CITAS
“Sabemos que o amor incipiente com frequência é percebido como o próprio ódio, e que o amor, se se lhe nega satisfação, pode, com facilidade, ser parcialmente convertido em ódio; os poetas nos dizem que nos mais tempestuosos estádios do amor os dois sentimentos opostos podem subsistir lado a lado, por algum tempo, ainda que em rivalidade recíproca. Mas a coexistência crônica de amor e ódio, ambos dirigidos para a mesma pessoa e ambos com o mesmo elevadíssimo grau de intensidade, não pode deixar de assombrar-nos.”
“No entanto, com Lacan, deslizamos do segredo do recalque para o silêncio concernente ao real: mesmo que a pessoa violentada admita sua parcela de responsabilidade por se manter na situação potencialmente produtora de violência, ela, em muitos casos, não pode saber e menos ainda exprimir em palavras a pulsão de morte que a imobiliza impedindo que evite ou saia da parceria violenta”
“Lacan faz um jogo de palavras e diz que todo semblante supõe um sang rouge, mesmo que o recalque. Ao se valer da homofonia entre semblante e sang blanc, Lacan afirma que a verdade do semblante é o sang rouge, ou seja, toda vez que o semblante não consegue mais se sustentar, o que aparece, ali é o sang rouge da violência. É o sang rouge, justamente, dessa violência fundante”
“(…) A contemplação do belo já viria misturada com a ideia de que o objeto vai desaparecer. É uma coisa que vai além da morte das pessoas. É o fim das coisas e, sobretudo, das coisas amadas, das coisas que trazem para o sujeito uma ocasião de gozo”
“Essa torção feita por Lacan, ao incluir na filia o gozo da mulher, faz surgir outro modo de laço que não desconhece a inadequação e mesmo o ódio que o gozo pode suscitar, mas que, no entanto, comporta uma abertura que, por ultrapassar o plano das identificações, torna possível, diferentemente de uma posição segregativa, amar no outro o insuportável de si mesmo”
“Terminaré con una indicación de lo que queda de esto en Lacan. En el marco de sus conferencias sobre el no saber, Bataille destacó la práctica del amok, al que define como una singular crisis de violencia, frecuente entre los malayos, que precipita a la muerte, porque condena a quien la posee al homicidio delirante. El amok es una crisis de violencia casi codificada: en determinado momento el sujeto es capturado por una pasión ardiente, por una exigencia de agarrar un puñal y salir a matar al primero que pasa. Y sabe que su gesto solo tiene una salida, que otro, amenazado, finalmente se defienda y lo mate. El amok es, a su entender, el suicidio más abierto, que se entrega al delirio ilimitado, al delirio infinitamente abierto de la muerte.”
“Assim, se a família na família tinha seu lugar restrito ao espaço privado das parcerias amorosas mais íntimas, foi devido à luta pelos direitos da mulher, da criança e do adolescente que ela passou da esfera doméstica para se tornar assunto público”
“O que interessa a Medeia é o amor”
“O termo devastação, como simétrico em relação ao sintoma, não ocorreu a Lacan por meio de sabe-se lá qual inspiração. Ele veio na sequência de uma construção lógica que pode estar escamoteada aqui ou ali, mas da qual eu disse, ao menos na última vez ̶ o que me parece, por natureza, esclarecer o termo ̶ que é a outra face do amor. A devastação e o amor possuem o mesmo princípio, a saber, o grande A barrado, o não-todo, no sentido do sem limite.
“No homem, em contrapartida, a dialética da demanda e do desejo engendra efeitos sobre os quais convém admirar mais uma vez a segurança com que Freud os situou, nas próprias articulações de que eles decorreram, dentro da categoria de uma degradação (Erniedrigung) específica da vida amorosa”.
“E o que Freud expressa de maneira apressada e provavelmente invertida refere-se, com efeito, a uma degradação que visa, quando se observa de perto, talvez menos a vida amorosa do que um certo cordão perdido, uma crise, que concerne ao objeto”.
“Esse atravessamento da violência em nossas vidas se torna mais visível quando nos acercamos do que a experiência analítica nos dá a ler como manifestações da pulsão de morte nos sonhos, em muitas das demonstrações mais bem-intencionadas de amor familiar e de educação”.