• Bissexualidade (Identidade de gênero)

(…) Mas também é possível que se seja erroneamente levado a supor que um símbolo sexual seja bissexual caso se esqueça de que, em alguns sonhos, há uma inversão geral do sexo, de modo que o que é masculino é representado” como feminino, e vice-versa. Tais sonhos podem, por exemplo, expressar o desejo de uma mulher de ser homem. (Freud, 1974, p.382-383)

  • Freud, S. (1974) A Interpretação dos Sonhos. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira Das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. V, p. 373-431. (Obra original publicada 1900-1901)

Podemos asseverar, em relação a muitos sonhos, se forem cuidadosamente interpretados, que são bissexuais, visto que, indubitavelmente, admitem um a “superintepretação os impulsos homossexuais de quem sonha são realizados- impulsos, vale dizer são contrárias as suas atividades sexuais normais. (FREUD, 1974,p.423)

  • Freud, S. (1974) A Interpretação dos sonhos In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira Das Obras Completas de Sigmund FreudRio de Janeiro: Imago Editora, vol. V, p. 373-454. (Obra original publicada 1900-1901)

A teoria das psiconeuroses afirma como fato indiscutível a invariável que apenas impulsos sexuais impregnados de desejo oriundos da infância, que experimentaram repressão (isto é, uma transformação de seu afeto) durante o período de desenvolvimento infantil, são capazes de ser revividos durante período de desenvolvimento posteriores( seja como resultado da constituição sexual do sujeito, que se deriva de uma bissexualidade inicial, seja como resultado de influências desfavoráveis que atuam sobre o curso da vida sexual). (FREUD, VOL. p. 645)

  • Freud, S. (1974) A Interpretação dos Sonhos In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira Das Obras Completas de Sigmund FreudRio de Janeiro: Imago Editora, vol. V, p.611-660 (Obra original publicada 1900-1901)

Apesar de todos os nossos esforços para que a terminologia e as considerações biológicas não dominassem o trabalho psicanalítico, não pudemos evitar o seu emprego mesmo na descrição dos fenômenos que estudamos. Não podemos deixar de considerar o termo ‘instinto’ como um conceito fronteiriço entre as esferas da psicologia e da biologia. Falamos também de atributos e impulsos mentais ‘masculinos’ e ‘femininos’, embora, estritamente falando, as diferenças entre os sexos não possam pretender nenhuma característica psíquica especial. Aquilo de que falamos na vida comum como ‘masculino’ e ‘feminino’ reduz-se, do ponto de vista da psicologia, às qualidades de ‘atividade’ e ‘passividade’ – isto é, a qualidades determinadas não pelos próprios instintos, mas por seus objetivos. A associação regular destes ‘ativos’ e ‘passivos’ na vida mental reflete a bissexualidade dos indivíduos, que está entre os postulados clínicos da psicanálise. (Freud, 1974, p.217) (Freud, 2006, p. 185)

  • Freud, S. (1974). O interesse da psicanálise para as ciências não-psicológicas. O interesse biológico da psicanálise. O interesse científico da psicanálise. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. XIII, pp. 199-226). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1913).
  • Freud, S. (2006). El interés del psicoanálisis para las ciencias no psicológicas. El interés biológico. El interés por el psicoanálisis. Obras completas de Sigmund Freud (vol. XIII, pp. 165-192). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1913).

Assim, pode-se descrever as crianças como ‘perversos polimorfos’ e, se estes impulsos apenas mostram traços de atividade, isso ocorre, por um lado, porque eles têm intensidade menor quando comparados com os da vida posterior e, por outro lado, porque todas as manifestações sexuais de uma criança são prontamente, energicamente suprimidas pela educação. (Freud, 1974, pp. 250-1) (Freud, 2006, p. 191)

  • Freud, S. (1974). Conferência XIII Aspectos arcaicos e infantilismo dos sonhos. Sonhos. Conferências Introdutórias sobre psicanálise. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XV, pp. 239-254). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1916).
  • Freud, S. (2006). 13a conferencia Rasgos arcaicos e infantilismo del sueño. El sueño. Conferencias de introducción al psicoanálisis. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XV, pp. 182-194). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1916).

(…) após tudo o que eu lhes disse, os senhores acharão bastante incompreensível uma afirmação de que todos os sonhos devem ser interpretados bissexualmente, como confluência de duas correntes, descritas como masculina e feminina (Adler [1910]). [Cf. I. de S., Vol. V, págs. 423-4.] Podem constatar posteriormente que eles se constróem como alguns dos sintomas histéricos. A razão por que mencionei todas essas descobertas de novas características universais dos sonhos é para que os senhores estejam prevenidos quanto às mesmas ou, ao menos, para que não tenham dúvidas a respeito do que penso delas. (Freud, 1974, p. 283) (Freud, 2006, p. 217)

  • Freud, S. (1974). Conferência XV Incertezas e críticas. Sonhos. Conferências Introdutórias sobre psicanálise. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XV, pp. 273-285). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1916).
  • Freud, S. (2006). 15a conferencia – Incertezas y críticas. El sueño. Conferencias de introducción al psicoanálisis. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XV,pp. 209-219). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1916).

Uma outra complicação surge quando o fator constitucional que denominamos de bissexualidade se acha, comparativamente, fortemente desenvolvido numa criança, porque então, sob a ameaça à masculinidade do menino, por meio da castração, sua inclinação é fortalecida a divergir no sentido da feminilidade, a colocar-se no lugar da mãe e assumir o papel desta como objeto do amor do pai. Mas o temor à castração torna essa solução também impossível. O menino entende que também deve submeter-se à castração, se deseja ser amado pelo pai como se fosse uma mulher. Dessa maneira, ambos os impulsos, o ódio pelo pai e o amor pelo pai, experimentam repressão. Há uma certa distinção psicológica do fato de o ódio pelo pai ser abandonado por causa do temor a um perigo externo (castração), ao passo que o amor pelo pai é tratado como um perigo interno, embora, fundamentalmente, remonte ao mesmo perigo externo.

O que torna inaceitável o ódio pelo pai é o temor a este: a castração é terrível, seja como punição ou como preço do amor. Dos dois fatores que reprimem o ódio pelo pai, o primeiro, ou seja, o medo direto da punição e da castração, pode ser chamado de anormal; sua intensificação patogênica só pode surgir como acréscimo do segundo fator, o temor à atitude feminina. Dessa maneira, uma forte disposição bissexual inata se torna uma das precondições ou reforços da neurose. (Freud, 1996, p. 189-90)

  • Freud, S. (1996). Dostoievski e o parricídio. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud(Vol. 21, pp. 183-198). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1928)

Antes de tudo, não pode haver dúvida de que a bissexualidade, presente, conforme acreditamos, na disposição inata dos seres humanos, vem para o primeiro plano muito mais claramente nas mulheres do que nos homens. Um homem, afinal de contas, possui apenas uma zona sexual principal, um só órgão sexual, ao passo que a mulher tem duas: a vagina, ou seja, o órgão genital propriamente dito, e o clitóris, análogo ao órgão masculino. (Freud, 1996, p. 236)

  • Freud, S. (1996). Sexualidade feminina. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud(Vol. 21, pp. 233-251). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1931)

Quando encontram um ser humano, a primeira distinção que fazem é ‘homem ou mulher’? e os senhores estão habituados a fazer essa distinção com certeza total. (…) Depois a ciência diz-lhes algo que se opõe às expectativas dos senhores e por certo haverá de confundir seus sentimentos. Chama a atenção dos senhores para o fato de que partes do aparelho sexual masculino também aparecem no corpo da mulher, ainda que atrofiado, e vice-versa. Considera tais ocorrências como indicações de bissexualidade,como se um indivíduo não fosse homem ou mulher, mas sempre fosse ambos – simplesmente um pouco mais de um, do que de outro. (Freud, 1996, p. 114-115)

  • Freud, S. (1996). Conferência XXXIII: Feminilidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 22, p. 113-134). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1933)

(…) o desenvolvimento da feminilidade permanece exposto a perturbações motivadas pelos fenômenos residuais do período masculino inicial. Muito frequentemente ocorrem regressões às fixações das fases pré-edipianas; no transcorrer da vida de algumas mulheres existe uma repetida alternância entre períodos em que ora a masculinidade, ora a feminilidade, predominam. Determinada parte disso que nós, homens, chamamos de ‘o enigma da mulher’, pode, talvez, derivar-se dessa expressão da bissexualidade da mulher. (Freud, 1996, p. 130)

  • Freud, S. (1996). Conferência XXXIII: Feminilidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 22, p. 113-134). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1933)

Para distinguir entre masculino e feminino, na vida mental, usamos o que é, sem dúvida alguma, uma equação empírica, convencional e inadequada: chamamos de masculino tudo que é forte e ativo, e de feminino tudo que é fraco e passivo. Esse fato da bissexualidade psicológica dificulta também todas as nossas investigações sobre o assunto e torna-as mais difíceis de descrever. (Freud, 1996, p. 201)

  • Freud, S. (1996). Esboço de psicanálise. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 23, p. 157-221). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1940)

• Estranho Familiar

Mas a relação causal entre o trauma psíquico determinante e o fenômeno histérico, não é de uma natureza que implique que o trauma meramente atua como agent provocateur na liberação do sintoma, que passa a levar uma existência independente.

Devemos antes presumir que o trauma psíquico – ou, mais precisamente, a lembrança do trauma – age como um corpo estranho que, muito depois de sua entrada, deve continuar a ser considerado como um agente que ainda está em ação; encontramos a prova disso num fenômeno invulgar que, ao mesmo tempo, traz um importante interesse prático para nossas descobertas.

É que verificamos, a princípio com grande surpresa, que cada sintoma histérico individual desaparecia, de forma imediata e permanente (…). (FREUD, 1974, p.46-47).

  • Freud, S. (1974). Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos: Comunicação Preliminar J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.), Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund FreudRio de Janeiro: Imago Editora, vol. II, p. 43-59. (Obra original publicada 1893-1895)

• Família (pai, mãe)

Lucerna relaciona-se com o pensamento do verão que Veronika passou com os patrões nas vizinhanças da cidade de Lucerna, junto ao lago do mesmo nome. A Guarda Suíça, por sua vez, lembra que ela não só sabia fazer tirania para com as crianças, como também para com os adultos da família, assumindo [sich gefallen] o papel de ‘Garde-Dame [governanta, dama de companhia, literalmente ‘guarda de senhoras’]. (Freud, 1974, p. 51)

  • Freud, S. (1974). O esquecimento de nomes e sequências de palavras. Psicopatologia da vida cotidiana. J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol VI, pp. 13-332, (obra original publicada 1901).

Quando um membro de minha família se queixa de ter mordido a língua, imprensado um dedo etc., não recebe de mim a compaixão esperada, mas sim a pergunta: “Por que você fez isso? (Freud, 1974, p.221)

  • Freud, S. (1974) Atos descuidados. Psicopatologia da vida cotidiana. J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol, VI, p. 13-332, (obra original publicada 1901).

O professor da escola de uma cidade de veraneio, um jovem completamente pobre mas bonito, persistiu em cortejar a filha do proprietário de uma mansão, que vinha da capital, até a jovem apaixonar-se intensamente por ele e mesmo persuadir a família a conceder a aprovação para o casamento, apesar das diferenças de posição social e de raça. (Freud, 1974, p.270)

  • Freud, S. (1974Erros. Psicopatologia da vida cotidiana. J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. VI, p. 13-332, (obra original publicada 1901).

As simpatias da própria moça, que, como disse, tornou-se minha paciente aos dezoito anos, sempre penderam para o lado paterno da família e, desde que caíra doente ela tomara como modelo a tia que acabei de mencionar. Não podia haver dúvida, também, de que fora da família do pai que ela derivara não só seus dotes naturais e sua precocidade intelectual como também a predisposição à doença. Não cheguei a conhecer sua mãe. Dos relatos que me foram feitos pela moça e seu pai fui levado a imaginá-la como uma mulher inculta e acima de tudo fútil, que tinha concentrado todo seu interesse nos assuntos domésticos, especialmente a partir da doença do marido e do alheamento que tinha de tal doença. Ela representava o quadro que poderia ser chamado “psicose doméstica”. Não compreendia os interesses mais ativos dos filhos e ocupava-se o dia todo em varrer a casa e limpar os móveis (…). (Freud, 1974, p. 18)

  • Freud, S. (1972) Fragmento da análise de um caso de histeria. J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.)Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. VII, pp. 1-119, (obra original publicada 1905).

Ela, de modo evidente, não estava satisfeita consigo mesma nem com a família; sua atitude em relação ao pai era inamistosa, e mantinha péssimas relações com a mãe que estava determinada a fazê-la participar dos trabalhos de casa. (Freud, 1974, p.21)

  • Freud, S. (1972Fragmento da análise de um caso de histeria. J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. VII p. 1-119 (obra original publicada 1905).

(Por trás desse seu desejo, “Quero que Mariedl durma conosco”, evidentemente residia um outro desejo: “Eu quero que Mariedl” (com quem ele gostava tanto de estar) “faça parte de nossa família. ” O pai e a mãe de Hans, todavia, tinham o hábito de levá-lo para a cama deles, embora apenas ocasionalmente; e não há dúvida de que estar ao lado deles haja despertado nele sentimentos eróticos; assim é que também seu desejo de dormir com Mariedl tinha um sentido erótico. Deitar na cama com seu pai e sua mãe era, para Hans, uma fonte de sentimentos eróticos, do mesmo modo que para qualquer outra criança. (Freud, 1974, p.27)

  • Freud, S. (1974). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. X, p. 13-158 (obra original publicada 1909).

O comportamento de Hans em relação à nova chegada (…). Na sua febre, poucos dias mais tarde, deixou escapar quão pouco gostava do acréscimo à família. A afeição por sua irmã podia vir mais tarde, mas sua primeira atitude foi de hostilidade. Dessa época em diante o medo de que ainda pudesse chegar outro bebê encontrou lugar entre os seus pensamentos conscientes. (Freud, 1974, p.120-121)

  • Freud, S. (1976) Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. X, p. 13-158, (obra original publicada 1909).

Casal

O marido é, quase sempre, por assim dizer, apenas um substituto, nunca o homem certo; é outro homem – nos casos típicos o pai – que primeiro tem direito ao amor da mulher, o marido quando muito ocupa o segundo lugar. Depende de quão intensa seja essa fixação e de quão obstinadamente ela seja conservada, quer ou não o substituto seja rejeitado como insatisfatório. A frigidez inclui-se, assim, entre os determinantes genéticos das neuroses. Quanto mais poderoso o elemento psíquico na vida sexual de uma mulher, maior será a capacidade de resistência demonstrada por sua distribuição da libido à revolta contra o primeiro ato sexual, e menos esmagador será o efeito que sua posse corporal pode produzir. A frigidez pode, então, se estabelecer como uma inibição neurótica ou fornecer a base para o desenvolvimento de outras neuroses e, até mesmo, uma pequena diminuição da potência no homem contribuirá grandemente para influir nesse processo. (Freud, 1974, p. 188) (Freud, 2006, p. 199)

  • Freud, S. (1974). O tabu da virgindade (contribuição à psicologia do amor III). In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 175-192). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1918).
  • Freud, S. (2006). El tabú de la virginidad (contribuiciones a la psicología del amor, III). Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 185-204). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1918).

Complexo parental

Sadger (1912) demonstrou, em uma análise penetrante, como Hebbel foi influenciado em sua escolha do material por seu próprio complexo paterno, e como chegou a tomar a defesa da mulher tão freqüentemente, na luta entre os sexos, e a sentir seu caminho nos impulsos mais ocultos de sua mente. (…) Não pretendo contestar a explicação que Sadger dá ao fato de Judite, que segundo a narrativa da Bíblia é uma viúva, ter de se transformar em uma viúva virgem. Ele se refere à finalidade encontrada nas fantasias infantis de negar as relações sexuais dos pais e de transformar a mãe em uma virgem ilesa. (Freud, 1974, p. 192) (Freud, 2006, p. 202-3)

  • Freud, S. (1974). O tabu da virgindade (contribuição à psicologia do amor III). In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 175-192). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1918).
  • Freud, S. (2006). El tabú de la virginidad (contribuiciones a la psicología del amor, III). Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XI,pp. 185-204). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1918).

Entre o acervo de fantasias inconscientes de todos os neuróticos, e provavelmente de todos os seres humanos, existe uma que raramente se acha ausente e que pode ser revelada pela análise: é a fantasia de observar as relações sexuais dos pais. Chamo tais fantasias – da observação do ato sexual dos pais, da sedução, da castração e outras – de ‘fantasias primevas’; examinarei, em outro lugar, com detalhes, sua origem e sua relação com a experiência individual. (Freud, 1974, p. 303) (Freud, 2006, p. 268-9)

  • Freud, S. (1974). Um caso de paranóia que contraria a teoria psicanalítica da doença. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XIV, pp. 297-307). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1915).
  • Freud, S. (2006). Un caso de paranoia que contradice la teoría psicoanalítica. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XIV,pp. 259-272). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1915).

Complexo de Édipo

A criança toma ambos os genitores, e particularmente um deles, como objeto de seus desejos eróticos. Em geral o incitamento vem dos próprios pais, cuja ternura possui o mais nítido caráter de atividade sexual, embora inibido em suas finalidades. O pai em regra tem preferência pela filha, a mãe pelo filho: a criança reage desejando o lugar do pai se é menino, o da mãe se se trata da filha. Os sentimentos nascidos destas relações entre pais e filhos e entre um irmão e outros, não são somente de natureza positiva, de ternura, mas também negativos, de hostilidade. O complexo assim formado é destinado a pronta repressão, porém continua a agir do inconsciente com intensidade e persistência. Devemos declarar que suspeitamos represente ele, com seus derivados, o complexo nuclear de cada neurose, e nos predispusemos a encontrá-lo não menos ativo em outros campos da vida mental. O mito do rei Édipo que, tendo matado o pai, tomou a mãe por mulher, é uma manifestação pouco modificada do desejo infantil, contra o qual se levantam mais tarde, como repulsa, as barreiras do incesto. (Freud, 1974, p. 43-4) (Freud, 2006, p. 43)

  • Freud, S. (1974). Cinco lições de psicanálise. Quarta lição. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 38-45). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1910).
  • Freud, S. (2006). Cinco conferencias sobre psicoanálisis. IV. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 36-44). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1910).

(…) os começos da religião, da moral, da sociedade e da arte convergem para o complexo de Édipo. Isso entra em completo acordo com a descoberta psicanalítica de que o mesmo complexo constitui o núcleo de todas as neuroses, pelo menos até onde vai nosso conhecimento atual. Parece-me ser uma descoberta muito supreendente que também os problemas da psicologia social se mostrem solúveis com base num único ponto concreto: – a relação do homem com o pai. (Freud, 1974, p. 185-6) (Freud, 2006, p. 158)

  • Freud, S. (1974). O retorno do totemismo na infância. Totem e Tabu. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 125-191). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1913).
  • Freud, S. (2006). El retorno del totemismo en la infancia. Tótem y tabú. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 103-164). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1913).

Quando é ainda uma criança, um filho já começa a desenvolver afeição particular por sua mãe, a quem considera como pertencente a ele; começa a sentir o pai como rival que disputa sua única posse. E da mesma forma uma menininha considera sua mãe como uma pessoa que interfere na sua relação afetuosa com o pai e que ocupa uma posição que ela mesma poderia muito bem ocupar. A observação nos mostra a quão precoces anos essas atitudes remontam. A essas atitudes chamamos de ‘complexo de Édipo’, visto que a lenda de Édipo materializa, com apenas uma leve atenuação, os dois desejos extremos originários na situação do filho – matar o pai e tomar a mãe como esposa. Não pretendo afirmar que o complexo de Édipo engloba toda a relação dos filhos com os pais: esta pode ser muito mais complexa. O complexo de Édipo, ademais disso, pode estar desenvolvido em maior ou menor intensidade, pode até mesmo estar invertido; mas constitui fator constante e importante na vida mental de uma criança, e existe maior risco de, antes, subestimarmos, do que superestimarmos sua influência e a dos desenvolvimentos que nele se originam. (Freud, 1974, p. 248) (Freud, 2006, p. 189)

  • Freud, S. (1974). Conferência XIII Aspectos arcaicos e infantilismo dos sonhos. Sonhos. Conferências Introdutórias sobre psicanálise. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XV, pp. 239-254). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1916).
  • Freud, S. (2006). 13a conferencia Rasgos arcaicos e infantilismo del sueño. El sueño. Conferencias de introducción al psicoanálisis. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XV, pp. 182-194). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1916).

A família constituiu uma restauração da antiga horda primeva e devolveu aos pais uma grande parte de seus antigos direitos. Mais uma vez apareceram pais, mas as conquistas sociais do clã fraterno não foram abandonadas; e a distância existente entre os novos pais de uma família e o irrefreado pai primevo da horda era suficientemente grande para garantir a continuidade do anseio religioso, a persistência de uma saudade não apaziguada do pai. (Freud, 1974, p. 178) (Freud, 2006, 151)

  • Freud, S. (1974). O retorno do totemismo na infância. Totem e Tabu. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 125-191). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1913).
  • Freud, S. (2006). El retorno del totemismo en la infancia. Tótem y tabú. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 103-164). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1913).

Herança familiar

A psicologia social em geral mostra muito pouco interesse pela maneira através da qual se estabelece a continuidade exigida pela vida mental de sucessivas gerações. Uma parte do problema parece ser respondida pela herança de disposições psíquicas que, no entanto, necessitam receber alguma espécie de ímpeto na vida do indivíduo antes de poderem ser despertadas para o funcionamento real. Pode ser este o significado das palavras do poeta:

Was du ererbt von deinen Vätern hast,

Erwib es, um es zu besitzen. (Aquilo que herdaste de teus pais, conquista-o para fazê-lo teu). (Freud, 1974, p. 187-8) (Freud, 2006, p. 159)

  • Freud, S. (1974). O retorno do totemismo na infância. Totem e Tabu. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 125-191). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1913).
  • Freud, S. (2006). El retorno del totemismo en la infancia. Tótem y tabú. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 103-164). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1913).

Infância

Parece que a infância não é bem esse idílio bem-aventurado que retrospectivamente destorcemos; ao contrário, as crianças durante toda a sua infância sentem-se fustigadas pelo desejo de crescer e de fazer o que fazem os grandes. Este desejo reflete-se em todas as brincadeiras. Sempre que as crianças sentem, no curso de suas explorações sexuais, que, nesse terreno tão misterioso e tão importante para elas, existe alguma coisa maravilhosa permitida aos adultos, mas que elas estão proibidas de conhecer e de fazer, sentem um desejo violento de ser capazes de fazê-lo e sonham-no sob a forma de voar, ou preparam este disfarce de seu desejo para ser usado mais tarde em seus sonhos de voar. (Freud, 1974, p. 115) (Freud, 2006, p. 117)

  • Freud, S. (1974). Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 53-124). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1910).
  • Freud, S. (2006). Un recuerdo infantil de Leonardo da Vinci. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XI,pp. 53-128). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1910).

Se prestarmos atenção à atitude de pais afetuosos para com os filhos, temos de reconhecer que ela é uma revivescência e reprodução de seu próprio narcisismo, que de há muito abandonaram. (…) Assim eles se acham sob a compulsão de atribuir todas as perfeições ao filho – o que uma observação sóbria não permitiria – e de ocultar e esquecer todas as deficiências dele. (Incidentalmente, a negação da sexualidade nas crianças está relacionada a isso.) Além disso, sentem-se inclinados a suspender, em favor da criança, o funcionamento de todas as aquisições culturais que seu próprio narcisismo foi forçado a respeitar, e a renovar em nome dela as reivindicações aos privilégios de há muito por eles próprios abandonados. A criança terá mais divertimentos que seus pais; ela não ficará sujeita às necessidades que eles reconheceram como supremas na vida. A doença, a morte, a renúncia ao prazer, restrições à sua vontade própria não a atingirão; as leis da natureza e da sociedade serão ab-rogadas em seu favor; ela será mais uma vez realmente o centro e o âmago da criação – ‘Sua Majestade o Bebê’, como outrora nós mesmos nos imaginávamos. A criança concretizará os sonhos dourados que os pais jamais realizaram – o menino se tornará um grande homem e um herói em lugar do pai, e a menina se casará com um príncipe como compensação para sua mãe. No ponto mais sensível do sistema narcisista, a imortalidade do ego, tão oprimida pela realidade, a segurança é alcançada por meio do refúgio na criança. O amor dos pais, tão comovedor e no fundo tão infantil, nada mais é senão o narcisismo dos pais renascido, o qual, transformado em amor objetal, inequivocamente revela sua natureza anterior. (Freud, 1974, p. 107-8) (Freud, 2006, p. 87-8)

  • Freud, S. (1974). Sobre o narcisismo: uma introdução. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XIV, pp. 85-119). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1914).
  • Freud, S. (2006). Introducción del narcisismo. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XIV, pp. 65-98). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1914).

No tocante às crianças, é fácil observar que muitas vezes são propositadamente ‘travessas’ para provarem o castigo, e ficam quietas e contentes depois de terem sido punidas. Frequentemente, a investigação analítica posterior pode situar-nos na trilha do sentimento de culpa que as induziu a procurarem punição. (Freud, 1974, p. 376) (Freud, 2006, 339)

  • Freud, S. (1974). Criminosos em consequência de um sentimento de culpa. Alguns tipos de caráter encontrados no trabalho psicanalítico. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XIV, pp. 375-377). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1916).
  • Freud, S. (2006). Los que delinquen por conciencia de culpa. Algunos tipos de carácter dilucidados por el trabajo psicoanalítico. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XI,pp. 338-340). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1916).

O amor da mãe pela criança que ela mesma amamenta e cuida é muito mais profundo que o que sente, mais tarde, pela criança em seu período de crescimento. Sua natureza é a de uma relação amorosa plenamente satisfatória, que não somente gratifica todos os desejos mentais mas também todas as necessidades físicas; e se isto representa uma das formas possíveis da felicidade humana, em parte será devido à possibilidade que oferece de satisfazer, sem reprovação, desejos impulsivos há muito reprimidos e que podem ser considerados como perversos. (Freud, 1974, p. 105-6) (Freud, 2006, p. 109)

  • Freud, S. (1974). Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 53-124). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1910).
  • Freud, S. (2006). Un recuerdo infantil de Leonardo da Vinci. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XI,pp. 53-128). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1910).

Mãe

O amor da criança por sua mãe não pode mais continuar a se desenvolver conscientemente – ele sucumbe à repressão. O menino reprime seu amor pela mãe; coloca-se em seu lugar, identifica-se com ela, e toma a si próprio como um modelo a que devem assemelhar-se os novos objetos de seu amor. Desse modo ele transformou-se num homossexual. O que de fato aconteceu foi um retorno ao autoerotismo, pois os meninos que ele agora ama à medida que cresce, são, apenas, figuras substitutivas e lembranças de si próprio durante sua infância – meninos que ele ama da maneira que sua mãe o amava quando era ele uma criança. Encontram seus objetos de amor segundo o modelo do narcisismo, pois Narciso, segundo a lenda grega, era um jovem que preferia sua própria imagem a qualquer outra, e foi assim transformado na bela flor do mesmo nome. (Freud, 1974, p. 92) (Freud, 2006, p. 93)

  • Freud, S. (1974). Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 53-124). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1910).
  • Freud, S. (2006). Un recuerdo infantil de Leonardo da Vinci. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XI,pp. 53-128). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1910).

A ânsia de salvar a pessoa amada parece conduzir a uma relação, apenas, vaga e superficial, e plenamente explicada por motivos conscientes, com essas fantasias que acabaram por dominar o amor do homem na vida real. (…) Entretanto, o estudo das lembranças encobridoras das pessoas, fantasias e sonhos noturnos, revela que deparamos, aqui, com uma `racionalização’ especialmente oportuna de um motivo inconsciente, um processo que pode ser comparado à elaboração secundária bem- sucedida de um sonho. No fato real, o `tema-salvamento’ tem um significado e um histórico próprios, e é um derivativo independente do complexo materno ou, mais exatamente, do complexo parental. Quando a criança ouve dizer que deve sua vida aos pais, ou que sua mãe lhe deu a vida, seus sentimentos de ternura aliam-se a impulsos que lutam pelo poder e pela independência, e geram o desejo de retribuir essa dádiva aos pais e de compensá-los com outra de igual valor. (…)

É devido a todas essas conexões entre o tema-salvamento e o complexo parental que a ânsia de salvar a pessoa amada constitui uma característica importante do tipo de amor que vimos estudando. (Freud, 1974, p. 155-7) (Freud, 2006, p. 165-7)

  • Freud, S. (1974). Um tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens (Contribuições à psicologia do amor I). In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 147-157). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1910).
  • Freud, S. (2006). Sobre un tipo particular de elección de objeto en el hombre (Contribuiciones a la psicologia del amor, I). Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 155-168). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1910).

A corrente afetiva é a mais antiga das duas. Contitui-se nos primeiros anos da infância; forma-se na base dos interesses do instinto de autopreservação e se dirige aos membros da família e aos que cuidam da criança. Desde o início, leva consigo contribuições dos instintos sexuais – componentes de interesse erótico – que já se podem observar, de maneira mais ou menos clara, mesmo na infância, e que se descobrem de algum modo mais tarde nos neuróticos através da psicanálise. Corresponde à escolha de objeto, primária, da criança. (Freud, 1974, p. 164) (Freud, 2006, p. 174)

  • Freud, S. (1974). Sobre a tendência universal à depreciação na esfera do amor (contribuições à psicologia do amor II). In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 159-173). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1912).
  • Freud, S. (2006). Sobre la más generalizada degradación de la vida amorosa (Contribuiciones a la psicologia del amor, II). Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 169-184). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1912).

Os instintos sexuais estão, de início, ligados à satisfação dos instintos do ego; somente depois é que eles se tornam independentes destes, e mesmo então encontramos uma indicação dessa vinculação original no fato de que os primeiros objetos sexuais de uma criança são as pessoas que se preocupam com sua alimentação, cuidados e proteção: isto é, no primeiro caso, sua mãe ou quem quer que a substitua. (Freud, 1974, p. 103-4) (Freud, 2006, p. 84)

  • Freud, S. (1974). Sobre o narcisismo: uma introdução. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XIV, pp. 85-119). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1914).
  • Freud, S. (2006). Introducción del narcisismo. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XIV, pp. 65-98). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1914).

Quando uma mãe obsta ou detém a atividade sexual de uma filha, está realizando uma função normal cujos fundamentos são estabelecidos pelos eventos na infância, cujos motivos são perigosos e inconscientes, e que recebeu a sanção da sociedade. Constitui tarefa da filha emancipar-se dessa influência e resolver por si mesma, num terreno amplo e racional, qual deverá ser sua parcela de fruição ou negação do prazer sexual. Se, na tentativa de emancipar-se, vier a ser vítima de uma neurose, isso implica a presença de um complexo materno que, em geral, é superpoderoso e por certo não dominado. O conflito entre esse complexo e a nova direção tomada pela libido é tratado sob a forma de uma ou outra neurose, segundo a disposição do indivíduo. A manifestação da reação neurótica será sempre determinada, contudo, não por sua relação atual com o que sua mãe é hoje, mas pelas relações infantis com sua imagem mais antiga da mãe. (Freud, 1974, p. 301-2) (Freud, 2006, p. 267)

  • Freud, S. (1974). Um caso de paranoia que contraria a teoria psicanalítica da doença. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XIV, pp. 297-307). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1915).
  • Freud, S. (2006). Un caso de paranoia que contradice la teoría psicoanalítica. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XIV,pp. 259-272). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1915).

A filha encontra em sua mãe a autoridade que restringe sua vontade e que está incumbida da tarefa de impor-lhe a renúncia à liberdade sexual, renúncia que também a sociedade exige; em alguns casos, a filha encontra em sua mãe até mesmo uma competidora que luta por não ser suplantada. (Freud, 1974, p. 246) (Freud, 2006, 188)

  • Freud, S. (1974). Conferência XIII Aspectos arcaicos e infantilismo dos sonhos. Sonhos. Conferências Introdutórias sobre psicanálise. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XV, pp. 239-254). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1916).
  • Freud, S. (2006). 13a conferencia Rasgos arcaicos e infantilismo del sueño. El sueño. Conferencias de introducción al psicoanálisis. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XV, pp. 182-194). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1916).

Pai

Texto Completo

  • Freud, S. (1974). O retorno do totemismo na infância. Totem e Tabu. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 125-191). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1913).
  • Freud, S. (2006). El retorno del totemismo en la infancia. Tótem y tabú. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 103-164). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1913).

(…) nos pacientes masculinos, a maioria das resistências importantes ao tratamento parecem derivar-se do complexo paterno e expressar-se neles no medo ao pai, desobediência ao pai e desavença do pai. (Freud, 1974, p. 130) (Freud, 2006, p. 136)

  • Freud, S. (1974). As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 125-136). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1910).
  • Freud, S. (2006). El tabú de la virginidad (contribuiciones a la psicología del amor, III). Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 129-142). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1910).

A psicanálise tornou conhecida a íntima conexão existente entre o complexo do pai e a crença em Deus. Fez-nos ver que um Deus pessoal nada mais é, psicologicamente, do que uma exaltação do pai, e diariamente podemos observar jovens que abandonam suas crenças religiosas logo que a autoridade paterna se desmorona. Verificamos, assim, que as raízes da necessidade de religião se encontram no complexo parental. O Deus todo-poderoso e justo e a Natureza bondosa aparecem-nos como magnas sublimações do pai e da mãe, ou melhor, como reminiscência e restaurações das idéias infantis sobre os mesmos.

(…)

A proteção contra doenças neuróticas, que a religião concede a seus crentes, é facilmente explicável: ela afasta o complexo paternal, do qual depende o sentimento de culpa, quer no indivíduo quer na totalidade da raça humana, resolvendo-o para ele, enquanto o incrédulo tem de resolver sozinho o seu problema. (Freud, 1974, p. 112-3) (Freud, 2006, p. 115)

  • Freud, S. (1974). Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 53-124). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1910).
  • Freud, S. (2006). Un recuerdo infantil de Leonardo da Vinci. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XI,pp. 53-128). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1910).

O modelo no qual os paranóicos baseiam seus delírios de perseguição é a relação de uma criança com o pai. A imagem que um filho faz do pai é habitualmente investida de poderes excessivos desta espécie e descobre-se que a desconfiança do pai está intimamente ligada à admiração por ele. Quando um paranoico transforma a figura de um de seus associados num “perseguidor”, está elevando-o à categoria de pai; está colocando-o numa posição em que possa culpá-lo por todos os seus infortúnios. Assim esta segunda analogia entre selvagens e neuróticos nos dá um vislumbre de que grande parte da atitude de um selvagem para com seu governante provém da atitude infantil de uma criança para com o pai. (Freud, 1974, p. 71) (Freud, 2006, p. 56)

  • Freud, S. (1974). Tabu e ambivalência emocional. Totem e Tabu. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 38-96). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1913).
  • Freud, S. (2006). El tabú y la ambivalencia de las mociones de sentimiento. Tótem y tabú. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 27-78). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1913).

A psicanálise revelou que o animal totêmico é, na realidade, um substituto do pai e isto entra em acordo com o fato contraditório de que, embora a morte do animal seja em regra proibida, sua matança, no entanto, é uma ocasião festiva – com o fato de que ele é morto e, entretanto, pranteado. A atitude emocional ambivalente, que até hoje caracteriza o complexo-pai em nossos filhos e com tanta freqüência persiste na vida adulta, parece estender-se ao animal totêmico em sua capacidade de substituto do pai. (Freud, 1974, p. 169) (Freud, 2006, p. 143)

  • Freud, S. (1974). O retorno do totemismo na infância. Totem e Tabu. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 125-191). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1913).
  • Freud, S. (2006). El retorno del totemismo en la infancia. Tótem y tabú. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 103-164). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1913).

(…) a tumultuosa malta de irmãos estava cheia dos mesmos sentimentos contraditórios que podemos perceber em ação nos complexos-pai ambivalentes de nossos filhos e de nossos pacientes neuróticos. Odiavam o pai, que representava um obstáculo tão formidável ao seu anseio de poder e aos desejos sexuais; mas amavam-no e admiravam-no também. (Freud, 1974, p. 171) (Freud, 2006, p. 145)

  • Freud, S. (1974). O retorno do totemismo na infância. Totem e Tabu. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 125-191). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1913).
  • Freud, S. (2006). El retorno del totemismo en la infancia. Tótem y tabú. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 103-164). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1913).

(…) descobrimos que a ambivalência implícita no complexo-pai persiste geralmente no totemismo e nas religiões. A religião totêmica não apenas compreendia expressões de remorso e tentativas de expiação, mas também servia como recordação do triunfo sobre o pai. (Freud, 19974, p. 174) (Freud, 2006, p. 147)

  • Freud, S. (1974). O retorno do totemismo na infância. Totem e Tabu. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 125-191). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1913).
  • Freud, S. (2006). El retorno del totemismo en la infancia. Tótem y tabú. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 103-164). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1913).

De toda as imagens (imagos) de uma infância que, via de regra, não é mais recordada, nenhuma é mais importante para um jovem ou um homem que a do pai. A necessidade orgânica introduz na relação de um homem com o pai uma ambivalência emocional que encontramos expressa de forma mais notável no mito grego do rei Édipo. Um rapazinho está fadado a amar e a admirar o pai, que lhe parece ser a mais poderosa, bondosa e sábia criatura do mundo. O próprio Deus, em última análise, é apenas uma exaltação dessa imagem do pai, tal como é representado na mente durante a mais tenra infância. Cedo, porém, surge o outro lado da relação emocional. O pai é identificado como o perturbador máximo da nossa vida instintiva; torna-se um modelo não apenas a ser imitado, mas também a ser eliminado para que possamos tomar o seu lugar. Daí em diante, os impulsos afetuosos e hostis para com ele persistem lado a lado, muitas vezes, até o fim da vida, sem que nenhum deles seja capaz de anular o outro. É nessa existência concomitante de sentimentos contrários que reside o caráter essencial daquilo que chamamos de ambivalência emocional. (Freud, 1974, p. 287) (Freud, 2006, p. 249)

  • Freud, S. (1974). Algumas reflexões sobre a psicologia do escolar. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 281-288). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1914).
  • Freud, S. (2006). Sobre la psicología del colegial. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XIII, pp. 243-250). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1914).

Aos olhos do filho, o pai representa todas as restrições sociais relutantemente toleradas; o pai lhe impede o exercício da vontade, o prazer sexual incipiente e, nas famílias em que existe propriedade comum, o desfrute desta. No caso de um herdeiro do trono, essa espera da morte do pai atinge as raias do trágico. (Freud, 1974, p. 246-7) (Freud, 2006, p. 188)

  • Freud, S. (1974). Conferência XIII Aspectos arcaicos e infantilismo dos sonhos. Sonhos. Conferências Introdutórias sobre psicanálise. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XV, pp. 239-254). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1916).
  • Freud, S. (2006). 13a conferencia Rasgos arcaicos e infantilismo del sueño. El sueño. Conferencias de introducción al psicoanálisis. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XV, pp. 182-194). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1916).

Um poderoso vínculo erótico com uma filha, que remonta aos primórdios da constituição sexual da mãe, às vezes encontra a forma de sobreviver numa transformação dessa ordem. Com referência a isto, posso, talvez, recordar-lhes que a relação entre sogra e genro tem sido considerada, desde as épocas mais remotas da raça humana, como relação particularmente embaraçosa e que, entre tribos primitivas, deu origem a regulamentações e ‘evitações’ tabu muito poderosas (Freud, 1996a, p. 261).

  • Freud, S. (1996a). Conferência XVI: Psicanálise e Psiquiatria. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud Vol. 16, pp. 251-264. Rio de Janeiro, RJ: Imago. (obra original publicada em 1917)

Complexo de Édipo

O que, então, se pode reunir acerca de complexo de Édipo, a partir da observação direta das crianças, na época em que fazem sua escolha de um objeto, antes do período de latência? Pois bem, é fácil verificar que o homenzinho quer ter sua mãe toda para si mesmo, que sente a presença de seu pai como um estorvo, que fica ressentido quando o pai dispensa qualquer sinal de afeição à mãe, e que mostra satisfação quando o pai saiu de viagem ou está ausente. Amiúde expressará seus sentimentos diretamente em palavras e prometerá à sua mãe casar com ela. Pensar-se-á que isto assume proporções modestas, se comparando com os feitos de Édipo; na realidade, porém, é, nada mais nada menos, basicamente a mesma coisa. A observação é frequentemente obscurecida pela circunstância de, em outras ocasiões, a própria criança dar mostras de grande afeição pelo pai. Atitudes emocionais contrárias – ou, seria melhor dizer, ‘ambivalentes’ – que, em adultos, conduziriam a um conflito, permanecem, porém, compatíveis uma com a outra, por longo tempo, nas crianças, como também, mais tarde, encontram um lugar permanente, lado a lado, no inconsciente. Do mesmo modo, haver-se-á de objetar que a conduta do menino origina-se em motivos egoísticos e não oferece base para se postular um complexo erótico: a mãe satisfaz todas as necessidades da criança, de modo que esta tem interesse em evitar que ela venha a dispensar cuidados a uma outra pessoa. Esse fato também é procedente; mas, logo tornar-se-á claro que, nessa situação, como em outras semelhantes, o interesse egoístico simplesmente oferece um ponto de apoio ao qual a tendência erótica se vincula. O menino pode mostrar a mais indisfarçada curiosidade sexual para com sua mãe, pode insistir em dormir ao seu lado, à noite, pode impor sua presença, junto a ela quando ela está se vestindo, ou, mesmo fazer tentativas reais de seduzi-la, conforme sua mãe divertidamente perceberá e relatará – tudo isso demonstra inequivocamente a natureza erótica de sua ligação com a mãe. E não se deve esquecer que a mãe dedica a mesma atenção à sua filhinha, sem produzir igual resultado, e que seu pai amiúde compete com a mãe em proporcionar cuidados ao menino, e, no entanto, não lhe é atribuída a mesma importância que a ela. Em resumo, não existe crítica que possa eliminar dessa situação o fator da preferência sexual. Do ponto de vista do interesse egoístico, seria simplesmente uma tolice o homenzinho não preferir suportar o fato de ter duas pessoas a seu serviço, a ter apenas uma delas.

Como vêem, descrevi-lhes apenas a relação de um menino para com seu pai e sua mãe. As coisas se passam de modo exatamente igual com as meninas, com as devidas modificações: uma afetuosa ligação com o pai, uma necessidade de eliminar a mãe, por julgá-la supérflua, e de tomar-lhe o lugar, um coquetismo que já utiliza os métodos da futura feminilidade – tudo isso oferece um quadro encantador, especialmente em meninas, o que nos faz esquecer as consequências possivelmente graves que se escondem nessa situação infantil. Não devemos deixar de acrescentar que os próprios pais frequentemente exercem uma influência decisiva no despertar da atitude edipiana da criança, ao cederem ao empuxo da atração sexual, e que, onde houver diversas crianças, o pai dará definidas provas de sua maior afeição por sua filhinha e a mãe, por seu filho. Mas a natureza espontânea do complexo de Édipo nas crianças não pode ser seriamente abalada até mesmo por esse fator.

Quando outras crianças aparecem em cena, o complexo de Édipo avoluma-se em um complexo de família. Este, com novo apoio obtido a partir do sentimento egoístico de haver sido prejudicado, dá fundamento a que os novos irmãos e irmãs sejam recebidos com aversão, e faz com que, sem hesitações, sejam, em desejos, eliminados. Também é verdade que, via de regra, as crianças são muito mais capazes de expressar verbalmente esses sentimentos de ódio, do que aqueles decorrentes do complexo parental. Se um desejo desse tipo se realiza, e se o irmão que se acrescentou à família desaparece novamente, logo depois, devido à sua morte, podemos descobrir, numa análise subsequente, quão importante foi para a criança essa experiência referente à morte, embora ela não tenha necessariamente permanecido fixada em sua memória. Uma criança que tenha sido posta em segundo lugar pelo nascimento de um irmão ou irmã, e que agora, pela primeira vez, é quase isolada de sua mãe, não perdoa a esta, com facilidade, sua perda de lugar; sentimentos que, em um adulto, seriam descritos como de intenso ressentimento, surgem na criança e frequentemente constituem a base de permanente desavença. Já mencionamos que as investigações sexuais da criança, com todas as suas consequências, geralmente se originam dessa experiência vital sua. À medida que esses irmãos e irmãs crescem, a atitude do menino para com eles sofre transformações muito significativas. Pode tomar sua irmã como objeto de amor, à maneira de substituta da mãe infiel. Onde há diversos irmãos, todos cortejando uma irmã mais nova, surgem, já na época infantil, situações de rivalidade hostil que são tão importantes, na vida, mais tarde. Uma menina pode encontrar em seu irmão, mais velho, um substituto para seu pai, que não mantém mais um interesse afetuoso por ela como o fazia em anos anteriores. Ou pode tomar uma irmã mais nova como substituta da criança que ela, em vão, desejou ter de seu pai.

Isto e muito mais de natureza semelhante ser-lhe-á demonstrado pela observação direta de crianças e pelo exame de recordações nitidamente retidas desde a infância, não influenciadas pela análise. Disto os senhores concluirão, entre outras coisas, que a posição que uma criança ocupa na sequência da família é fator de extrema importância na determinação da forma de sua vida posterior, e deve merecer consideração em toda anamnese. Mas, o que é mais importante, em vista dessas informações, que podem ser obtidas tão facilmente: os senhores não poderão recordar sem um sorriso os pronunciamentos da ciência ao explicar a proibição do incesto. Não tem fim o que já se inventou sobre o assunto. Tem sido dito que a tendência sexual é desviada de membros da mesma família pertencentes ao sexo oposto, pelo fato de terem vivido juntos desde a infância; ou ainda, que um propósito biológico de evitar a consanguinidade é representado psiquicamente por um inato horror ao incesto. Nisso tudo, deixa-se de atentar para o fato de que uma proibição tão peremptória não seria necessária nas leis e nos costumes, se houvesse barreiras naturais seguras contra a tentação do incesto. A verdade é justamente o oposto. A primeira escolha objetal de um ser humano é regularmente incestuosa, dirigida, no caso do homem, à sua mãe e à sua irmã; e necessita das mais severas proibições para impedir que essa tendência infantil persistente se realize. Entre raças primitivas viventes ainda nos dias atuais, entre selvagens, as proibições contra o incesto são ainda muito mais estritas do que entre nós, e Theodor Reik, ainda recentemente, num brilhante trabalho [Reik, 1915-16] demonstrou que os ritos da puberdade dos selvagens, que representam um renascimento, têm o sentido de liberar o menino de seus laços incestuosos com sua mãe e de reconciliá-lo com seu pai.

A mitologia lhes ensinará que o incesto que se pensa ser tão rechaçado pelos seres humanos, é inequivocamente permitido aos deuses. E, na história antiga, podem constatar que o casamento incestuoso com a irmã era um preceito santificado imposto à pessoa do soberano (entre os faraós egípcios e os incas do Peru). O que estava em jogo, portanto, era um privilégio proibido ao homem comum.

Um dos crimes de Édipo foi o incesto com a mãe, o outro foi o parricídio. Pode-se observar, de passagem, que estes são também os dois grandes crimes proscritos pelo totemismo, a primeira instituição social-religiosa da humanidade.

Retornemos, agora, da observação direta das crianças ao exame analítico dos adultos que se tornaram neuróticos. Que ajuda nos proporciona a análise para um melhor conhecimento do complexo de Édipo? Isto pode ser respondido numa palavra. A análise confirma tudo o que a lenda descreve. Mostra que cada um desses neuróticos também tem sido um Édipo, ou, o que vem a dar no mesmo, como reação ao complexo, tornou-se um Hamlet. A explicação analítica do complexo de Édipo é, naturalmente, uma ampliação e uma versão mais crua do esboço infantil. O ódio ao pai, os desejos de morte contra ele, já não são mais insinuados timidamente, a afeição pela mãe admite que seu objetivo é possuí-la como mulher. Devemos realmente atribuir esses impulsos emocionais turbulentos e externos aos tenros anos da infância, ou será que a análise nos engana com a mistura de algum fator novo? Não é difícil achar um desses fatores. Sempre que alguém faz um relato de um acontecimento passado, ainda que seja um historiador, devemos ter em mente o que é que ele intencionalmente faz recuar do presente, ou de alguma época intermediária, para o passado, falsificando, com isso, o seu quadro referente ao fato. No caso de um neurótico, até mesmo surge a questão de saber se esse recuar para o passado é totalmente não-intencional; de ora em diante, teremos de descobrir as razões disso, e teremos de, no geral, considerar atentamente o fato do ‘fantasiar retrospectivo’. Facilmente podemos verificar também que o ódio ao pai é reforçado por diversos fatores que surgem de épocas e circunstâncias posteriores, e que os desejos sexuais dirigidos à mãe assumem formas tais, que devem ter sido estranhos até mesmo para uma criança. Entretanto, seria um esforço vão procurar explicar a totalidade do complexo de Édipo através do fantasiar retrospectivo e vinculá-la a épocas posteriores. Seu núcleo infantil e, no geral, seus aspectos acessórios permanecem do modo como foram confirmados pela observação direta de crianças.

O fato clínico que se nos apresenta sob a forma do complexo de Édipo, tal como é estabelecido pela análise, é da mais alta significação prática. Constatamos que, na puberdade, quando os instintos sexuais, pela primeira vez, fazem suas exigências com toda a sua força, os velhos objetos incestuosos familiares são retomados mais uma vez e novamente catexizados com a libido. A escolha objetal infantil era apenas uma escolha débil, mas já era um começo que indicava a direção para a escolha objetal na puberdade. Nesse ponto, desenrolam-se, assim, processos emocionais muito intensos que seguem a direção do complexo de Édipo ou reagem contra ele, processos que, entretanto, de vez que suas premissas se tornaram intoleráveis, devem, em larga escala, permanecer apartados da consciência. Dessa época em diante, o indivíduo humano tem de se dedicar à grande tarefa de desvincular-se de seus pais e, enquanto essa tarefa não for cumprida, ele não pode deixar de ser uma criança para se tornar membro da comunidade social. Para o filho, essa tarefa consiste em desligar seus desejos libidinais de sua mãe e empregá-los na escolha de um objeto amoroso real externo e em reconciliar-se com o pai, se permaneceu em oposição a este, ou em liberar-se da pressão deste, se, como reação à sua rebeldia infantil, tornou-se subserviente a ele. Essas tarefas são propostas a todas as pessoas; e é de causar espécie quão raramente as pessoas enfrentam tais tarefas de maneira ideal – isto é, de maneira tal que seja correta, tanto psicológica como socialmente. Os neuróticos, porém, não chegam absolutamente a nenhuma solução: o filho permanece por toda a vida subjugado à autoridade do pai e é incapaz de transferir sua libido a um objeto sexual externo. Com o relacionamento modificado, o mesmo destino pode esperar a filha. Nesse sentido, o complexo de Édipo justificadamente pode ser considerado como o núcleo das neuroses (Freud, 1996c, pp. 336-341).

  • Freud, S. (1996c). Conferência XXI: O Desenvolvimento da Libido e As Organizações Sexuais. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 16, pp. 325-343). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1917).

A sedução por uma criança de mais idade ou por alguém da mesma idade é ainda mais frequente do que por um adulto; e, no caso de meninas, que relatam um evento dessa ordem na sua infância, no qual o pai figura com muita regularidade como o sedutor, não pode haver dúvida alguma quanto à natureza imaginária da acusação, nem quanto ao motivo que levou a formulá-la.

  • Freud, S. (1996d). Conferência XXIII: Os Caminhos da Formação dos Sintomas. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 16, pp. 361-378). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1917).

A seguir, como algo especialmente instrutivo, podemos dar ênfase à relação que existe entre o ardil pelo qual um grupo artificial se mantém unido, e a constituição da horda primeva. Vimos que, com o exército e a Igreja, esse artifício é a ilusão de que o líder ama todos os indivíduos de modo igual e justo. Mas isso constitui apenas uma remodelação idealística do estado de coisas na horda primeva, onde todos os filhos sabiam que eram igualmente perseguidos pelo pai primevo e o temiam igualmente. Essa mesma remoldagem sobre a qual todos os deveres sociais se erguem, já se acha pressuposta pela forma seguinte da sociedade humana, o clã totêmico. A força indestrutível da família como formação natural de grupo reside no fato de que essa pressuposição necessária do amor igual do pai pode ter uma aplicação real na família (Freud, 1996j, pp. 135-136).

  • Freud, S. (1996j). Psicologia de Grupo e a Análise do Ego. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 18, pp. 81-156). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1921).

O desenvolvimento da libido nas crianças familiarizou-nos com o primeiro, mas também o melhor, exemplo de instintos sexuais inibidos em seus objetivos. Todos os sentimentos que uma criança tem para com os pais e para com aqueles que cuidam dela transformam-se, por uma fácil transição, em desejos que dão expressão aos impulsos sexuais da criança. Ela reivindica desses objetos de seu amor todos os sinais de afeição que conhece; quer beijá-los, tocá-los e olhá-los; tem curiosidade de ver seus órgãos genitais e estar com eles quando realizam suas funções excretórias íntimas; promete casar-se com a mãe ou com a babá, não importa o que entenda por casamento; propõe-se a si mesma ter um filho do pai etc. A observação direta, bem como a subsequente investigação analítica dos resíduos da infância, não deixa dúvidas quanto à completa fusão de sentimentos ternos e ciumentos e de intenções sexuais, mostrando-nos de que maneira fundamental a criança faz da pessoa que ama o objeto de todas as suas tendências sexuais, ainda não corretamente centradas(Freud, 1996j, p. 148).

  • Freud, S. (1996j). Psicologia de Grupo e a Análise do Ego. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 18, pp. 81-156). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1921)

O reconhecimento do fator orgânico no homossexualismo não nos isenta da obrigação de estudar os processos psíquicos vinculados à sua origem. O processo típico, já estabelecido em casos inumeráveis, é de um jovem, alguns anos após a puberdade, e que até então fora intensamente fixado na mãe, mudar de atitude; identifica-se com ela e procura objetos amorosos em quem possa redescobrir-se e a quem possa então amar como a mãe o amara. A marca característica desse processo é que, por vários anos, uma das condições necessárias para o seu amor consiste em o objeto masculino ter, em geral, a mesma idade que ele próprio tinha quando se deu a mudança. Vimos a conhecer diversos fatores que contribuem para esse resultado, provavelmente em graus diferentes. Primeiro há a fixação na mãe, que fica difícil de passar para outra mulher. A identificação com a mãe é um resultado dessa ligação e ao mesmo tempo, em certo sentido, permite que o filho lhe permaneça fiel, a ela que foi seu primeiro objeto (Freud, 1996l, p. 245).

  • Freud, S. (1996l). Alguns Mecanismos Neuróticos no Ciúme, na Paranoia e no Homossexualismo. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 18, pp. 237-250). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1922).

O superego, contudo, não é simplesmente um resíduo das primitivas escolhas objetais do id; ele também representa uma formação reativa enérgica contra essas escolhas. A sua relação com o ego não se exaure com o preceito: ‘Você deveria ser assim (como o seu pai) ‘. Ela também compreende a proibição: ‘Você não pode ser assim (como o seu pai), isto é, você não pode fazer tudo o que ele faz; certas coisas são prerrogativas dele. ‘ Esse aspecto duplo do ideal do ego deriva do fato de que o ideal do ego tem a missão de reprimir o complexo de Édipo; em verdade, é a esse evento revolucionário que ele deve a sua existência. É claro que a repressão do complexo de Édipo não era tarefa fácil. Os pais da criança, e especialmente o pai, eram percebidos como obstáculo a uma realização dos desejos edipianos, de maneira que o ego infantil fortificou-se para a execução da repressão erguendo esse mesmo obstáculo dentro de si próprio. Para realizar isso, tomou emprestado, por assim dizer, força ao pai, e este empréstimo constituiu um ato extraordinariamente momentoso. O superego retém o caráter do pai, enquanto que quanto mais poderoso o complexo de Édipo e mais rapidamente sucumbir à repressão (sob a influência da autoridade do ensino religioso, da educação escolar e da leitura), mais severa será posteriormente a dominação do superego sobre o ego, sob a forma de consciência (conscience) ou, talvez, de um sentimento inconsciente de culpa (Freud, 1996m, p. 47).

  • Freud, S. (1996m). O Ego e o Id. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.)Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp. 25-82). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1923).

De fato, soa estranho que o Diabo seja escolhido como substituto para um amado pai. Porém, só à primeira vista, pois sabemos de muitas coisas que irão abrandar nossa surpresa. Para começar, sabemos que Deus é um substituto paterno, ou, mais corretamente, que ele é um pai exalçado, ou, ainda, que constitui a cópia de um pai tal como este é visto e experimentado na infância – pelos indivíduos em sua própria infância, e pela humanidade em sua pré-história, como pai da horda primitiva e primeva. Posteriormente na vida, o indivíduo vê seu pai como algo diferente e menor. Porém, a imagem ideativa que pertence à infância é preservada e se funde com os traços da memória herdados do pai primevo para formar a ideia que o indivíduo tem de Deus. Sabemos também, da vida secreta do indivíduo revelada pela análise, que sua relação com o pai foi talvez ambivalente desde o início, ou, pelo menos, cedo veio a ser assim. Isso equivale a dizer que ela continha dois conjuntos de impulsos emocionais que se opunham mutuamente; continha não apenas impulsos de natureza afetuosa e submissa, mas também impulsos hostis e desafiadores. É nossa opinião que a mesma ambivalência dirige as relações da humanidade com sua Divindade. O problema não solucionado entre o anseio pelo pai, por um lado, e, por outro, o medo dele e o seu desafio pelo filho, nos proporcionou uma explicação de importantes características da religião e de decisivas vicissitudes nela (Freud, 1996n, p. 101).

  • Freud, S. (1996n). Uma Neurose Demoníaca do Século XVII. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp. 87-122). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1923).

Se pudéssemos conhecer tanto sobre Christoph Haizmann quanto conhecemos sobre um paciente que faz análise conosco, seria assunto fácil trazer à tona essa ambivalência, fazê-lo recordar quando e face a quais provocações ele encontrou motivos para temer e odiar o pai, e acima de tudo, descobrir quais foram os fatores acidentais que se acrescentaram aos motivos típicos para o ódio ao pai, inerentes ao relacionamento natural de filho e pai (Freud, 1996n, p. 103).

  • Freud, S. (1996n). Uma Neurose Demoníaca do Século XVII. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp. 87-122). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1923).

Não se deve supor, contudo, que a criança efetua rápida e prontamente uma generalização de sua observação de que algumas mulheres não têm pênis. De qualquer modo, ela é impedida de fazê-lo porque supõe ser a falta de um pênis resultado de ter sido castrada como punição. Ao contrário, a criança acredita que são apenas pessoas desprezíveis do sexo feminino que perderam seus órgãos genitais – mulheres que, com toda probabilidade, foram culpadas de impulsos inadmissíveis semelhantes ao seu próprio. Mulheres a quem ela respeita, como sua mãe, retêm o pênis por longo tempo. Para ela, ser mulher ainda não é sinônimo de não ter pênis. Mais tarde, quando a criança retoma os problemas da origem e nascimento dos bebês, e adivinha que apenas as mulheres podem dar-lhes nascimento, somente então também a mãe perde seu pênis. E, juntamente, são construídas teorias bastante complicadas para explicar a troca do pênis por um bebê. Em tudo isso, os órgãos genitais femininos jamais parecem ser descobertos. Como sabemos, imagina-se que a bebê viva dentro do corpo da mãe (em seus intestinos) e nasça através da saída intestinal (Freud, 1996o, pp. 159-160).

  • Freud, S. (1996o). A Organização Genital Infantil: Uma Interpolação na Teoria da Sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp. 157-164). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1923).

O complexo de Édipo mostra assim ser – como já foi conjecturado num sentido histórico – a fonte de nosso senso ético individual, de nossa moralidade. O curso do desenvolvimento da infância conduz a um desligamento sempre crescente dos pais e a significação pessoal desses para o superego retrocede para o segundo plano. Às imagos que deixam lá atrás estão, pois, vinculadas as influências de professores e autoridades, modelos auto escolhidos e heróis publicamente reconhecidos, cujas figuras não mais precisam ser introjetadas por um ego que se tornou resistente. A última figura na série iniciada com os pais é o poder sombrio do Destino, que apenas poucos dentre nós são capazes de encarar como impessoal. Pouco há que dizer contra o escritor holandês Multatuli, quando substitui o Μοῖρα [Destino] dos gregos pelo par divino Λóγoς και Ανάγκη [Razão e Necessidade], mas todos os que transferem a orientação do mundo para a Providência, Deus, ou Deus e a Natureza, despertam a suspeita de que ainda consideram esses poderes supremos e remotos como uma dupla parental, num sentido mitológico, e se acreditam vinculados a eles por laços libidinais. Em O Ego e o Id fiz uma tentativa de derivar o temor realista que a humanidade tem da morte, também da mesma visão parental da sorte. Parece muito difícil libertar-se dela(Freud, 1996p, pp. 185-186).

  • Freud, S. (1996p). O Problema Econômico do Masoquismo. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp. 177-202). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1924).

Não devemos ser tão míopes quanto a pessoa encarregada da criança, que a ameaça com a castração, e não devemos desprezar o fato de que, nessa época, a masturbação de modo algum representa a totalidade de sua vida sexual. Como pode ser claramente demonstrado, ela está na atitude edipiana para com os pais; sua masturbação constitui apenas uma descarga genital da excitação sexual pertinente ao complexo, e, durante todos os seus anos posteriores, deverá sua importância a esse relacionamento. O complexo de Édipo ofereceu à criança duas possibilidades de satisfação, uma ativa e outra passiva. Ela poderia colocar-se no lugar de seu pai, à maneira masculina, e ter relações com a mãe, como tinha o pai, caso em que cedo teria sentido o último como um estorvo, ou poderia querer assumir o lugar da mãe e ser amada pelo pai, caso em que a mãe se tornaria supérflua. A criança pode ter tido apenas noções muito vagas quanto ao que constitui uma relação erótica satisfatória, mas certamente o pênis devia desempenhar uma parte nela, pois as sensações em seu próprio órgão eram prova disso. Até então, não tivera ocasião de duvidar que as mulheres possuíssem pênis. Agora, porém, sua aceitação da possibilidade de castração, seu reconhecimento de que as mulheres eram castradas, punha fim às duas maneiras possíveis de obter satisfação do complexo de Édipo, de vez que ambas acarretavam a perda de seu pênis – a masculina como uma punição resultante e a feminina como precondição. Se a satisfação do amor no campo do complexo de Édipo deve custar à criança o pênis, está fadado a surgir um conflito entre seu interesse narcísico nessa parte de seu corpo e a catexia libidinal de seus objetos parentais. Nesse conflito, triunfa normalmente a primeira dessas forças: o ego da criança volta as costas ao complexo de Édipo.

Descrevi noutra parte como esse afastamento se realiza. As catexias de objeto são abandonadas e substituídas por identificações. A autoridade do pai ou dos pais é introjetada no ego e aí forma o núcleo do superego, que assume a severidade do pai e perpetua a proibição deste contra o incesto, defendendo assim o ego do retorno da catexia libidinal. As tendências libidinais pertencentes ao complexo de Édipo são em parte dessexualizadas e sublimadas (coisa que provavelmente acontece com toda transformação em uma identificação) e em parte são inibidas em seu objetivo e transformadas em impulsos de afeição. Todo o processo, por um lado, preservou o órgão genital – afastou o perigo de sua perda – e, por outro, paralisou-o – removeu sua função. Esse processo introduz o período de latência, que agora interrompe o desenvolvimento sexual da criança (Freud, 1996q, pp. 195-196).

  • Freud, S. (1996q). A Dissolução do Complexo de Édipo. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp. 193-202). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1924).

Estando assim excluído, na menina, o temor da castração, cai também um motivo poderoso para o estabelecimento de um superego e para a interrupção da organização genital infantil. Nela, muito mais que no menino, essas mudanças parecem ser resultado da criação e de intimidação oriunda do exterior, as quais a ameaçam com uma perda de amor. O complexo de Édipo da menina é muito mais simples que o do pequeno portador do pênis; em minha experiência, raramente ele vai além de assumir o lugar da mãe e adotar uma atitude feminina para com o pai. A renúncia ao pênis não é tolerada pela menina sem alguma tentativa de compensação. Ela desliza – ao longo da linha de uma equação simbólica, poder-se-ia dizer – do pênis para um bebê. Seu complexo de Édipo culmina em um desejo, mantido por muito tempo, de receber do pai um bebê como presente – dar-lhe um filho (Freud, 1996q, p. 198).

  • Freud, S. (1996q). A Dissolução do Complexo de Édipo. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp. 193-202). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1924).

Nos meninos, a situação do complexo de Édipo é o primeiro estádio possível de ser identificado com certeza. É fácil de compreender, de vez que nesse estádio a criança retém o mesmo objeto que previamente catexizou com sua libido – não ainda um objeto genital – durante o período precedente, enquanto estava sendo amamentada e cuidada. Também o fato de que, nessa situação, encare o pai como um rival perturbador e goste de se ver livre dele e tomar-lhe o lugar, é consequência direta do estado real de coisas. Demonstrei alhures como a atitude edipiana nos meninos pertence à fase fálica e como sua destruição é ocasionada pelo temor da castração – isto é, pelo interesse narcísico nos órgãos genitais. O assunto fica mais difícil de apreender pela circunstância complicante de que mesmo em meninos o complexo de Édipo possui uma orientação dupla, ativa e passiva, de acordo com sua constituição bissexual; o menino também deseja tomar o lugar de sua mãe como objeto de amor de seu pai – fato que descrevemos como sendo a atitude feminina (Freud, 1996r, pp. 278-279).

  • Freud, S. (1996r). Algumas Consequências Psíquicas da Distinção Anatômica Entre os Sexos. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp. 277-288). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1925).

Até aqui não se cogitou do complexo de Édipo, nem até esse ponto desempenhou ele qualquer papel. Agora, porém, a libido da menina desliza para uma nova posição ao longo da linha – não há outra maneira de exprimi-lo – da equação ‘pênis-criança’. Ela abandona seu desejo de um pênis e coloca em seu lugar o desejo de um filho; com esse fim em vista, toma o pai como objeto de amor. A mãe se torna o objeto de seu ciúme. A menina transformou-se em uma pequena mulher. Se dou crédito a um único exemplo analítico, essa nova situação pode gerar sensações físicas que se teria de considerar como um despertar prematuro do aparelho genital feminino. Malogrando-se mais tarde e tendo de ser abandonada, a ligação da menina a seu pai pode ceder lugar a uma identificação com ele, e pode ser que assim a menina retorne a seu complexo de masculinidade e, talvez, permaneça fixada nele(Freud, 1996r, p. 284).

  • Freud, S. (1996r). Algumas Consequências Psíquicas da Distinção Anatômica Entre os Sexos. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp. 277-288). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1925).

Pode-se supor que a formação de famílias deveu-se ao fato de ter ocorrido um momento em que a necessidade de satisfação genital não apareceu mais como um hóspede que surge repentinamente e do qual, após a partida, não mais se ouve falar por longo tempo, mas que, pelo contrário, se alojou como inquilino permanente. Quando isso aconteceu, o macho adquiriu um motivo para conservar a fêmea junto de si, ou, em termos mais gerais, seus objetos sexuais, ao passo que a fêmea, não querendo separar-se de seus rebentos indefesos, viu-se obrigada, no interesse deles, a permanecer com o macho mais forte. (Freud, 1996, p. 105)

  • Freud, S. (1996). O mal-estar na civilização. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 21, pp. 73-148). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1930).

O macho forte era senhor e pai de toda horda, e irrestrito em seu poder, que exercia com violência. Todas as fêmeas eram propriedade sua – esposas e filhas de sua própria horda, e algumas, talvez, roubadas de outras hordas. A sorte dos filhos era dura: se despertavam o ciúme do pai, eram mortos, castrados, ou expulsos. (…) O primeiro passo decisivo no sentido de uma modificação nesse tipo de organização ‘social’ parece ter sido que os irmãos expulsos, vivendo numa comunidade, uniram-se para derrotar o pai e, como era costume naqueles dias, devoraram-no cru. (Freud, 1996, p. 96).

  • Freud, S. (1996). Moisés, o seu povo e a religião monoteísta. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 23, pp. 67-150). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1938).

As pessoas dão o nome de ‘amor’ ao relacionamento entre um homem e uma mulher cujas necessidades genitais os levaram a fundar uma família; também dão esse nome aos sentimentos positivos existentes entre pais e filhos, e entre os irmãos e as irmãs de uma família, embora nós sejamos obrigados a descrever isso como ‘amor Inibido em sua finalidade’ ou ‘afeição’ (…) O amor genital conduz à formação de novas famílias, e o amor inibido em sua finalidade, a ‘amizades’ que se tornam valiosas, de um ponto de vista cultural, por fugirem a algumas das limitações do amor genital, como, por exemplo, à sua exclusividade. (Freud, 1996, p. 108)

  • Freud, S. (1996). O mal-estar na civilização. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 21, pp. 73-148). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1930).

Quanto mais estreitamente os membros de uma família se achem mutuamente ligados, com mais frequência tendem a se apartarem dos outros e mais difícil lhes é ingressar no círculo mais amplo da cidade. (…) Separar-se da família torna-se uma tarefa com que todo jovem se defronta, e a sociedade frequentemente o auxilia na solução disso através dos ritos de puberdade e de iniciação. (Freud, 1996, pp. 108-109

  • Freud, S. (1996). O mal-estar na civilização. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 21, pp. 73-148). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1930)

Vamos tornar claro para nós mesmos qual a tarefa primeira da educação. A criança deve aprender a controlar seus instintos. É impossível conceder-lhe liberdade de por em prática todos os seus impulsos sem restrição. Fazê-lo seria um experimento muito instrutivo para os psicólogos de crianças; mas a vida seria impossível para os pais, e as próprias crianças sofreriam grave prejuízo, que se exteriorizaria, em parte, imediatamente, e, em parte, nos anos subsequentes. Na análise, porém, temos verificado que precisamente essa supressão dos instintos envolve o risco de doença neurótica. “. (Freud, 1996, p. 147)

  • Freud, S. (1996). Conferência XXXIV: explicações, aplicações e orientações. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 22, p. 135-154). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1933).

A influência dos pais governa a criança, concedendo-lhe provas de amor e ameaçando com castigos, os quais, para a criança, são sinais de perda do amor e se farão temer por essa mesma causa. (…) Apenas posteriormente é que se desenvolve a situação secundária (…), quando a coerção externa é internalizada, e o superego assume o lugar de instância parental e observa, dirige e ameaça o ego, da mesma forma que anteriormente os pais faziam com a criança. (Freud, 1996, pp. 67-68)

  • Freud, S. (1996). Conferência XXXI: a dissecção da personalidade psíquica. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 22, pp. 63-84). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1933).

E não se deve esquecer que uma criança tem conceitos diferentes sobre seus pais, em diferentes períodos de sua vida. À época em que o complexo de Édipo dá lugar ao superego, eles são algo de muito extraordinário; depois, porém, perdem muito desse atributo.” (Freud, 1996, p. 70).

  • Freud, S. (1996). Conferência XXXI: a dissecção da personalidade psíquica. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 22, p. 63-84). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1933)

Mãe

Desta maneira, a mãe, que satisfaz a fome da criança, torna-se seu primeiro objeto amoroso e, certamente, também sua primeira proteção contra todos os perigos indefinidos que a ameaçam no mundo externo – sua primeira proteção contra a ansiedade, podemos dizer.

Nessa função [de proteção] a mãe é logo substituída pelo pai mais forte, que retém essa posição pelo resto da infância. Mas a atitude da criança para com o pai é matizada por uma ambivalência peculiar. O próprio pai constitui um perigo para a criança, talvez por causa do relacionamento anterior dela com a mãe. Assim ela o teme tanto quanto anseia por ele e o admira. (Freud, 1996, p. 32).

  • Freud, S. (1996). O mal-estar na civilização. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 21, pp. 73-148). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1930).

A mãe somente obtém satisfação sem limites na sua relação com seu filho menino; este é, sem exceção, o mais perfeito, o mais livre de ambivalência de todos os relacionamentos humanos.2 Uma mãe pode transferir para o seu filho aquela ambição que teve de suprimir em si mesma, e dele esperar a satisfação de tudo aquilo que nela restou do seu complexo de masculinidade. (Freud, 1996, p. 132).

  • Freud, S. (1996). Conferência XXXIII: Feminilidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 22, p. 113-134). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1933).

Quando passamos em revista toda a gama de motivos para se afastar da mãe que a análise traz à luz – que ela falhou em fornecer à menina o único ou órgão genital correto, que não a amamentou o suficiente, que a compeliu a partilhar o amor da mãe com outros, que nunca atendeu às expectativas de amor da menina, e, finalmente, que primeiro despertou a sua atividade sexual e depois a proibiu -, todos esses motivos, não obstante, parecem insuficientes para justificar a hostilidade final da menina. (Freud, 1996, p.242).

  • Freud, S. (1996). Sexualidade feminina. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 21, pp. 233-251). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1931)

Concluiremos, então, que a intensa ligação da menina à mãe é fortemente ambivalente (…). (Freud, 1996, p. 243)

  • Freud, S. (1996). Sexualidade feminina. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 21, p. 233-251). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1931).

Pai

O mesmo pai (ou instância parental) que deu vida à criança e a protegeu contra os perigos, ensinou-lhe também o que podia fazer e o que devia deixar de fazer, instruiu-a no sentido de adaptar-se a determinadas restrições em seus desejos instintuais e fê-la compreender o respeito que devia ter para com os pais e irmãos, se quisesse tornar-se um membro tolerado e benquisto do círculo familiar e, posteriormente, de associações mais amplas. A criança é educada no sentido de conhecer os seus deveres sociais mediante um sistema de recompensas carinhosas e punições; é-lhe ensinado que sua segurança na vida depende de que seus pais (e, depois, de que outras pessoas) a amem e de que eles possam acreditar que a criança os ama. (Freud, 1996, p. 160)

  • Freud, S. (1996). Conferência XXXV: a questão de uma Weltanschauung. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 22, p. 155-177). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1933).

O parricídio de acordo com uma conceituação bem conhecida, é o crime principal e primevo da humanidade, assim como do indivíduo. (…) O relacionamento de um menino com o pai é, como dizemos, ‘ambivalente’. Além do ódio que procura livrar-se do pai como rival, uma certa medida de ternura por ele também está habitualmente presente. As duas atitudes mentais se combinam para produzir a identificação com o pai; o menino deseja estar no lugar do pai porque o admira e quer ser como ele, e também por desejar colocá-lo fora do caminho. Em determinado momento, a criança vem a compreender que a tentativa de afastar o pai como rival seria punida por ele com a castração. Assim, pelo temor à castração – isto é, no interesse de preservar sua masculinidade – abandona seu desejo de possuir a mãe e livrar-se do pai. Na medida em que esse desejo permanece no inconsciente, constitui a base do sentimento de culpa. (Freud, 1996, pp.188-189)

  • Freud, S. (1996). Dostoievski e o parricídio. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 21, pp. 183-198). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1928).

Não podemos afastar a suposição de que o sentimento de culpa do homem se origina do complexo edipiano e foi adquirido quando da morte do pai pelos irmãos reunidos em bando. (Freud, 1996, p. 134).

  • Freud, S. (1996). O mal-estar na civilização. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 21, pp. 73-148). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1930).

Matar o próprio pai ou abster-se de matá-lo não é, realmente, a coisas decisiva. Em ambos os casos, todos estão fadados a sentir culpa, porque o sentimento de culpa é expressão tanto do conflito devido à ambivalência, quanto da eterna luta entre Eros e o instinto de morte. (…) Enquanto a comunidade não assume outra forma que não seja a da família, o conflito está fadado a se expressar no complexo edipiano, a estabelecer a consciência e a criar o primeiro sentimento de culpa. (Freud, 1996, p. 135).

  • Freud, S. (1996). O mal-estar na civilização. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 21, pp. 73-148). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1930).

• Irmãos

Não é nada raro ambas as crianças adoecerem, mais tarde, vítimas de uma neurose de defesa -o irmão com obsessões e a irmã com histeria. Isto naturalmente produz a aparência de uma predisposição neurótica familiar. Ocasionalmente, contudo, essa pseudo-hereditariedade é resolvida de modo surpreendente. Em um de meus casos, um irmão, uma irmã e um primo um pouco mais velho estavam todos doentes. A partir da análise que realizei com o irmão, fiquei sabendo que ele sofria de autoacusações por ser a causa da doença da irmã. Ele próprio fora seduzido pelo primo, e este último, como era (…) (FREUD, 1974, p.190)

  • Freud, S. (1974) Novos comentários sobre as neuropsicoses de defesa. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira Das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol.III, p. 163-211. (Obra original publicada 1893-1899).

No tempo em que é dominada pelo complexo central ainda não reprimido, a criança dedica aos interesses sexuais notável parte da atividade intelectual. Começa a indagar de onde vêm as criancinhas, e com os dados a seu alcance adivinha das circunstâncias reais mais do que os adultos podem suspeitar. Comumente o que lhe desperta a curiosidade é a ameaça material do aparecimento de um novo irmãozinho, no qual a princípio só vê um competidor. Sob a influência dos impulsos parciais que nela agem, forma até numerosas `teorias sexuais infantis’. (Freud, 1974, p. 44) (Freud, 2006, p. 43).

  • Freud, S. (1974). Cinco lições de psicanálise. Quarta lição. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 38-45). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1910).
  • Freud, S. (2006). Cinco conferencias sobre psicoanálisis. IV. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 36-44). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1910).

Uma criança pequena não ama necessariamente seus irmãos e irmãs; muitas vezes, obviamente não os ama. Sem dúvida ela os odeia como rivais seus, e é fato sabido que esta atitude freqüentemente persiste por muitos anos, até ser atingida a maturidade ou mesmo até mais tarde, sem interrupção. Com efeito, muito amiúde esta atitude é substituída, ou melhor, digamos, é encoberta por outra, mais cordial. Mas, a que é hostil em geral parece ser a que surge primeiro. (…) Contudo, falando honestamente, se alguém encontrar, em sonho, um desejo de morte contra um seu irmão ou irmã, raramente há que considerá-lo um enigma e, sem dificuldades, pode situar seu protótipo no início da infância e, vezes mais seguidas, também nos anos subsequentes do companheirismo fraterno. Provavelmente não há quarto de crianças sem violentos conflitos entre seus ocupantes. Os motivos de tais desavenças são a rivalidade pelo amor dos pais, pelas posses comuns, pelo espaço vital. Os impulsos hostis são dirigidos contra membros da família mais velhos e também mais novos. Foi Bernard Shaw, segundo penso, quem comentou: ‘Via de regra, só existe uma pessoa que uma menina inglesa odeia mais do que a sua mãe; é a sua irmã mais velha’. (Freud, 1974, p. 245-6) (Freud, 2006, p. 187).

  • Freud, S. (1974). Conferência XIII Aspectos arcaicos e infantilismo dos sonhos. Sonhos. Conferências Introdutórias sobre psicanálise. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. XV, pp. 239-254). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1916).
  • Freud, S. (2006). 13a conferencia Rasgos arcaicos e infantilismo del sueño. El sueño. Conferencias de introducción al psicoanálisis. Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XV, pp. 182-194). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1916).

Uma criança não leva em consideração as distinções sociais, que para ela têm ainda pouco significado; e nivela as pessoas de classe inferior com os pais, se essas pessoas a amam como aqueles o fazem. Como também a intenção de rebaixar não é responsável pela substituição de animais pelos pais do menino, pois as crianças estão longe de assumir uma visão depreciativa dos animais. Tios e tias são usados como substitutos dos pais sem qualquer consideração da questão de rebaixamento, e isto foi, na verdade, realizado pelo nosso paciente, como o demonstraram muitas das suas recordações (Freud, 1996e, p.105).

  • Freud, S. (1996e). História de uma Neurose Infantil. In. J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.)Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 17, pp. 15-129). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1918)

Quando me procurou para o tratamento – de modo algum o motivo menos provável da sua atitude era o fato de que a mãe, uma fanática religiosa, tinha horror de psicanálise – , os ciúmes do irmão (que, de fato, se haviam manifestado, certa vez, num ataque homicida à criança no berço) estavam há muito esquecidos. Agora tratava o irmão com grande consideração; contudo, determinadas ações, curiosas e fortuitas, da sua parte (tais como súbitas e graves agressões contra os animais favoritos, como o cachorro ou os pássaros que criava cuidadosamente) provavelmente deveriam ser compreendidas como ecos desses impulsos hostis contra o irmão menor.

O paciente relatou então que, mais ou menos na época do ataque contra o bebê que tanto odiava, arremessara para a rua, pela janela da casa de campo, toda a louça que estava ao alcance da sua mão – exatamente a mesma coisa que Goethe narra da sua infância em DichtungundWahrheit! Posso adiantar que o paciente era estrangeiro e não estava familiarizado com a literatura alemã; jamais lera a autobiografia de Goethe (Freud, 1996f, pp. 161-162).

  • Freud, S. (1996f). Uma Recordação da Infância de DichtungUndWahrheit. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 17, pp. 159-170). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1917).

Depois de ouvir essa afirmação, joguei para o alto todas as dúvidas. Quando, na análise, duas coisas são trazidas uma imediatamente após a outra, como de um só fôlego, temos que interpretar essa proximidade como uma conexão de pensamento. Era, portanto, como se o paciente houvesse dito: ‘Porque descobri que ganhara um novo irmão, pouco depois arremessei aquelas coisas à rua. ‘ O ato de lançar as escovas, sapatos etc., pela janela, deve ser reconhecido como uma reação ao nascimento do irmão (Freud, 1996f, p. 165).

  • Freud, S. (1996f). Uma Recordação da Infância de DichtungUndWahrheit. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 17, pp. 159-170). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1917).

Uma jovem de dezenove anos contou-me espontaneamente que sua mais remota recordação era a seguinte: “Vejo a mim mesma, terrivelmente travessa, sentada debaixo da mesa da sala de jantar, pronta para rastejar. Minha xícara de café com leite está em cima da mesa – ainda posso ver muito bem o desenho da louça – e a vovó entra na sala justamente no momento em que me preparo para arremessar a xícara pela janela.

‘” O fato é que ninguém estava se preocupando comigo e, entretanto, formara-se uma película de nata sobre o café com leite, o que sempre me causava repulsa, e ainda causa.

‘” Naquele dia nasceu o meu irmão, que é dois anos e meio mais novo que eu, de modo que ninguém havia tido tempo para mim.

‘” Sempre me dizem que eu estava insuportável naquele dia: durante o jantar joguei ao chão o copo favorito do meu pai, sujei minha roupa diversas vezes e manifestei o pior dos humores, de manhã até à noite. Na minha fúria, fiz em pedaços a boneca com que brincava no banho. ” ‘

Esses dois casos mal necessitam de comentário. Estabelecem, sem qualquer outro esforço analítico, que a amargura que as crianças sentem quanto à expectativa ou aparecimento real de um rival, encontra expressão no ato de arremessar objetos pela janela e em outras ações de impertinência e destrutividade. No primeiro caso, os ‘objetos pesados’ provavelmente simbolizavam a própria mãe, contra quem a raiva da criança era dirigida, uma vez que o novo bebê ainda não havia surgido. O menino de três anos e meio sabia da gravidez da mãe, e não tinha dúvidas de que ela tinha o bebê no corpo. O ‘Little Hans’ e seu particular temor de carros com muita carga podem aqui ser lembrados. No segundo caso, é digna de nota a muito pouca idade da criança, dois anos e meio.

Se voltarmos agora à lembrança da infância de Goethe e colocarmos, no lugar que ela ocupa em DichtungundWahrheit, o que cremos haver obtido por meio da observação de outras crianças, emerge uma sequência de pensamento perfeitamente válida, que, de outra forma, não teríamos descoberto. Seria assim: ‘Eu era uma criança de sorte: o destino preservou a minha vida, embora tenha vindo ao mundo como morto. Além disso, o destino eliminou meu irmão, de modo que não tive que compartilhar com ele o amor de minha mãe. ‘ A sequência de pensamento [em DichtungundWahrheit] prossegue então para alguém que morreu naqueles dias remotos – a avó, que vivia, como um espírito tranquilo e amigável, em outra parte da casa.

Já observei, no entanto, em outro trabalho, que, se um homem foi o indiscutível predileto de sua mãe, ele conserva durante toda a vida o sentimento triunfante, a confiança no êxito, que não raro traz consigo o verdadeiro êxito. E Goethe poderia muito bem ter colocado, em sua autobiografia, um cabeçalho mais ou menos como este: ‘A minha força tem suas raízes na relação que tive com minha mãe. ‘(Freud, 1996f, pp. 166-167).

  • Freud, S. (1996f). Uma Recordação da Infância de DichtungUndWahrheit. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 17, pp. 159-170). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1917).

O laço da afeição, que via de regra liga a criança ao genitor do sexo oposto, sucumbe ao desapontamento, a uma vã expectativa de satisfação, ou ao ciúme pelo nascimento de um novo bebê, prova inequívoca da infidelidade do objetivo da afeição da criança. Sua própria tentativa de fazer um bebê, efetuada com trágica seriedade, fracassa vergonhosamente. A menor quantidade de afeição que recebe, as exigências crescentes da educação, palavras duras e um castigo ocasional mostram-lhe por fim toda a extensão do desdém que lhe concederam. Estes são alguns exemplos típicos e constantemente recorrentes das maneiras pelas quais o amor característico da idade infantil é levado a um término (Freud, 1996i, pp. 31-32).

  • Freud, S. (1996i). Além do Princípio do Prazer. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 18, pp. 17-78). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1920)

Naturalmente, não é fácil a tarefa de traçar a ontogênese do instinto gregário. O medo mostrado pelas crianças pequenas quando são deixadas sozinhas, e que Trotter alega constituir já uma manifestação do instinto, no entanto sugere mais facilmente uma outra interpretação. O medo relaciona-se à mãe da criança e, posteriormente, a outras pessoas familiares, sendo a expressão de um desejo irrealizado, que a criança ainda não sabe tratar de outra maneira, exceto transformando-o em ansiedade. O medo da criança, quando está sozinha, tampouco é apaziguado pela visão de qualquer fortuito ‘membro da grei’; pelo contrário, é criado pela aproximação de um ‘estranho’ desse tipo. Assim, durante longo tempo nada na natureza de um instinto gregário ou sentimento de grupo pode ser observado nas crianças. Algo semelhante a ele primeiro se desenvolve, num quarto de crianças com muitas crianças, fora das relações dos filhos com os pais, e assim sucede como uma reação à inveja inicial com que a criança mais velha recebe a mais nova. O filho mais velho certamente gostaria de ciumentamente pôr de lado seu sucessor, mantê-lo afastado dos pais e despojá-lo de todos os seus privilégios; mas, à vista de essa criança mais nova (como todas as que virão depois) ser amada pelos pais tanto quanto ele próprio, e em conseqüência da impossibilidade de manter sua atitude hostil sem prejudicar-se a si próprio, aquele é forçado a identificar-se com as outras crianças. Assim, no grupo de crianças desenvolve-se um sentimento comunal ou de grupo, que é ainda mais desenvolvido na escola. A primeira exigência feita por essa formação reativa é de justiça, de tratamento igual para todos. Todos sabemos do modo ruidoso e implacável como essa reivindicação é apresentada na escola. Se nós mesmos não podemos ser os favoritos, pelo menos ninguém mais o será. Essa transformação, ou seja, a substituição do ciúme por um sentimento grupal no quarto das crianças e na sala de aula, poderia ser considerada improvável, se mais tarde o mesmo processo não pudesse ser de novo observado em outras circunstâncias. Basta-nos pensar no grupo de mulheres e moças, todas elas apaixonadas de forma entusiasticamente sentimental, que se aglomeram em torno de um cantor ou pianista após a sua apresentação. Certamente seria fácil para cada uma delas ter ciúmes das outras; porém, diante de seu número e da conseqüente impossibilidade de alcançarem o objetivo de seu amor, renunciam a ele e, em vez de uma puxar os cabelos da outra, atuam como um grupo unido, prestam homenagem ao herói da ocasião com suas ações comuns e provavelmente ficariam contentes em ficar com um pedaço das esvoaçantes madeixas dele. Originariamente rivais, conseguiram identificar-se umas com as outras por meio de um amor semelhante pelo mesmo objeto. Quando, como de hábito, uma situação instintual é capaz de resultados diversos, não nos surpreenderá que o resultado real seja algum que traga consigo a possibilidade de uma certa quantidade de satisfação, ao passo que um outro resultado, mais óbvio em si, seja desprezado, já que as circunstâncias da vida impedem que ele conduza àquela satisfação (Freud, 1996j, pp. 129-130).

  • Freud, S. (1996j). Psicologia de Grupo e a Análise do Ego. In. J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 18, pp. 81-156). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1921).

A observação dirigiu minha atenção para diversos casos em que, durante a primeira infância, impulsos de ciúmes, derivados do complexo materno e de grande intensidade, surgiram [num menino] contra os rivais, geralmente irmãos mais velhos. Esse ciúme provocou uma atitude excessivamente hostil e agressiva para com esses irmãos, que poderia às vezes atingir a intensidade de desejos reais de morte, incapazes então de manter-se face ao desenvolvimento ulterior do sujeito. Sob as influências da criação – e certamente sem deixar de ser influenciados também por sua própria e continuada impotência – esses impulsos renderam-se à repressão e experimentaram uma transformação, de maneira que os rivais do período anterior se tornaram os primeiros objetos amorosos homossexuais. Tal resultado da ligação à mãe mostra-nos diversas relações e interessantes com outros processos que nos são conhecidos. (Freud, 1996l, p. 246).

  • Freud, S. (1996l). Alguns Mecanismos Neuróticos no Ciúme, na Paranoia e no Homossexualismo. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 18, pp. 237-250). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1922)

No decurso dessas pesquisas a criança chega à descoberta de que o pênis não é uma possessão, comum a todas a criaturas que a ela se assemelham. Uma visão acidental dos órgãos genitais de uma irmãzinha ou companheira de brinquedo proporciona a ocasião para essa descoberta. Em crianças inusitadamente inteligentes, a observação de meninas urinando terá despertado, mais cedo ainda, a suspeita de que existe aqui algo diferente, e terão efetuado tentativas de repetir suas observações, de modo a conseguir esclarecimentos. Sabemos como as crianças reagem às suas primeiras impressões da ausência de um pênis. Rejeitam o fato e acreditam que elas realmente, ainda assim, vêem um pênis. Encobrem a contradição entre a observação e a preconcepção dizendo-se que o pênis ainda é pequeno e ficará maior dentro em pouco, e depois lentamente chegam à conclusão emocionalmente significativa de que, afinal de contas, o pênis pelo menos estivera lá, antes, e fora retirado depois. A falta de um pênis é vista como resultado da castração e, agora, a criança se defronta com a tarefa de chegar a um acordo com a castração em relação a si própria. Os desenvolvimentos ulteriores são geralmente conhecidos demais para que se torne necessário recapitulá-los aqui. Parece-me, porém, que o significado do complexo de castração só pode ser corretamente apreciado se sua origem na fase da primazia fálica for também levada em consideração (Freud, 1996o, pp. 159-160).

  • Freud, S. (1996o). A Organização Genital Infantil: Uma Interpolação na Teoria da Sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp. 157-164). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1923)

Deve-se supor que, após o parricídio, um tempo considerável se passou, durante o qual os irmãos disputaram uns com os outros a herança do pai, que cada um deles queria para si sozinho. Uma compreensão dos perigos e da inutilidade dessas lutas, uma rememoração do ato de liberação que haviam realizado juntos, e os vínculos emocionais mútuos que haviam surgido durante o período de sua expulsão, conduziram por fim a um acordo entre eles, a uma espécie de contrato social. A primeira forma de organização social ocorreu com uma renúncia ao instinto1, um reconhecimento das obrigações mútuas, a introdução de instituições definidas, pronunciadas invioláveis (sagradas), o que equivale a dizer, os primórdios da moralidade e da justiça. (Freud, 1996, p. 96).

  • Freud, S. (1996). Moisés, seu povo e a religião monoteísta. Parte I, nota preambular II. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 23, pp. 67-150). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1938).

• Novela Familiar

Há não muito tempos sonhei que tinha sentimentos super carinhosos com Mathilde, só que ela se chamava Hella(…) Hella é o nome de uma sobrinha americana cujo retrato nos foi enviado…. Mathilde e poderia se chamar Ella, porque ultimamente lamentou muito as derrotas dos gregos(…)meu sonho mostra, naturalmente, a realização do meu desejo de encontrar um pai que seja causador da neurose e deste modo, por fim às minhas dúvidas acerca deste assunto que ainda persistem. (FREUD, 1974, p.343)

  • Freud, S. (1974) Extratos de documentos dirigidos a Fliess. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. I, p. 243-394. (Obra original publicada1886-99).

• Puberdade (Adolescência)

A tendência à defesa, porém, torna-se prejudicial, se ela é dirigida contra ideias também capazes de, sob forma de lembranças, liberar um desprazer novo- como é o caso das ideias sexuais. Nisto, realmente, é que se concretiza uma possibilidade de uma lembrança ter, posteriormente, uma capacidade de liberação maior que a produzida pela experiência correspondente. Somente uma coisa é necessária para isto: que a puberdade se interponha entre a experiência e a sua repetição na lembrança-evento que tanto aumenta o efeito da revivescência. FREUD, 1974, p.301.

  • Freud, S. (1974) Extratos de documentos dirigidos a FliessIn Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. I, p. 243-394 (Obra original publicada 1886).

Esse irmão da paciente, tendo começado sua vida com boa constituição, na puberdade defronta-se com as dificuldades sexuais próprias da idade; seguem-se anos de sobrecarga de trabalho, como estudante; prepara-se para os exames; e sofre um ataque de gonorreia, seguido de um súbito início de dispepsia, acompanhada de uma constipação rebelde e inexplicável. Depois de alguns meses a constipação é substituída por sensação de pressão intercraniana, depressão e incapacidade para o trabalho. Daí em diante o paciente torna-se cada vez mais ensimesmado, seu caráter vai sofrendo limitações progressivas, até ele se tornar um tormento para a família. (FREUD, 1974 p.172)

  • Freud, S. (1974). Um caso de cura pelo hipnotismo. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund FreudRio de Janeiro: Imago Editora, vol. I. p. 168-185. (Obra original publicada 1886-99).

Verificamos com tanta frequência, adolescentes que, anteriormente tinham sido sadios, embora excitáveis, adoecerem de histeria na puberdade, que devemos perguntar a nós mesmos se aquele processo não pode criar disposição à histeria onde ela não se encontrava de maneira inata (…) O amadurecimento sexual gira em torno do sistema nervoso, aumentando a excitabilidade reduzindo as resistências por toda a parte. Aprendemos isso pela observação de adolescentes que não são histéricos e temos justificativa para crer que o amadurecimento sexual também estabelece a disposição histérica, desde que consiste precisamente nesta característica do sistema nervoso (…) (FREUD, p.301)

  • Freud, S. (1974) Considerações Teóricas. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.)Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund FreudRio de Janeiro: Imago Editora, vol. II, p. 237-308. (Obra original publicada 1893-1895).

É verdade que estas experiências, descobertas com tanta dificuldade e extraídas de todo o material mnêmico, tem em comum as duas características de serem sexuais e ocorrerem na puberdade; mas em todos os outros aspectos elas diferem muitíssimo, tanto em espécie como em importância. Em alguns casos, sem dúvida, referimo-nos a experiências que devem ser consideradas traumas graves -uma tentativa de defloramento que, talvez de um só golpe, revele a uma menina imatura toda a brutalidade do desejo sexual, ou o testemunho involuntário de atos entre seus pais, que a um só e mesmo tempo mostre insuspeitada fealdade e fira do mesmo modo a sensibilidade moral infantil, e assim por diante. (FREUD, 1974.p.227).

  • Freud, S. (1974). Novos comentários sobre as neuropsicoses de defesa In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) Edição Standard Brasileira Das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol.III, p. 163-211. (Obra original publicada 1893-1899).

Em sete dos treze casos o intercurso se crianças de ambos os lados- relações sexuais entre uma garotinha e seu irmão, um pouco mais velho, que fora por sua vez vítima da sedução anterior. Essas relações algumas vezes perduraram durante anos, até que os pequenos culpados atingissem a puberdade…

Em uns poucos casos houve uma combinação de um assalto com relações entre crianças, ou a repetição de um abuso brutal. FREUD, 1974, p. 175

  • Freud, S. (194) Hereditariedade e Etiologia das Neuroses. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira Das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol.III, pp. 163-211. (Obra original publicada 1893-1899).

(…) e a interpretação do sonho nos levou de volta, imediatamente, à época de seu desenvolvimento físico na puberdade, quando ela começara a ficar insatisfeita com seu corpo. Dificilmente podemos duvidar de que tenha reconduzido a tempos ainda mais remotos, se levarmos em conta o termo ” repulsivo ” e o ” barulho horroroso “, e se nos lembrarmos de quantas vezes – tanto nos doubles entendres como nos sonhos – os hemisférios menores do corpo da mulher são usados, quer como contrastes. (FREUD, 1974, p.197)

  • Freud, S. (1974) Material Recente e Indiferente Nos Sonhos. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol.III, p. .175-233. (Obra original publicada 1893-1899).

Há realmente bem pouca dificuldade de inferir (…):(1) que o rapaz se havia masturbado quando era mais moço, que provavelmente o havia negado e que fora ameaçado com severos castigos por mau hábito(cf sua admissão : Je ne farais plus e sua negativa: Albert n’a jamais fait ça); (2) que com o desenrolar da puberdade, a tentação a masturbar-se havia revivido com as cócegas em seus órgão genitais, mas (3) que uma luta pela repressão havia interrompido nele a qual havia suprimido sua libido e transformado em ansiedade e que estava tomado o lugar dos castigos com que fora anteriormente ameaçado.(FREUD, 1974.p.624)

  • Freud, S. (1974) O Despertar Causado Por Sonhos- A Função Dos Sonhos-Sonhos de Angústia. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard das Obras Completas de Sigmund FreudRio de Janeiro: Imago Editora, vol. V, p. 611-660. (Obra original publicada 1900-1901).

De um lado, afirma que as crianças são “capazes de todas as funções sexuais psíquicas e de muitas das somáticas” e que é errôneo supor que sua vida sexual só começa apenas na puberdade. Mas, de outro lado, declara que ‘a organização e a evolução da espécie humana buscam evitar qualquer atividade sexual considerável na infância, que as forças propulsoras sexuais dos seres humanos deveriam ser armazenadas e liberadas só na puberdade’, e que isso explica por que as experiências sexuais na infância têm de ser patogênicas. (FREUD, 1972.p.126-127)

  • Freud, S. (1972) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. . In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.)Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol VII, p. 123-250, (obra original publicada 1905).

(…). Ela [pulsão sexual] estaria ausente na infância, far-se-ia sentir na época em conexão com o processo de maturação da puberdade, seria exteriorizada nas manifestações de atração irresistível que um sexo exerce sobre o outro, e seu objetivo seria a união sexual, ou pelo menos os atos que levassem nessa direção. Mas (…) constata-se que estão repletos de erros, imprecisões e conclusões apressadas. (FREUD, 1972.p.135)

  • Freud, S. (1972). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol VII, p. 123-250, (obra original publicada 1905).

A maioria dos psiconeuróticos só adoecem após a puberdade como resultado das exigências a eles feitas pela vida sexual normal. (…). Ou então a doença se instaura mais tardiamente, quando a libido fica privada de satisfação pelas vias normais. (FREUD, 1972.p.173)

  • Freud, S. (1972) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora. vol VII, p. 123-250,(obra original publicada 1905).

Uma característica da ideia popular sobre o instinto sexual é que ele está ausente na infância e só desperta no período da vida descrito como puberdade. Isto, contudo, não é puramente um erro simples, mas um erro que tem tido graves consequências, pois é o principal culpado de nossa ignorância de hoje sobre as condições básicas da vida sexual. (FREUD, 1972.p.177)

  • Freud, S. (1972) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol VII, p. 123-250, (obra original publicada 1905).

De tempos em tempos, uma manifestação fragmentária de sexualidade que escapou à sublimação pode libertar-se; ou alguma atividade sexual pode persistir por toda a duração do período de latência até que o instinto sexual surja com maior intensidade na puberdade. (FREUD, 1972.p.183).

  • Freud, S. (1972) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. . In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.)Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol VII, p. 123-250, (obra original publicada 1905).

A masturbação da primeira infância parece desaparecer após um curto tempo; mas pode persistir interruptamente até a puberdade (…). Mas todos os seus detalhes deixam as impressões mais profundas (inconscientes) na memória do paciente, determinam o desenvolvimento de seu caráter no caso de que ele se mantenha sadio, e a sintomatologia de sua neurose, no caso de que ele adoeça após a puberdade. (FREUD, 1972.p.194).

  • Freud, S. (1972) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editor, vol VII, p. 123-250, (obra original publicada 1905).

(…) devemos também supor que a escolha de um objeto, tal como a que mostramos ser característica da fase puberal do desenvolvimento, já foi frequentemente ou habitualmente feita durante os anos da infância (…). A única diferença está no fato de que na infância a combinação dos instintos parciais e sua subordinação sob o primado dos genitais só foram efetuados muito incompletamente ou não o foram de forma alguma. Assim, o estabelecimento desse primado a serviço da reprodução é a última fase através da qual passa a organização da sexualidade (FREUD, 1972.p.205).

  • Freud, S. (1972). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol VII, p. 123-250, (obra original publicada 1905).

Com a chegada da puberdade operam-se mudanças que levam a vida sexual infantil a sua configuração normal definitiva. Até esse momento, a pulsão sexual era predominantemente auto-erótica; agora, encontra o objeto sexual. (…) porém, surge um novo alvo sexual para cuja consecução todas as pulsões parciais se conjugam, enquanto as zonas erógenas subordinam-se ao primado da zona genital. (FREUD, 1972.p.213).

  • Freud, S. (1972). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol VII p. 123-250, (obra original publicada 1905).

O mais definido dos processos da puberdade foi escolhido como aquele que constitui sua essência: o crescimento manifesto dos órgãos genitais externos (…). Entrementes, o desenvolvimento dos órgãos genitais internos avançou bastante para que eles possam descarregar produtos sexuais ou, conforme o caso, provocar a formação de um novo organismo vivo. (FREUD, 1972.p.214).

  • Freud, S. (1972) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol VII, p. 123-250, (obra original publicada 1905).

(…) segunda metade da infância (dos oito anos até a puberdade). Durante esses anos, as zonas genitais (…) convertem-se na sede de sensações de excitação e alterações preparatórias sempre que se sente algum prazer pela satisfação de outras zonas erógenas, embora esse efeito continue desprovido de finalidade, ou seja, não contribua em nada para o prosseguimento do processo sexual. (FREUD, 1972.p.218).

  • Freud, S. (1972) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol VII, p. 123-250, (obra original publicada 1905).

(…) não é senão na puberdade se estabelece a distinção nítida entre os caracteres masculinos e femininos (…). A atividade auto-erótica das zonas erógenas é, contudo, a mesma em ambos os sexos, e devido a esta uniformidade, não há possibilidade de distinção entre os dois sexos como a que ocorre após a puberdade. (FREUD, 1972.p.225).

  • Freud S. (1972). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol VII, p. 123-250, (obra original publicada 1905).

Quando se quer compreender a transformação da menina em mulher, é preciso acompanhar as vicissitudes posteriores dessa excitabilidade do clitóris (…). A puberdade (…) é marcada nas moças por uma onda nova de repressão em que é afetada precisamente a sexualidade clitoridiana (…) Quando finalmente o ato sexual é permitido e o próprio clitóris fica excitado, ele ainda retém essa função, ou seja, a tarefa de transmitir a excitação às partes sexuais femininas adjacentes (…). (FREUD, 1972.p.227).

  • Freud, S. (1972). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol VII, p. 123-250, (obra original publicada 1905).

(…) a afeição dos pais pelo filho pode despertar prematuramente seu instinto sexual (…) a tal ponto que a excitação mental rompe caminho de maneira inequívoca até o aparelho genital. (…) se forem bastante felizes em evitar isto, a sua afeição pode então cumprir a tarefa de orientar o filho em sua escolha de um objeto sexual quando ele atingir a maturidade. (FREUD, 1972.p.231-232)

  • Freud S. (1972) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol VII, p. 123-250, (obra original publicada 1905).

(…) uma das mais significativas e, também uma das mais dolorosas realizações psíquicas do período puberal: o desligamento da autoridade dos pais, (…) um certo número é retido; portanto, há alguns que nunca suplantam a autoridade dos pais e retiram sua afeição deles incompletamente ou não a retiram, de forma alguma. São na maioria moças que, para deleite se deus pais, persistiram em seu amor infantil (…) estas moças que, (…) tornam-se esposas frias e permanecem sexualmente anestésicas. (FREUD, 1972.p.234)

  • Freud, S. (1972Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol VII, p. 123-250, (obra original publicada 1905).

(…) examinar as alterações provocadas pela chegada da puberdade. Selecionamos duas delas como sendo as decisivas: a subordinação de todas as outras fontes de excitação sexual à primazia das zonas genitais e o processo de escolha de um objeto. (…) A primeira é realizada pelo mecanismo de exploração do pré-prazer: o que eram antes atos sexuais autônomos, seguidos de prazer e excitação, tornam-se atos preparatórios para o objetivo sexual (a descarga dos produtos sexuais) (…) verificamos que, para se transformar em mulher, é necessário mais um estágio de repressão, que elimina uma parte da masculinidade infantil e prepara a mulher para a alteração de sua zona genital principal. No tocante à escolha de objeto, verificamos que ela recebe sua direção das sugestões da infância (revividas na puberdade) da inclinação sexual da criança com relação aos pais e a outros que dela cuidam, mas que é desviada deles para outras pessoas que a eles se assemelhem, devido à barreira contra o incesto (…). (FREUD, 1972.p.241-242).

  • Freud, S. (1972) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol VII, p. 123-250, (obra original publicada 1905).

Durante o período de vida que vai do final do quinto ano às primeiras manifestações da puberdade (por volta dos onze anos) e que pode ser chamado de período de ‘latência sexual’, criam-se na mente formações reativas, ou contra forças, como a vergonha, a repugnância e a moralidade. Na verdade, surgem às expensas das excitações provenientes das zonas erógenas e erguem-se como diques para opor-se às atividades posteriores dos instintos sexuais. (FREUD, 1972.p.177)

  • Freud, S. (1976) Caráter e erotismo anal. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol IX, p. 173-181, (obra original publicada 1908).

A anatomia reconheceu no clitóris (…) um órgão homólogo ao pênis, (…) torna-se a sede de excitações que fazem com que ele seja tocado, e a sua excitabilidade confere à atividade sexual da menina um caráter masculino, sendo necessária uma vaga de repressão nos anos da puberdade para que desapareça essa sexualidade masculina e surja a mulher. Como a função sexual de muitas mulheres apresenta-se reduzida, seja por seu obstinado apego a essa excitabilidade do clitóris, de modo a permanecerem anestesiadas durante o coito, seja por uma repressão tão excessiva que seu funcionamento é em parte substituído por formações compensatórias histéricas – tudo isso parece mostrar que existe uma dose de verdade na teoria sexual infantil de que as mulheres possuem, como os homens, um pênis. (FREUD, 1972.p.220-221)

  • Freud, S. (1976). Sobre as teorias sexuais das crianças. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. VII, p. 123-250, (obra original publicada 1908).

Durante o período de vida que vai do final do quinto ano às primeiras manifestações da puberdade (por volta dos onze anos) e que pode ser chamado de período de ‘latência sexual’, criam-se na mente formações reativas, ou contra forças, como a vergonha, a repugnância e a moralidade. Na verdade, surgem às expensas das excitações provenientes das zonas erógenas e erguem-se como diques para opor-se às atividades posteriores dos instintos sexuais. (FREUD, 1972.p.177)

  • Freud, S. (1976) Caráter e erotismo anal. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol IX, p. 173-181, (obra original publicada 1908).

A explicação é a seguinte: no exato período em que a jovem experimentava a revivescência de seu complexo de Édipo infantil, na puberdade, sofreu seu grande desapontamento. Tornou-se profundamente cônscia do desejo de possuir um filho, um filho homem; seu desejo de ter o filho de seu pai e uma imagem dele, na consciência ela não podia conhecer. Que sucedeu depois? Não foi ela quem teve o filho, mas sua rival inconscientemente odiada, a mãe. Furiosamente ressentida e amargurada, afastou-se completamente do pai e dos homens. Passado esse primeiro grande revés, abjurou de sua feminidade e procurou outro objetivo para sua libido (Freud, 1996k, p. 169).

  • Freud, S. (1996k). A Psicogênese de um Caso de Homossexualismo numa Mulher. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 18, pp. 159-186). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1920)

• Segredos de Família

Quando as primeiras dificuldades do tratamento tinham sido superadas, Dora contou-me um episódio anterior com o Herr. K., mais bem talhado ainda para operar como um trauma sexual. Ela tinha então quatorze anos. Herr K. combinara com ela e com sua mulher encontrarem-se uma tarde em seu local de trabalho (…) para assistirem a um festival religioso. Ele, contudo, persuadiu a esposa a ficar em casa, e mandou seus empregados embora, encontrando-se assim sozinho quando a moça chegou. Aproximando-se a hora da procissão, pediu ele à moça que esperasse por ele na porta que dava para a escada que levava ao andar superior, enquanto ele abaixava as portas corrediças externas. Em seguida voltou e, ao invés de sair pela porta aberta, agarrou subitamente a moça e beijou-as nos lábios. (…) Dora teve naquele momento uma violenta sensação de repugnância, livrou-se do homem e passou por ele correndo para a escada, daí alcançando a porta da rua. Ela, todavia, continuou a encontrar-se com Herr K.. nenhum deles , contudo, jamais mencionou a pequena cena; e segundo seu relato Dora a manteve em segredo até a confissão durante o tratamento. (FREUD, 1972.p.25-26).

  • Freud, S. (1972) Fragmento da análise de um caso de histeria. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. VII, p. 25-26, (obra original publicada 1905).

Dora tivera um grande número de acessos de tosse acompanhados de perda de voz. Será que a presença ou ausência do homem que ela amava tivera influencia sobre o aparecimento e desaparecimento dos sintomas de sua doença? (…). Sua doença era, portanto uma demonstração de seu amor por K. assim como, para a esposa dele, era uma demonstração de repúdio.(…) Mais tarde, sem dúvida, tornou-se necessário obscurecer a coincidência entre seus acessos de doença e a ausência do homem que ela secretamente amava, para que sua regularidade não traísse seu segredo. A duração dos acessos permaneceria, então, como um traço de seu significado original. (FREUD, 1972.p.37)

  • Freud, S. (1972). Fragmento da análise de um caso de histeria. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. VII, p. 1-119, (obra original publicada 1905).

Ela também costumava repisar com notável frequência e peculiar ênfase a história de uma outra desavença que pareceu inexplicável até mesmo para ela. Sempre se dera particularmente bem com a mais jovem de suas primas (…) e partilhara toda espécie de segredo com ela. (FREUD, 1972.p.58).

  • Freud, S. (1972) Fragmento da análise de um caso de histeria. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. VII, p. 1-119, (obra original publicada 1905).

À minha entrada na sala, onde me aguardava, ela escondeu apressadamente uma carta que estivera lendo. Indaguei com naturalidade quem a enviara, mas a princípio recusou-se a responder. (…) Tratava-se de uma carta de sua avó, na qual pedia a Dora que lhe escrevesse mais amiúde. Acredito que Dora quisesse apenas brincar de “fazer segredo” comigo e insinuar que estava a ponto de permitir que segredo lhe fosse arrancado pelo médico. (…).

As acusações ao pai por havê-la tornado doente e a auto reprovação que as ocultava, a leucorréia, o brincar com a bolsinha, o urinar na cama após seis anos, o segredo que ela não permitia ser-lhe arrancado pelos médicos (…). (FREUD, 1972.p.75)

  • Freud, S. (1972) Fragmento da análise de um caso de histeria. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. VII, p. 1-119, (obra original publicada 1905).

Vi-me obrigado a falar em transferência, pois somente através deste fator posso elucidar as peculiaridades da análise de Dora. (…) A princípio era evidente que eu substituía seu pai em sua imaginação, (…). Ela me comparava constantemente a ele, de modo consciente, e estava sempre tentando ansiosamente assegurar-se de minha sinceridade para com ela, já que seu pai “sempre guardava segredos e fazia rodeios. (FREUD, 1972.p.115)

  • Freud, S. (1972) Fragmento da análise de um caso de histeria. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. VII, p. 1-119, (obra original publicada 1905).

(…) encontrei na correspondência familiar do grande pensador e filantropo Multatuli. Algumas linhas que constituem uma resposta mais do que adequada:

‘A meu ver, certas coisas são, em geral, exageradamente encobertas. É justo conservar pura a imaginação de uma criança, mas não é a ignorância que irá preservar essa pureza. Ao contrário, acho que a ocultação conduz o menino ou menina a suspeitar mais do que nunca da verdade. (…) O convívio com outras crianças, as leituras que induzem à reflexão e o mistério com que os pais cercam fatos que terminam por vir à tona, tudo isso na verdade intensifica o desejo de conhecimento. Esse desejo, satisfeito apenas parcialmente e em segredo, excita seu sentimento e corrompe sua imaginação, de forma que a criança já peca enquanto os pais ainda acreditam que ela desconhece o pecado. (FREUD, 1972.p.138)

  • Freud, S. (1974). O esclarecimento sexual das crianças (carta aberta ao Dr. M. Fürst). In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. IX, p. 135-144, obra original publicada (1907).

Não me parece haver uma única razão de peso para negar às crianças o esclarecimento que sua sede de saber exige. Certamente se a intenção dos educadores é sufocar a capacidade da criança de pensamento independente, em favor de uma pretensa ‘bondade’ que tanto valorizam, não poderiam escolher melhor caminho do que ludibriá-la em questões sexuais e intimidá-la pela religião. As naturezas mais fortes, é verdade, resistirão a tais influências e se tornarão rebeldes contra a autoridade dos pais e, mais tarde, contra qualquer outra autoridade. Se as dúvidas que as crianças levam aos mais velhos não são satisfeitas, elas continuam a atormentá-las em segredo, levando-as a procurar soluções nas quais a verdade adivinhada mescla-se da forma mais extravagante a grotescas falsidades, e a trocar entre si informações furtivas em que o sexo é apresentado como uma coisa horrível e nauseante, em consequência do sentimento de culpa dos jovens curiosos. (FREUD, 1972.p.126-127).

  • Freud, S. (1974) O esclarecimento sexual das crianças (carta aberta ao Dr. M. Fürst). In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.) .Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. IX, p. 135-144, (obra original publicada 1907).

A investigação leva-nos, então, de volta a uma época na vida do menino em que ele adquire conhecimento mais ou menos completo das relações sexuais entre os adultos, aproximadamente em torno dos anos da pré-puberdade. Partes brutais de informação que são indiscriminadamente destinadas a suscitar desprezo e rebeldia, agora, lhe comunicam o segredo da vida sexual e destroem a autoridade dos adultos, que parece incompatível com a revelação de suas atividades sexuais. O aspecto dessas descobertas, que afetam mais profundamente a criança recém-instruída, é a maneira em que são aplicadas a seus próprios pais. Essa aplicação é, muitas vezes, francamente rejeitada por ela, mais ou menos nestas palavras: `Seus pais e outras pessoas podem fazer coisas como esta entre si, mas meus pais, possivelmente, não podem fazê-las.’ (Freud, 1974, p. 154) (Freud, 2006, p. 164)

  • Freud, S. (1974). Um tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens (contribuiçõles à psicologia do amor I). In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 147-157). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Obra original publicada 1910).
  • Freud, S. (2006). Sobre un tipo particular de elección de objeto en el hombre (Contribuiciones a la psicologia del amor, I). Obras completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 155-168). Buenos Aires: Amorrortu editores. (Obra original publicada 1910).

O interesse sexual das crianças começa, certamente, quando elas se voltam para o problema de saberem de onde é que vêm os bebês – o mesmo problema subjacente à pergunta feita pela esfinge de Tebas – e na maior parte dos casos este problema surge por causa dos temores egoístas da chegada de um novo bebê. A resposta, que já está pronta e diz que os bebês são trazidos pela cegonha, esbarra na descrença até mesmo de crianças pequenas, numa freqüência muito maior do que percebemos. O sentimento de que a verdade está sendo falseada pelos adultos contribui em muito para fazer com que as crianças se sintam sós e desenvolvam sua independência. Uma criança não tem, contudo, condições de solucionar este problema por seus próprios meios. Sua constituição sexual não desenvolvida estabelece limites precisos à sua capacidade de percepção. Começa por supor que os bebês vêm de pessoas que ingerem algo de especial no alimento, e não sabe que apenas as mulheres podem ter bebês. Depois percebe esta limitação e deixa de considerar o comer como sendo a origem dos bebês – embora tal teoria persista em contos de fadas. Com o aumento de sua idade, a criança logo percebe que seu pai deve ter algum papel nessa história de ter bebês, mas não consegue adivinhar qual. Se ocorre a criança presenciar um ato sexual, encara-o como tentativa de subjugação, como luta, e isto constitui a compreensão deformada, em termos sádicos, do coito. Entretanto, no início, não correlaciona este ato com o surgimento de um bebê. Assim, também, se a criança encontra vestígios de sangue na cama da mãe, ou nas roupas íntimas desta, toma isto como sinal de que ela foi ferida por seu pai. Ainda mais tarde, na infância, a criança sem dúvida suspeita que o órgão sexual do homem tem uma parte essencial na produção de bebês, mas a única função que consegue atribuir a esse órgão do corpo é a micção (Freud, 1996b, p. 323).

  • Freud, S. (1996b). Conferência XX: A Vida Sexual dos Seres Humanos. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 16, pp. 309-324). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1917).

Acredito que essas fantasias primitivas, como prefiro denominá-las, e, sem dúvida, também algumas outras, constituem um acervo filogenético. Nelas, o indivíduo se contacta, além de sua própria experiência, com a experiência primeva naqueles pontos nos quais sua própria experiência foi demasiado rudimentar. Parece-me bem possível que todas as coisas que nos são relatadas hoje em dia, na análise, como fantasia – sedução de crianças, surgimento da excitação sexual por observar o coito dos pais, ameaça de castração (ou, então, a própria castração) – foram, em determinada época, ocorrências reais dos tempos primitivos da família humana, e que as crianças, em suas fantasias, simplesmente preenchem os claros da verdade individual com a verdade pré-histórica (Freud, 1996d, p. 373).

  • Freud, S. (1996d). Conferência XXIII: Os Caminhos da Formação dos Sintomas. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.).. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 16, pp. 361-378). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1917).

Não sei com que frequência os pais e educadores, defrontando-se com mau comportamento inexplicável por parte de uma criança, possam não ter ocasião de conservar na lembrança esse típico estado de coisas. Uma criança que se comporta de forma indócil está fazendo uma confissão e tentando provocar um castigo. Espera por uma surra como um meio de simultaneamente pacificar seu sentimento de culpa e de satisfazer sua tendência sexual masoquista (Freud, 1996e, p.39).

  • Freud, S. (1996e). História de uma Neurose Infantil. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.)..Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 17, pp. 15-129). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1918).

Essas cenas de observação das relações sexuais entre os pais, de ser seduzido na infância e de ser ameaçado com a castração são inquestionavelmente, um dote herdado, uma herança filogenética, mas podem também facilmente ser adquiridas pela experiência pessoal. Com meu paciente, a sedução pela irmã mais velha foi uma realidade indiscutível; por que não deveria também ser verdadeira a sua observação da cópula dos pais? (Freud, 1996e, p.104).

  • Freud, S. (1996e). História de uma Neurose Infantil. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 17, pp. 15-129). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1918)

• Violência familiar (traição)

O segundo grupo consiste em casos muito mais numerosos, nos quais algum adulto que toma conta da criança- uma babá, uma governanta, um tutor, ou infelizmente, com frequência grande demais, um parente próximo -inicia a criança no intercurso sexual e mantém uma relação amorosa com ela- uma relação amorosa que tem, além deu lado mental desenvolvido- que frequentemente dura anos. (FREUD, 1974.p.235).

  • Freud, S. (1974) A Etiologia da Histeria. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira Das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol.III, p. 215-249 (Obra original publicada 1893-1899).

A terceira das teorias sexuais típicas surge nas crianças quando, por qualquer circunstância doméstica, elas testemunham acidentalmente uma relação sexual entre os pais. (…) a criança chega sempre à mesma conclusão, adotando o que se poderia chamar de uma concepção sádica do coito. Ela o encara como um ato imposto violentamente pelo participante mais forte ao mais fraco. (…). Não consegui certificar-me se a criança vê, neste comportamento que testemunhou entre seus pais, o elo que lhe faltava para solucionar o problema dos bebês. É bem provável que não percebam essa conexão pela simples razão de que interpretam o ato de amor como sendo um ato de violência. (FREUD, 1976.p.223).

  • Freud, S. (1976). Sobre as teorias sexuais das crianças. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. IX, p. 213- 228, (obra original publicada 1908).

(…). Em muitos casamentos a esposa de fato resiste ao abraço do marido, que não lhe causa prazer, mas sim o risco de uma nova gravidez. E assim a criança que julgam adormecida (ou que se finge adormecida) pode ficar com a impressão de que sua mãe se defendia de um ato de violência. Outras vezes o casamento oferece à observadora criança o espetáculo de brigas contínuas, expressas em palavras duras e gestos inamistosos. (…)

Em acréscimo, se a criança descobre manchas de sangue na cama da mãe ou em suas roupas íntimas, considera-se como uma confirmação de suas concepções. Para ela são provas de que o pai tornou a agredir a mãe à noite (…). Grande parte do ‘horror ao sangue’ dos neuróticos só é explicável através dessa conexão. (FREUD, 1976.p.224)

  • Freud, S. (1976). Sobre as teorias sexuais das crianças. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. IX, p. 213- 228, (obra original publicada 1908).

Mas Hans não era, de modo algum, um mau caráter; não era nem dessas crianças que, na sua idade, ainda dão livre curso para a propensão à crueldade e à violência, o que é um constituinte da natureza humana. Ao contrário, ele tinha uma disposição incomumente humana e afetuosa; seu pai relatou que a transformação das tendências agressivas em sentimentos de piedade ocorreram muito cedo nele. (FREUD, 1976.p.119)

  • Freud, S. (1976) Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. X, p. 13-158, (obra original publicada 1909).

Seu pai, porém, não só sabia de onde vinham as crianças, mas de fato as fez – coisa que Hans só podia adivinhar obscuramente. O pipi tem que ter algo a ver com isso, pois o seu próprio ficou excitado toda vez que ele pensou nessas coisas – e tem que ser um pipi grande também, maior que o de Hans. Se ele atendia a essas sensações premonitórias, só podia supor que era uma questão de algum ato de violência executado em sua mãe, de quebrar alguma coisa, de fazer uma abertura em alguma coisa, de forçar um caminho num espaço fechado – tais eram os impulsos que ele sentiu agitando-se dentro dele. (FREUD, 1976.p.140)

  • Freud, S. (1976) Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. X, p. 13-158, (obra original publicada 1909).

Segundo todas as informações dadas, o pai de nosso paciente era um homem de excelentes qualidades. (…). O fato de que ele pudesse ser uma pessoa impetuosa e violenta certamente não estava em desacordo com outras qualidades suas; (…) ocasionalmente, castigava severamente os filhos, quando estes eram novos e travessos. Quando ficaram crescidos, porém, (…) não procurar enaltecer-se com uma sacrossanta autoridade, (…) (FREUD, 1976.p.203)

  • Freud, S. (1976) Notas sobre um caso de neurose obsessiva. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. X, p. 203, (obra original publicada 1909).

O menino ou vai ser um grande homem, ou um grande criminoso! ‘ O paciente acreditava que a cena causara uma impressão permanente tanto em si próprio como em seu pai. Ele disse que seu pai jamais bateu nele de novo; e também atribuiu a essa experiência parte da mudança que ocorreu em seu próprio caráter. A partir daquela época, tornou-se um covarde [ver em [1]], por medo da violência de sua própria raiva. (FREUD, 1976.p.208)

  • Freud, S. (1976) Notas sobre um caso de neurose obsessiva. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. X, p. 159-317, (obra original publicada 1909).

Contudo, as suas relações com seu pai eram dominadas por uma idêntica divisão de sentimento, conforme vimos a partir da tradução de seus pensamentos obsessivos; e seu pai também deve ter dado motivo para hostilidade em sua infância, como de fato fomos capazes de constatar com uma certeza quase completa. Sua atitude perante a dama – uma combinação de ternura e hostilidade – em sua maior parte era da alçada de seu conhecimento consciente; no máximo ele se equivocou quanto ao grau e à violência de seus sentimentos negativos. (FREUD, 1976.p.238)

  • Freud, S. (1976) Notas sobre um caso de neurose obsessiva. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, vol. X, p. 159-317, (Obra original publicada 1909).

Os incidentes de observação de relações sexuais entre os pais em idade muito precoce (quer sejam verdadeiras lembranças, ou fantasias) não são, de fato, nenhuma raridade em análises de neuróticos. Possivelmente não são menos frequentes entre aqueles que não são neuróticos. Possivelmente fazem parte do depósito regular – consciente ou inconsciente – de suas lembranças. Mas sempre que consegui desentranhar, por meio da análise, uma cena dessa natureza, ela mostrou a mesma peculiaridade, que nos surpreendeu, também, com o paciente em questão: relacionava-se com um coitus a tergo, o qual, por si, oferece ao espectador a possibilidade de examinar os genitais. Certamente não há mais necessidade de duvidar que estamos lidando apenas com uma fantasia, que nasceu talvez da observação de relações sexuais de animais. E mais ainda: sugeri que minha descrição da ‘cena primária’ ficou incompleta, porque reservei para um momento posterior o relato do modo pelo qual o menino interrompeu a relação entre os pais. Devo acrescentar agora que essa forma de interrupção é sempre a mesma, em todos os casos (Freud, 1996e, p.69).

  • Freud, S. (1996e). História de uma Neurose Infantil. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). .Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 17, pp. 15-129). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1918).

Teria sido impossível dar uma visão clara das fantasias infantis de espancamento, se não me houvesse limitado, exceto em uma ou duas relações, à situação feminina. Recapitularei rapidamente as minhas conclusões. A fantasia de espancamento da menina passa por três fases, das quais a primeira e a terceira são lembradas conscientemente, ao passo que a do meio permanece inconsciente. As duas fases conscientes parecem ser sádicas, enquanto a segunda, a inconsciente, é indubitavelmente de natureza masoquista; seu conteúdo consiste em ser a criança espancada pelo pai, e faz-se acompanhar de uma carga libidinal e de um sentimento de culpa. Na primeira e na terceira fantasia, a criança em que estão batendo é sempre alguém que não seja aquela que a imagina; na fase intermediária, é sempre a própria criança; na terceira fase, são quase sempre meninos que estão sendo espancados. A pessoa que bate é, a partir da primeira, o pai, substituído depois por alguém escolhido na categoria paternal. A fantasia inconsciente da fase média tinha primariamente um significado genital e evoluiu, por meio da repressão e da regressão, de um desejo incestuoso de ser amada pelo pai. Um outro fato, ainda que pareça não ter ligação mais estreita com o resto, é que entre a segunda e a terceira fase as meninas mudam de sexo, pois nas fantasias da última fase transformam-se em meninos (Freud, 1996g, pp. 210-211).

  • Freud, S. (1996g). ‘Uma Criança é Espancada’ uma Contribuição ao Estudo da Origem das Perversões Sexuais. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 17, pp. 195-220). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1919).

Na fantasia masculina – como a chamarei sumariamente e, espero, sem qualquer risco de ser mal interpretado – o ser espancado também significa ser amado (num sentido genital), embora rebaixado a um nível inferior, por causa da regressão. De maneira que a forma original da fantasia masculina inconsciente não era a que demos provisoriamente até aqui, ‘Estou sendo espancado pelo meu pai’, mas, antes, ‘Sou amado pelo meu pai‘. A fantasia foi transformada, por processos que nos são familiares, em fantasia consciente: ‘Estou sendo espancado pela minha mãe‘. A fantasia de espancamento do menino é, portanto, passiva desde o começo e deriva de uma atitude feminina em relação ao pai. Corresponde ao complexo de Édipo tal como a fantasia feminina (a da menina); apenas a relação paralela que esperávamos encontrar entre as duas, deve ser abandonada em favor de um caráter comum de outra natureza. Em ambos os casos, a fantasia de espancamento tem sua origem numa ligação incestuosa com o pai(Freud, 1996g, p. 213).

  • Freud, S. (1996g). ‘Uma Criança é Espancada’ uma Contribuição ao Estudo da Origem das Perversões Sexuais. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 17, pp. 195-220). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1919).

Em 1913, Otto Rank e Hanns Sachs, num trabalho extremamente interessante, juntaram os resultados conseguidos até então na aplicação da psicanálise às ciências mentais. Os ramos mais facilmente acessíveis dessas ciências parecem ser a mitologia e a história da literatura e da religião. Não se encontrou ainda a fórmula final que nos permita dar um lugar apropriado aos mitos nessa relação. Otto Rank, num grande volume sobre o complexo do incesto (1912), apresentou evidência do surpreendente fato de que a escolha do tema, particularmente nas obras dramáticas, é determinada principalmente pelo âmbito do que a psicanálise denominou de ‘complexo de Édipo’. Elaborando esse tema, com a maior variedade de modificações, distorções e disfarces, o dramaturgo procura ocupar-se das suas próprias e mais pessoais relações com esse tema emocional. É ao tentar dominar o complexo de Édipo – ou seja, a atitude emocional da pessoa em relação à sua família ou, em sentido mais restrito, em relação ao pai e à mãe – que o indivíduo neurótico chega ao pesar, sendo por esse motivo que aquele complexo forma habitualmente o núcleo da neurose. Não se deve a sua importância a qualquer conjunção ininteligível; a ênfase colocada na relação dos filhos com os pais é expressão de fatos biológicos, de que os jovens da raça humana atravessam um longo período de dependência e só lentamente alcançam a maturidade, bem como de que a sua capacidade de amar submete-se a um intrincado curso de desenvolvimento. Por conseguinte, a superação do complexo de Édipo coincide com o modo mais eficiente de dominar a herança arcaica e animal da humanidade. É verdade que essa herança compreende todas as forças que são exigidas no subsequente desenvolvimento cultural do indivíduo, mas primeiro devem elas ser selecionadas e moldadas. Esse legado arcaico não se ajusta à utilização em propósitos da vida social civilizada na forma em que é herdado pelo indivíduo.

Para encontrar o ponto de partida para a concepção psicanalítica da vida religiosa, devemos ir um pouco além. O que é hoje a herança do indivíduo, foi no passado uma nova aquisição, e passou, de uma para a outra, por uma longa série de gerações. Assim, também o complexo de Édipo pode haver tido estádios de desenvolvimento, e o estudo da pré-história pode habilitar-nos a rastreá-los. A investigação sugere que a vida da família humana assumia, naqueles tempos remotos, uma forma muito diferente da que conhecemos hoje. E essa ideia é apoiada por descobertas fundamentadas em observações de raças primitivas contemporâneas. Se o material pré-histórico e etnológico sobre esse assunto é trabalhado psicanaliticamente, chegamos a um resultado inesperadamente preciso, a saber, o de que Deus Pai já uma vez caminhou sobre a terra em forma corporal e exerceu a sua soberania como chefe tribal da horda humana primeva, até que os seus filhos se uniram para matá-lo. Ademais, surge daí que esse crime de liberação e as reações a ele tiveram como resultado o aparecimento dos primeiros laços sociais, das restrições morais básicas e da mais antiga forma de religião, o totemismo. As religiões posteriores, porém, têm também o mesmo conteúdo, e, por um lado, preocupam-se em suprimir os vestígios daquele crime ou em expiá-lo, apresentando outras soluções para a luta entre pai e filhos, ao passo que, por outro lado, não podem evitar repetir uma vez mais a eliminação do pai. Consequentemente, um eco desse evento monstruoso, que obscureceu todo o curso do desenvolvimento humano, encontra-se também nos mitos (Freud, 1996h, pp. 281-282).

  • Freud, S. (1996h). Prefácio a Ritual: Estudos Psicanalíticos de Reik. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 17, pp. 277-282). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1919).

As provas da psicanálise demonstram que quase toda relação emocional íntima entre duas pessoas que perdura por certo tempo – casamento, amizade, as relações entre pais e filhos – contém um sedimento de sentimentos de aversão e hostilidade, o qual só escapa à percepção em consequência da repressão. Isso se acha menos disfarçado nas altercações comuns entre sócios comerciais ou nos resmungos de um subordinado em relação a seu superior. A mesma coisa acontece quando os homens se reúnem em unidades maiores. Cada vez que duas famílias se vinculam por matrimônio, cada uma delas se julga superior ou de melhor nascimento do que a outra (Freud, 1996j, p. 112).

  • Freud, S. (1996j). Psicologia de Grupo e a Análise do Ego. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 18, pp. 81-156). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1921).

O ciúme da segunda camada, o ciúme projetado, deriva-se, tanto nos homens quanto nas mulheres, de sua própria infidelidade concreta na vida real ou de impulsos no sentido dela que sucumbiram à repressão. É fato da experiência cotidiana que a fidelidade, especialmente aquele seu grau exigido pelo matrimônio, só se mantém em face de tentações contínuas. Qualquer pessoa que negue essas tentações em si própria sentirá, não obstante, sua pressão tão fortemente que ficará contente em utilizar um mecanismo inconsciente para mitigar sua situação. Pode obter esse alívio – e, na verdade, a absolvição de sua consciência – se projetar seus próprios impulsos à infidelidade no companheiro a quem deve fidelidade. Esse forte motivo pode então fazer uso do material perceptivo que revela os impulsos inconscientes do mesmo tipo no companheiro e o sujeito pode justificar-se com a reflexão de o outro provavelmente não ser bem melhor que ele próprio (Freud, 1996l, p. 238).

  • Freud, S. (1996l). Alguns Mecanismos Neuróticos no Ciúme, na Paranóia e no Homossexualismo. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 18, pp. 237-250). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1922).

O masoquismo erógeno acompanha a libido por todas as suas fases de desenvolvimento e delas deriva seus revestimentos psíquicos cambiantes. O medo de ser devorado pelo animal totêmico (o pai) origina-se da organização oral primitiva; o desejo de ser espancado pelo pai provém da fase anal-sádica que a segue; a castração, embora seja posteriormente rejeitada, ingressa no conteúdo das fantasias masoquistas como um precipitado do estádio ou organização fálica, e da organização genital final surgem, naturalmente, as situações de ser copulado e de dar nascimento, que são características da feminilidade (Freud, 1996p, p. 182).

  • Freud, S. (1996p). O Problema Econômico do Masoquismo. In J. Strachey (Ed. e Trans.) & J. Salomão (Ed. e Trad.). Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp. 177-202). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1924)