2016). A última lição [Filme]. França: Esfera Cultural.

• Consequências do “saber no bolso”:

  • Saint-Jean, M. (Produtor) & Moll, D., Marchand, G. (Diretor/Produtor). (2016). Más notícias para o Sr. Mars [Filme]. França, Bélgica: IMOVISION.

• As novas configurações familiares: do pai de famílias às parentalidades:

  • Darondeau, Y., Lioud, C., Priou, E., Rey, J.-M. (Produtores) & Julien-Laferrière, G. (Diretor) & Moreau, C., Treiner, O. (Escritores). (2016) Mas que família é esta? [Filme]. França: UGC Distribuition.

• Transformações da intimidade: o privado se torna público e o público “familiar”:

  • Linklater, R., Sutherland, C. (Produtores) & Linklater, R. (Diretor/Escritor). (2014). Boyhood – da infância à juventude [Filme]. Estados Unidos: UNIVERSAL PICTURES.

• Ser pai / Conflitos familiares: destino e responsabilidade nas famílias:

  • Yasushi, O. (Produtor) & Koreeda, H. (Diretor/Escritor). (2013). Pais e filhos [Filme]. Japão: IMOVISION.
  • Brest, M. (Produtor) & Brest, M. (Diretor) & Osborn, R., Reno, J., Wade, K., Goldman, B., Casella, A., Ferris, W., Anderson, M. (Escritores). (1998). Encontro marcado [Filme]. Estados Unidos: UNIVERSAL PICTURES.
  • Rousselet, F., Jehelmann, E. (Produtores) & Lartigau, E., Bidegain, T. (Diretor/Escritor). (2014). A família Bélier [Filme]. França, Bélgica: PARIS FILMES.

• Tradições familiares / Violência e segregação familiares / Conflitos familiares:

  • Ruddy, A. S., (Produtor) & Coppola, F., F. (Diretor) & Coppola, F., F., Puzo, M., Towne, R. (Escritores). (1972). O poderoso chefão [Filme]. Estados Unidos: PARAMOUNT PICTURES.
  • Cohn, A. (Produtor) & Aïnous, K. (Escritor) & Salles, W. (Diretor). (2002). Abril despedaçado [Filme]. França, Suíça, Brasil: VideoFilmes.
  • Guilbert, J.-P. (Produtor) & Patellière, D. de La (Escritor/Diretor). (1958). Les grandes familles [Filme]. França: Cinédis.

• Angústia em família / Assuntos de família no inconsciente / Conflitos familiares

  • Caucheteux, P. (Produtor) & Desplechin, A., Bourdieu, E. (Diretor/Escritor). (2008). Um conto de natal [Filme]. França: IMOVISION.

• Invenções do desejo na família:

  • Altmayer, E. (Produtor) & Ozon, F. (Escritor/Diretor). (2013). Dentro da casa [Filme]. França: Wild Bunch/Califórnia Filmes.

• Angústia e morte na família:

  • Moretti, N. (Produtor) & Moretti, N. (Escritor/Diretor). (2001). O quarto do filho [Filme]. França, Itália: Wild Bunch.

• Traições familiares (Eixo sugerido) / Segredos de família:

  • Almodóvar, P., Almodóvar, A. (Produtores) & Trapero, P. (Escritor/Diretor). (2015). O clã [Filme]. Argentina, Espanha: Fox Film do Brasil.
  • Altmayer, E., Altmayer, N. (Produtores) & Ozon, F. (Escritor/Diretor). (2013). Jovem e Bela [Filme]. França: Europa/Mares Filme.
  • Schürmann, D., (Produtor) & Schürmann, D. (Diretor) & Schürmann, D., Bernstein, M., Atherino, V. (Escritores). (2016). Pequeno segredo [Filme]. Brasil: Diamond Films.
  • Couvreur, B. (Produtor) & Sciamma, C. (Diretota/Escritora). (2011). Tomboy [Filme]. França: Film Distribuition, PANDORA FILMES.
  • Aronson, L. (Produtora) & Allen, W. (Escritor/Diretor).(2013). Blue Jasmine [Filme]. Estados Unidos: Sony Pictores/Imagem Filmes.

• Mães sozinhas com filhos sem pai:

  • Medavoy, M. (Produtor) & Aronofsky, D. (Diretor) & Heyman, M., McLaughlin, J. J. (Escritores). (2011). Cisne negro [Filme]. Estados Unidos: Fox Film do Brasil.

9.3. A família na literatura

  • Bernhard, T. (2000). Extinção, uma derrocada. São Paulo: Companhia das Letras.
  • Cardoso, L. (2009). Crônica da casa assassinada. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
  • Cunningham, M (1999). As horas. São Paulo: Cia das Letras
  • Dostoiévski, F. M. (2012) Os Irmãos Karamasov, Tradução Paulo Bezerra, Rio de Janeiro Ed 4.
  • Dostoiévski, F. M. (2016) Crime e Castigo, Tradução Paulo Bezerra, Rio de Janeiro, Ed 34
  • Fux, J. (2016). Meshugá. Rio de Janeiro: José Olympio.
  • Hatoum, M (2006). Dois irmãos. São Paulo. Cia das Letras
  • Jelinek, E. (2011). A pianista. São Paulo: Tordesilhas
  • Kafka, F. (1997). Carta ao pai. São Paulo: Companhia das Letras.
  • Lispector, C. (1960). Laços de Família. Rio de Janeiro: Francisco Alves
  • Mãe, V. H. (2016) O filho de mil homens,-Rio de Janeiro, Globo
  • Nassar, R. (1989). Lavoura arcaica. São Paulo: Companhia das Letras.
  • O’Brien, E. (2009). A luz da noite. Rio de Janeiro: Record.
  • Pinter, H. (2007). A volta ao lar. São Paulo: Peixoto Neto.
  • Queiroz, E. (2014). Os maias. Rio de Janeiro: Zahar.
  • Rosa, J. G. (2012). A terceira margem do rio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
  • Roth, P. (2004). O complexo de Portnoy. São Paulo: Companhia de Bolso.
  • Roth, P. (2013). Pastoral americana. São Paulo: Companhia de Bolso.
  • Roth, P. (2014). A Marca humana. São Paulo: Companhia de Bolso.
  • Rezende, R.(2012) Caroço. Rio de Janeiro: Azougue Editorial
  • Silva, C. da (1985). Histórias híbridas de uma senhora de respeito. São Paulo: Brasiliense.
  • Tezza, C. (2007) O filho eterno – Rio de Janeiro, Record.
  • Tolstoi, L. (2011). Ana Karenina. São Paulo: COSAC NAIFY (Originalmente publicado em 1878).
  • Wierzchowski L. (2006)A casa da sete mulheres, Rio de Janeiro, Record.
  • Williams, J. (2015) Stoner. Rio de Janeiro: Editora Radio Londres Ltda