Nesta terceira entrega, nossa proposta de citações segue acompanhando as perguntos que o argumento nos coloca.
Nossa via de acesso à investigação “Começar a se analisar”; nem catálogo, nem análogo, a terceira via… a função de chave!
1- O que leva um sujeito a procurar um analista nestes tempos que correm? Como se iniciam as análises hoje?
“Então chegamos à conclusão de que o estar doente do analisando não pode terminar com o início da sua análise, de que devemos tratar a sua doença não como um assunto histórico, mas como uma potência atual”.
“Nesse caso, o primeiro passo da análise – são célebres as passagens de Freud a esse respeito – é que o sintoma se constitua em sua forma clássica, sem o que não haverá meio de sair dele, porque não haverá meio de falar dele, porque não há como agarrar o sintoma pelas orelhas. O que é a orelha em questão? É o que podemos chamar de o não-assimilado do sintoma, não assimilado pelo sujeito. Para que o sintoma saia do estado de enigma ainda não formulado, o passo a ser dado não é que ele se formule, mas que se desenhe no sujeito uma coisa tal que lhe seja sugerido que há uma causa disso.”
“Uma análise não é uma aventura intelectual, a práxis de uma análise é um sofrimento, é uma queixa, é uma declaração de um ser que quer mudar e quando esses elemntos faltam, uma análise é muito difícil”
2 – Quando começa uma análise?
“Assim como a primeira resistência, também os primeiros sintomas ou os primeiros atos causais dos pacientes podem demandar um interesse especial, denunciando um complexo que domina sua neurose.”
“Trata-se de fazê-los entrar pela porta, que a análise seja um umbral, que haja para eles uma verdadeira demanda. Esta demanda: de quê querem desfazer-se? De um sintoma”
“O síntoma, no sentido estrito, é uma emergência, uma irrupção, uma formação sempre localizada, identificável, não só pelo terapeuta, mas também pelo sujeito que a isola como tal. Quando se trata do síntoma analítico, ao menos depois do começo de sua elaboração em análise, é uma formação que se sente como estrangeira, como um enclave”
3 – Como a clínica do começo de uma análise mudou nos últimos anos?
“A terapia psicanalítica foi criada a partir de e para doentes com incapacidade duradoura de viver, e o seu triunfo é que torna um número satisfatório deles capazes de viver a sua existência de forma duradoura. Então, todo o empenho contra esse sucesso parecerá irrisório.”
“(…) sei o que eu digo é o que não posso dizer. E essa a data marcada pelo fato de Freud haver existido, e de haver introduzido o inconsciente. O inconsciente não quer dizer nada, se não quiser dizer que, diga eu o que disser e onde quer que me posicione, mesmo que me posicione bem, eu não sei o que digo (…)”
“O desaparecimento da vergonha quer dizer que o sujeito cessa de ser representado por um significante que valha […] Talvez não haja melhor definição daquele que se propõe a ser analisante. O mínimo que se pode pedir é que se interesse por sua singularidade que não deve a nada senão a esse S1, ao significante que lhe é próprio.”
4 – Um chamado aos praticantes: Começar a se analisar!
“Contudo, o mérito de nossos trabalhos deve partir do fato de não conter nada que seja aceito com base na autoridade, mas que possa fundamentar-se no resultado de um trabalho laborioso próprio”.
“A dificuldade de ser do psicanalista decorre daquilo que ele encontra como ser do sujeito: a saber, o sintoma. Que o sintoma seja ser-da-verdade, e nisso que todos consentem, por sabermos o que quer dizer psicanalise, não importa o que se faça para embaralhá-la.
(…)
Que esse ser-do-saber tenha que se reduzir a ser apenas o complemento do sintoma, eis o que os horroriza e aquilo que, ao elidi-lo, ele faz funcionar no sentido de um adiamento indefinido do estatuto da psicanalise como científica, entenda-se.
“Portanto, ao analista se coloca a questão de autorizar que o processo analítico tenha lugar para esse paciente. Embora o analista só se autorize de si mesmo, não ocorre o mesmo com o analisante, e aquí, para o analista, está em jogo um ato. Não se alcança com fechar osolhos e deixar fazer. Ele deve admitir, deve sustentar ou recusar a demanda. Há nisso um ato que consiste em formular como Consuma-se o ato analítico. É algo tão grandioso como Faça-se a luz. Isto não significa que a análise seja deixada para o bem de Deus, mas este Consuma-se o ato analítico é um ato fundador.