Carmen González Táboas

EOL (Bs. As.)

  1. Campo da linguagem: o falo-semblante é um padrão de medida dos espelhismos do “para todos”.
  2. A época: se não todos, “então ninguém”; todos iguais.
  3. HáUm, trou-matismo [1] primeiro do gozo a-sexuado.
  4. O Um, “da essência do significante”, é a falha onde nasce o amor. [2]
  5. Função lógica do falo: fazer de lalíngua do Um, linguagem.

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Destaco a inflexão do Seminário 12: [3] aparece a referência fregeana. [4] “Impelido a falar, o sujeito se imagina Um”, é seu ser de espelhismo. Não sabe que está consagrado a essa identidade que o deixa entregue à falsa infinitude do Um numérico.

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Lacan cita a primeira identificação freudiana: in-corporação, “forma de materialismo radical que remete à essência ausente do corpo”. Quando ela ocorre, ninguém está ali para verificá-la; ali “há algo”; é como dizer “chove”: “há acontecimento, mas não sujeito”.

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Duas vezes, [5] Lacan evoca o Deus vivo (o Entissimum) do medieval Santo Anselmo de Canterbury: “¡Meu Deus,ensina ao meu coração como te achará, onde e como ele tem que buscar-te!” (Proslogium). É que a res extensa é incapaz de receber “a marca divina” ou “a identificação inaugural, perfeitamente concreta”. O Um vem do Outro.

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O próprio Lacan remete ao Seminário A transferência. Ao encontrar sua imagem, a criança se volta e recebe do Outro um signo que ela interioriza, o qual não se confunde com a identificação especular e que efetuou “o apagamento da Coisa“, falha de onde nasce o amor, que se repetirá infatigavelmente nos desfiladeiros da demanda. Estrutura da linguagem, função da fala.

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O sujeito se aliena ao Outro; depende do significante; o significante a menos é a falta que recobre a outra falta, real, anterior, [6] aquela que transtornou a relação com a natureza.

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Lógica da fantasia: giro radical. A alienação [7] exclui a existência do Outro. Se o sujeito invoca, fala de seu desejo. Se se queixa, fala de um desejo que não assume.

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Lógica da fantasia: “Esse lugar do Outro não deve ser buscado em parte alguma senão no corpo”. “Nas cicatrizes do corpo, tegumentares, pedúnculos que se engancham em seus orifícios”, etc. [8] Superfície erógena, topologia insuficiente para abordar o real do sexo.

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ou pior. [9] HáUm. “Não faço uma reflexão do Um”, o apreendi “de uma curiosa vanguarda: Parmênides, Platão”. Que corpo advém do Um, nem pensamento nem quantidade?

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Melhor abandonar as referências fáceis ao corpo erógeno como superfície. [10] Se se tem um corpo sexuado, superfície de inscrição, é porque lhe ex siste o Um (necessário) e o singular e contingente do acontecimento de corpo: nó (RSI: a triplicidade borromeana).

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De outro modo: o gozo sexual toma seu ser da fala, se o Um, “significante não limitado ao seu suporte fonemático”, [11] cavou o furo de cuja borda, litoral entre saber e gozo, se sustenta a imagem: enodamento primeiro.

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No campo de lalíngua, [12] “talvez para alguns”, ela tenha o mesmo efeito que o encontro com uma raia-elétrica; quem a toca, recebe a descarga elétrica e cai duro. Campo magnético de lalíngua. A escrita selvagem do sintoma, [13] contingente e singular, exclui toda psicologia.

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Que um corpo “simbolize” o Outro (corpo) quer dizer que “não se goza de um corpo senão corporificando-o de maneira significante”. [14] É a via do gozo fálico, gozo do sentido oferecido pelos semblantes (uma mulher não está toda aí).

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O Outro-corpo é o corpo atingido pela intrusão do Um caído do Outro. “Se o Um não se apaga, não há vazio que se escreva zero,” [15] nem série, nem resposta ao signo do Outro, nem palavra nem número. Um real: conjunto vazio no Outro, que enodado a um corpo é gozo de lalíngua (nó: triplicidade do Um). [16]


Tradução: Elisa Monteiro

  1. Trou, em francês, furo (buraco).
  2. Lacan, J., O Seminário, livro 20, Mais, ainda.Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985, 2ª edição.
  3. Lacan, J., Seminário 12, Problemas cruciais para a psicanálise, aulas de 3 de março, 12 de maio e 16 de junho de 1965, inédito.
  4. Frege faz do zero o idêntico a si mesmo.
  5. Nos Seminários A identificação e A Lógica da fantasia, inéditos.
  6. Lacan, J., O Seminário, livro 11, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988, pp. 194-195.
  7. Este Outro não é o da dialética de alienação-separação.
  8. Lacan, J.,”A lógica da fantasia. Resumo do Seminário de 1966-1967″.Outros escritos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003, p. 327.
  9. Lacan, J., “… ou pior. Relatório do Seminário de 1971-1972”. Outros escritos, op. cit., p. 547.
  10. Laurent, E., Usos actuales de la clínica, Paidós, Bs.As., 2001, p. 29.
  11. Lacan, J., O Seminário, livro 20, Mais, ainda, op. cit., p. 29.
  12. Lacan, J., Estou falando com as paredes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2011, p. 56.
  13. Lacan, J., Seminário 22, RSI, aula de 21 de Janeiro de 1975,inédito.
  14. Lacan, J., O Seminário, livro 20, Mais, ainda, op. cit., p. 35.
  15. Miller, J.-A., o ser e o Um, aula de 6 de março de 2011, inédito.
  16. Lacan fala de seu nó borromeano após desprender do Um unário, o Uniano.