CITAS

A criança, muito antes de alcançada a puberdade, já é capaz da maioria das operações psíquicas da vida amorosa (da ternura, da entrega, do ciúme), e, com bastante frequência, a irrupção desses estados anímicos também se estende às sensações corporais da excitação sexual, de maneira que a criança não pode ficar em dúvida sobre a conexão entre ambas. Em resumo, a criança, muito antes da puberdade, com exceção da capacidade de reprodução, é um ser pronto para o amor, e podemos afirmar que com o ato de “fazer segredo” só a privamos da capacidade de domínio intelectual dessas realizações, para as quais ela está psiquicamente preparada e somaticamente organizada

Sigmund Freud, Sobre o esclarecimento sexual das crianças. In: Amor, sexualidade, feminilidade. Coleção Obras incompletas de Sigmund Freud. Belo Horizonte. Editora Autêntica. 2018. P. 84-85

A defloração não tem apenas uma consequência cultural de atar, de maneira duradoura, a mulher ao homem; ela também desata, contra o homem, uma reação arcaica de hostilidade que pode assumir formas patológicas, exteriorizando-se com bastante frequência no aparecimento de inibições na vida amorosa do casal, e às quais podemos atribuir o fato de que segundos casamentos tantas vezes dão mais certo que os primeiros. O estranho tabu da virgindade, o horror com que, entre os primitivos, o marido evita a defloração, encontram nessa reação hostil sua completa justificativa. Mas é interessante que, como analistas, possamos encontrar mulheres nas quais ambas as reações opostas de sujeição e hostilidade encontraram expressão e permaneceram em íntima conexão recíproca. Há certas mulheres que parecem totalmente em desacordo com seus maridos e que, mesmo assim, só conseguem fazer vãos esforços para deles se separar. Todas as vezes que tentam endereçar seu amor a um outro homem intervém a imagem do primeiro, mesmo que não mais amado, como inibidora. A análise ensina, então, que essas mulheres, de fato, ainda dependem da sujeição ao seu primeiro marido, mas não mais por ternura. Não se liberam deles porque não completaram sua vingança contra eles e, em casos mais acentuados, nem sequer tomaram consciência da sua moção vingativa.

Sigmund Freud, O Tabu da virgindade. In: Amor, sexualidade, feminilidade, Coleção Obras incompletas de Sigmund Freud. Belo Horizonte. Editora Autêntica. 2018. P. 175

Se pudéssemos dizer que uma carta cumpriu seu destino depois de haver desempenhado sua função, a cerimônia da devolução de cartas seria menos aceita para servir de encerramento quando da extinção dos fogos dos festejos do amor

Jacques Lacan, O Seminário sobre a carta roubada. Escritos. Rio de Janeiro. Zahar Editor. 1998. P. 29

Carta de amor ou carta de conspiração, carta de delação ou carta de instrução, carta de intimação ou carta de desolação, só podemos reter dela uma coisa: é que a Rainha não pode levá-la ao conhecimento de seu mestre e senhor

Jacques Lacan, O Seminário sobre a carta roubada. Escritos. Rio de Janeiro. Zahar Editor. 1998. P. 31

Esse próximo, que às vezes temos, e nem que seja apenas para o ato de amor, de tomar em nossos braços. Não estou falando aqui de um amor ideal, mas do ato de fazer amor

Jacques Lacan, O Seminário, livro 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro. Zahar Editor. 1991. P. 241

O psicanalista, de início, teve apenas que escutar o que a histérica dizia.

Quero um homem que saiba fazer amor.

Bom, é sim, o homem se detém aí. Ele se detém nisso – em que ele, de fato, é alguém que saiba. Para fazer amor, pode-se passar e repassar, e sempre tropeçar. Nada é tudo, e vocês podem continuar fazendo suas brincadeirinhas, há uma que não é engraçada, que é a castração

Jacques Lacan, . O Seminário, livro 17: O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed. 1994. P. 193

Do amor, fala-se na análise. Isso se deve, é claro, à posição do analista. Guardada todas as proporções, não se fala mais dele ali do que noutros lugares, já que, afinal, é para isso que serve o amor. Não é o que há de mais prazeroso. Mas, enfim, nesse século, fala-se muito dele., pois há muito poderíamos ter percebido que nem por isso ele tem mais sucesso. Logo, está claro que é falando que fazemos amo

Jacques Lacan, Seminário, livro 19: ...ou pior. Rio de Janeiro. Zahar Editor. 2012. P. 148

Es ella la que detenta la palabra, es decir, la palabra de amor, la palabra de exigencia e incluso, la palabra del capricho materno. La madre es real en ese sentido, pero es preciso todavía que se interese por esa criatura bizarra que es el padre

Éric Laurent, Los objetos de la pasión. Buenos Aires: Tres Haches. s.d. P. 38

En el caso que usted cita, no es exactamente el montaje de Lol. En el caso de Lol Y. Stein, la psicosis se descompensa cuando aquel que hace función de sujeto, que es el semblante de ser de Lol, que es su amante, en lugar de querer hacer el amor con la otra quiere hacerlo con ella. Y, como no hay ninguna significación posible de ello, se abre el abismo de la psicosis

Éric Laurent, Los objetos de la pasión. Buenos Aires: Tres Haches. s.d. P. 62

Seguramente las mujeres no son las únicas en hablar de amor, pero los dos sexos hablan de modo disimétrico

Éric Laurent, Los objetos de la pasión. Buenos Aires: Tres Haches. s.d. P. 120

La vertiente más original del amor lacaniano es, al contrario, que el amor es invención, es decir, elaboración de saber; el amor es un modo de dirigirse al a a partir del Otro del significante. Éste es, en la teoría del amor, el papel de las palabras de amor, de las cartas de amor. Amor es el esfuerzo por dar un nombre propio al a, encontrar el a, en la mirada de una mujer y poder dar a eso, como hizo Dante, un nombre propio y construir alrededor una obra de lenguaje

Jacques-Alain Miller, Lógicas de la vida amorosa. El amor entre repetición y invención. In Conferencias Porteñas Tomo II. Buenos Aires. Paidós. 2009. P. 26

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