Caro colega,

Bem vindo aos Eventos Satélites ao VII ENAPOL 2015

As Jornadas do CIEN, NRCEREDA e TyA, acontecerão dia 03 de setembro

  • CIEN e CEREDA :  WTC teatro – piso C – WTC.
  • TYA : espaço Vivaldi – piso C2 – WTC.

As inscrições para os Eventos Satélites se encerraram pelo site.

Mas você poderá se inscrever no WTC, dia 3, a partir das 8:00h.

Ate lá, não perca!!!!!!!!

CIEN

Nossa Jornada Internacional do CIEN terá por tema “Crianças saturadas”. O título já remete ao excesso ao qual muitas crianças e adolescentes encontram-se submetidos na atualidade. Saturados, fartos, saciados, termos que indicam a satisfação, mas levada até o fastio.

Na atualidade podemos constatar que, apesar de as crianças e os adolescentes ganharem novos espaços em diferentes áreas dos saberes e práticas, tais como o Direito, muitas das vezes, no afã de protegê-los, terminam por submetê-los a saberes e práticas que acrescentam um plus, algo a mais. Um exemplo foi o recente e acalorado debate sobre a chamada comida Junk food. Considerada prejudicial para a saúde dos pequenos pelo alto teor de açúcar, sódio e gorduras saturadas, foram objeto de dois Projetos de Lei na Assembleia Legislativa de São Paulo, que pretendiam limitar os horários de veiculação de propagandas de junk food, como também, proibirem a distribuição de brinquedos associados aos alimentos. Porém, além de regular a publicidade, deveriam incluir advertências dirigidas sobre os males da obesidade infantil.

Podemos dizer que as formas de saturação são múltiplas e diversas. As crianças parecem saturadas por saberes, por ofertas, por demandas, por medicamentos, por gadgets e pelas imagens que deles proliferam, numa profusão nunca antes vista. Paradoxalmente, frente a esse excesso, elas encontram-se sozinhas, entediadas e desorientadas. Muitas vezes, as telas e as drogas tornam-se um recurso fácil e imediato frente à angústia, ao mal-estar e à solidão. As crianças e adolescentes, tão solitários quanto desorientados, passam muito tempo na internet e diante das telas, dos games e da televisão. A tela que conecta é a mesma que pode distanciar. Trata-se de uma infância negligenciada, onde as telas passam a se ocupar das crianças, instalando uma relação de dependência que a criança encontrará novamente na adolescência, através da oferta de objetos de todo tipo, por um mercado cada vez mais agressivo e em franca expansão. (LAURENT, E., “A crise do controle da infância” In. Crianças falam! E têm o que dizer, 2013, p. 38).

Assim, a solidão da criança e do adolescente não provém apenas de famílias “desestruturadas”, de situações de carência, de crise ou de doença. Ela se produz na própria relação que a criança estabelece com seus objetos, perturbando, inevitavelmente, o laço com os outros. Aos objetos de satisfação imediata ou objetos de gozo, como dizemos em psicanálise, entre os quais se incluem as telas e as drogas (e também os medicamentos), se agregam diferentes campos de saberes e, inclusive, as demandas sem fim relacionadas ao que pretensamente se deveria esperar de uma criança.

Uma vez mais, a proposta CIEN se coloca no olho deste furacão, assumindo o desafio de abordar tais impasses contemporâneos em espaços institucionais interdisciplinares. Uma prática que, através do dispositivo da conversação, permita produzir interrogações para dar um lugar mais digno aos modos de resposta, sempre únicos, de cada criança ou adolescente. Para que não fiquem reduzidos a meros objetos de consumo e de saberes, e se abra a via de um desejo e de uma invenção própria. O que podemos extrair da prática do CIEN para pensarmos tais questões atuais e seus impasses? O que nos ensinam as crianças e adolescentes através de suas pequenas invenções quando, nas instituições, lhes oferecemos a palavra?

Mais do que respostas, este argumento propõe perguntas para que cada laboratório possa compartilhar e, a partir do trabalho conjunto, transmitir os efeitos de suas experiências, tanto aquelas realizadas no âmbito das conversações com as equipes interdisciplinares, quanto as que se realizam com as crianças e os adolescentes.

Eixos temáticos

  • Crianças e adolescentes saturados por imagens
  • Crianças e adolescentes saturados por saberes e práticas
  • Crianças e adolescentes saturados por drogas lícitas (medicações) e ilícitas
  • Crianças e adolescentes saturados por demandas

CEREDA

Nosso trabalho parte da constatação de que crianças e jovens atualmente estão constantemente munidos de seus computadores, tablets e smartfones, ligados a imagens, mensagens, W-up, twiters, jogos e avatares com os quais se ocupam com tal frequência e naturalidade, que qualquer chamado ou convocação se torna uma interrupção a ser anulada ou evitada. Imagens, sites, conexões capturam a curiosidade e em seu reenvio mantém o sujeito em um labirinto que o afasta da causa do desejo. Muitos jovens privilegiam um campo de preenchimento cujo excesso traz o índice de uma operação que tenta suprimir experiência da falta e a angustia de se ter um corpo, e apresentam-se massacrados pelo retorno da exposição a que estão sujeitos e com dificuldades em interrogar algo disso. Há ainda a submissão e o silêncio do sujeito diante da existência obscena e feroz de um supereu cada vez mais frequente em sites que, por exemplo, orientam e incitam práticas anoréxicas ou que induzem jovens a rituais sexuais perversos, ou de violência e que principalmente os silenciam e isolam. Estes jovens apresentam-se, assim, munidos das imagens de gozo que são as marcas do que encontraram e recortaram de sua imersão num campo virtual que percorrem numa busca solitária. A dimensão de solidão nos sujeitos se encontra mais patente na medida em que aqueles que estão a sua volta também se apresentam tomados com seus gadgets, seja pelo ideal performático ou por seu oposto, o tédio. Deixar o virtual pela realidade encontra cada vez uma dificuldade maior.

Como nos lembra M.Bassols em seu argumento para o ENAPOL intitulado O império das imagens e o gozo do corpo falante: “O poder de penetração das imagens mostra-se, hoje, crescente em uma realidade que admitimos cada vez mais como uma realidade virtual, separada do real impossível de ser representado”. No mundo virtual não habitamos propriamente um corpo, não temos a angústia de ter um corpo. Sustentados na imagem ideal não é o jogo de representações nem o que falta que ordena o jogo com o outro e, além disso, o sujeito é introduzido a uma situação em que a morte é apenas mais um dado e não um limite do homem. Na vida somos ameaçados pela diferença do outro e por sua maneira de ver o mundo. Num mundo onde a morte não é uma finitude, a diferença se apresenta menos ameaçadora, mais confortável. É nisso que se encontra a força do virtual e vemos que quanto mais a tecnologia oferece recursos consistentes e convincentes mais ele é acionado como alternativa de alivio.

Uma grande surpresa para as companhias telefônicas foi os jovens preferirem a mensagem escrita ao telefonema por voz. Para além das explicações mais óbvias e das surpresas estatísticas, vemos letra e imagem se prestarem tanto à devastação quanto servirem de um modo de sustentação a esses jovens sujeitos, ao ocuparem o espaço do que vacila no corpo a corpo em tempos do Outro que não existe. Podemos pensar que isso comporta um corpo falante que pode se apresentar com ou sem o Outro, mas frequentemente invadido, convocado pelas imagens que oscilam em uma função de engano e amparo? Será preciso investigar o uso particular da letra, pois se vemos que a imagem tende à metonímia ou à fixidez escópica que o silêncio redobra, sabemos que a letra enlaça o corpo fazendo borda.

Um dos desafios atuais da psicanalise é discernir e evidenciar o campo que dá lastro ao que a imagem ao mesmo tempo toca e vela: o campo do real. Convidados a falar, muitas vezes os jovens se acham tão tomadas pelos gadgets e imagens, que só podem mostra-los ao analista. Este encontro que convoca a interrogar a imagem, à sair do silêncio, à tomar a palavra pode trabalhar para localizar a estrutura simbólica aí escamoteada e o objeto que descompleta evidenciando o furo, o troumatisme com que eles se defrontam.

Nossa questão gira em torno do que resta do discurso, do fantasma e do sofrimento do sintoma diante do império da imagem. O desafio é extrair e inventar soluções para os impasses que se apresentam. Podemos ainda dizer que se o encontro de um jovem com um analista abre a uma solução, a uma nova operação do sujeito, a extração de um saber do que se apresenta na clinica é também o que coloca a psicanálise como um interlocutor da civilização que se enfrenta com o reino mortífero do Um.

Duas mesas com trabalhos da EBP, da EOL e da NEL, comentados por psicanalistas que se dedicam à clínica com crianças e adolescentes dialogam com uma Conferência sobre este tema que será proferida por Miquel Bassols.

Convidamos todos a virem e participarem deste encontro trazendo suas questões e pontuações.

TyA

No próximo dia 3 de setembro, acontecerá em São Paulo o “Segundo Colóquio Internacional da Rede TyA” . Iremos investigar as adições de nosso tempo que nos remete a um muito além das substâncias lícitas ou ilícitas. Adições no plural indica que não há uma única forma de um sujeito se intoxicar, mas que a modalidade de gozo da atualidade implica que tudo ou qualquer coisa pode vir a se transformar em “droga”, em um deslizar metonímico sem fim: jogo, sexo, internet, celular, facebook, relações…

A clínica das toxicomanias também tem muito a nos ensinar sobre a iteração do gozo solitário que, devastador, assola os corpos. Gozo solitário; gozo do um; captura do gozo via olhar, o que há de novo na clínica das toxicomanias? Vivemos uma época marcada pela toxicomania generalizada? Como a Psicanálise responde aos novos sintomas? Estas e outras questões orientarão nosso II Colóquio.

Os trabalhos a serem selecionados deverão ser coletivos, com no máximo 6.000 caracteres, incluindo espaços, fonte times new roman 12 e deverão ser enviados para mwilma62@gmail.com até o dia 1 de julho de 2015.